Nasceu
no Rio de Janeiro a 1 de setembro de 1863, sendo descendente duma
família de liberais, que no período das lutas civis teve de
emigrar.
Veio
para Portugal e foi educado em Lisboa, indo depois para o Porto,
onde, dedicando-se ao jornalismo, entrou em 1883 para a redacção
do Primeiro de Janeiro. Naquele jornal começou logo a
manifestar dum modo notável as suas brilhantes qualidades literárias,
imprimindo na secção de noticiário a feição toda moderna, e
fazendo da reportagem até aí a cargo de localistas banais, uma secção
cheia de interesse, de pitoresco e de brilho. Depois de permanecer
alguns anos naquela redacção, veio para Lisboa com a ideia de
montar um jornal republicano, e colaborou então no Tempo, Correio
da Noite, e no Dia. O jornal que intentava fundar foi a Republica
portuguesa, onde muito se distinguiu na polémica política
vigorosa contra as instituições, pela veemência da argumentação,
e pela forma artística que dava aos seus artigos, ainda os mais
violentos.
Em
1890, em seguida ao Ultimatum de Inglaterra de 11 de janeiro,
que promoveu em todo o país uma profunda agitação, escreveu com a
sua reconhecida energia uma série de artigos sobre o assunto. A sua
atitude de jornalista envolveu-o naturalmente em alguns processos,
de que lhe resultou ser preso na Relação, e por um desses
processos foi condenado, em 26 de janeiro de 1891, a dez dias de
prisão, sentença que estava ainda cumprindo quando no dia 31 desse
mês rebentou a revolta no Porto. Como a sua atitude na República
Portuguesa fosse de ataque violento, e nalguns artigos apelasse
para a intervenção do exército como o meio mais rápido de vingar
o insulto que a nação recebera de Inglaterra, expiados os dez dias
da sentença, continuou ainda preso na relação, come cúmplice da
revolta e um dos seus principais promotores, sendo como tal julgado
nos conselhos de guerra que funcionaram em Leixões, e condenado a
quatro anos de prisão celular, ou na alternativa, a seis de
degredo. Em 20 de setembro do 1891 embarcou a bordo do transporte Índia,
que estava fundeado em Leixões, sendo conduzido pela polícia à
estação das Devezas, partindo à noite no comboio para Lisboa.
Veio desembarcar na estação dos Olivais, partindo dali num trem
com o comissário de polícia, então o sr. Pedroso de Lima, entre
guardas. Chegando ao Cais dos Soldados passou o preso para um
escaler a vapor do arsenal, guarnecido por marinheiros armados e
comandado por um oficial de marinha. O escaler atracou pouco depois
ao vapor S. Tomé, e cujo comandante o preso foi confiado,
para que ele o entregasse às autoridades de Moçamedes. O vapor
largou ferro no dia 20 de setembro de 1891.
Em
África tentou pôr em prática um plano de evasão, já
antecipadamente estudado, mas falhou essa tentativa, conseguindo,
porém, mais tarde, em 1 de novembro, realizar esse audacioso
projecto, fugindo para Paris, onde chegou, após várias peripécias,
que ele narra no seu curioso livro Trabalhos forçados, a 15
de janeiro de 1892. Levado pelo seu espírito irrequieto e
audacioso, que ainda nos momentos mais graves, se manteve sempre na
mais perfeita serenidade, aventurou-se em fevereiro seguinte, a
entrar em Portugal clandestinamente, estando uns dias no Porto sem a
polícia nada saber. Em setembro do mesmo ano tentou novamente vir
ao Porto, mas dessa vez teve a infelicidade de ser descoberto e
preso numa casa da rua de Santo Ildefonso, onde um amigo íntimo o
recebera. Sendo novamente conduzido para África a cumprir o
degredo, foi encarcerado na fortaleza de S. Miguel, e ali permaneceu
até 1893, regressando então a Portugal, em virtude da amnistia
decretada para os então criminosos políticos da classe civil.
Continuou a viver no Porto, onde sempre foi muito estimado. Os
trabalhos sofridos nem o alquebraram nem o desalentaram, e chegando
a Portugal, publicou em 1893 e 1894 os Panfletos que foram
logo querelados, e em 1897 e 1898, o jornal A Marselhesa, que
igualmente foi querelado e muitas vezes apreendido. Tendo de
responder por vários processos de querela emigrou para Madrid,
explicando os motivos que o levaram a proceder desse modo, redigindo
daquela capital o País, cuja direcção assumiu em 1898,
quando o redactor principal Alves Correia foi obrigado a sair por
causa da enfermidade que, pouco depois, o levou à sepultura. Quando
estava cumprindo sentença em África, foi proposto deputado por
acumulação, reunindo em todo o país uma grande votação.
João
Chagas foi um dos fundadores da Associação dos Jornalistas e
Homens de Letras do Porto, e tem escrito e publicado as seguintes
obras: Diário dum condenado político; Na brecha; De
bond; Crime da Sociedade; desta obra só uma parte lhe
pertence; pois teve de interromper o seu trabalho durante o tempo em
que permaneceu em Madrid, de 1898 a 1899; Trabalhos forçados;
História da Revolta do Porto, tendo por colaborador Manuel
Maria Coelho. Traduziu a Mártir de D'Ennery, primeiramente
publicada em folhetins no Primeiro de Janeiro, e
a prosa da opereta Os Bandidos, de Offenbach, que se
representou no Teatro do Príncipe Real do Porto.
Na
revolta projectada de 28 de janeiro de 1908, que ficou malograda,
também o sr. João Chagas esteve envolvido, o que lhe valeu ser
preso a encarcerada no quartel dos Paulistas, donde saiu depois do
assassínio do rei D. Carlos e do príncipe real D. Luís Filipe, em
1 de fevereiro, e da queda do ministério João Franco. Mais tarde,
pela amnistia concedida aos prisioneiros políticos, ficou
completamente livre, prosseguindo na sua vida de jornalista a de
escritor, sendo um dos membros mais importantes do partido
republicano.