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Ribeiro
da Costa
(António Cândido).
n. 30 de março
de 1852.
f. [ 9 de novembro de 1922
].
Doutor
em direito pela Universidade de Coimbra e lente catedrático da
mesma faculdade, deputado, par do Reino, conselheiro de Estado,
ministro de Estado, procurador geral da Coroa, sócio efectivo da
Academia Real das Ciências, etc.
Nasceu
em Candomil, concelho de Amarante, a 30 de março de 1852.
Matriculou-se
no 1.° ano de direito em 1871, fazendo um curso brilhante, alcançando
as primeiras distinções, doutorando-se em 21 de julho de 1878.
Seguiu também o curso de teologia com distinção. Consagrando-se
ao magistério, foi nomeado lente catedrático em 29 de dezembro de
1881. Leccionou com rara proficiência científica,
tornando-se notáveis as suas prelecções. Vindo para Lisboa,
entrou na política, filiando-se no partido progressista, que tinha
por chefe Anselmo José Braamcamp, de quem era amigo íntimo. Foi
eleito deputado em sucessivas legislaturas, representando círculos
importantes, entre os quais se contava o de Aveiro. A primeira vez
que a sua palavra se fez ouvir na câmara, causou o maior assombro e
deslumbramento. Celebraram-lhe o admirável discurso, não somente
os grandes jornalistas do seu partido, como os mais temidos adversários
políticos.
Diz
um dos seus biógrafos, nos Perfis
contemporâneos,
pág. 74:
«Entrado
no parlamento, sob o peso de enormes responsabilidades, postos
nele os olhos do país, rodeado das esperanças dos seus amigos e
assediado já pelas invejas, quis uma série complicada de
incidentes que a sua estreia parlamentar, anunciada dia a dia, não
pudesse efectuar-se senão depois de esperada por longo prazo,
cheias as galerias da sala pela enorme multidão que afluíra pela
noticia do seu discurso, a regurgitar o recinto dos jornalistas, o
qual era então quase uma lioneira de feras contra o governo, e a
tribuna diplomática a desbordar. Falava Dias Ferreira. António Cândido
pediu a palavra. Inesperadamente, por um preito de admiração,
que só honra o espírito do ilustre jurisconsulto e estadista,
mas que foi então, por muitos, interpretado como um processo
insidioso para embaraçar o novo parlamentar, depois de
engrandecer em palavras quentes e fervorosas os talentos de António
Cândido, e descrever a ansiedade com que era esperado o seu
discurso naquela sala onde deixara de ressoar a voz de José Estêvão,
Dias Ferreira interrompeu a sua oração. António Cândido
pareceu, durante essas palavras, que sucumbia numa síncope, tal
era a palidez do seu rosto, o descorado dos seus lábios, a
tremura das suas mãos. Pois mal se ergueu, transfigurou-se. Como
que uma augusta e calma serenidade lhe transluzia do olhar, da
gentilíssima cabeça, e as primeiras palavras, na sua cadência
dominadora e doce, empolgaram logo, venceram, todo o auditório.
As pouquíssimas frases, a sermo
corporis, na frase dum grande escritor, a linguagem do corpo
que não é toda a eloquência, mas sem a qual não há eloquência,
exercia o seu influxo poderoso. Que assombro e colossal triunfo!
Velhos parlamentares, duros e afeitos aos violentos combates da câmara,
enterneceram-se até às lágrimas ao apertá-lo nos braços. Nos
corredores, nas escadas, muitos que o não conheciam, saudavam-no
com entusiasmo A oposição, pela voz do sr. Hintze Ribeiro,
declarou, como um preito de homenagem, cerrar sobre este discurso
o debate, em que estavam ainda inscritos alguns dos mais notáveis
oradores.»
Desde
então a sua vida parlamentar foi uma série de vitórias. Era um
dos lutadores mais fervorosos e mais apaixonados do partido
progressista, mas abandonou-o em 1888, pouco mais ou menos, por
discordar da marcha que a sua política havia levado, e recusando a
sua cadeira no parlamento. Entregou-se então ao serviço do seu
emprego de ajudante do Procurador-geral da coroa, para que havia
sido anteriormente nomeado, conservando-se então afastado da política.
Datam desse período alguns dos seus mais importantes discursos
literários. Foi então que na Academia Real das Ciências, a que
depois presidiu, proferiu o Elogio Histórico
do rei D. Luís, falecido em outubro de 1889, esculpindo com
amor o perfil do monarca, dedicando à sua memória uma das suas
mais belas e eloquentes homenagens. Publicou por esta época, o seu
primeiro livro, Discursos e Conferencias,
onde reuniu o que andava disperso no Diário
das
Câmaras
e em outras publicações literárias.
Em
1890 reconciliou-se com o seu partido, e quando nesse ano caiu o
ministério regenerador, que já havia sucedido a outros de pouca
estabilidade, por causa do conflito com a Inglaterra, consequências
do ultimato de 11 de janeiro,
organizou-se em outubro um gabinete presidido pelo velho
parlamentar, o general João Crisóstomo de Abreu e Sousa e o sr.
António Cândido foi nomeado ministro do Reino, encarregando-se
também, interinamente, da pasta da Instrução Pública e Belas
Artes. Este ministério durou apenas dez meses, podendo dizer-se,
que naquela conjuntura em que seria difícil sustentar-se qualquer
gabinete, como acontecera aos anteriores, foi o sr. António Cândido,
politicamente, a alma desse ministério. A sua obra de pacificação,
interpondo-se às ambições e aos rancores partidários,
mantendo-se entre os dois grandes grupos monárquicos, regeneradores
e progressistas, permitindo que se olhasse serenamente às crises a
que urgia acudir, essa obra, devida à ponderação do seu espírito
e à autoridade moral do seu carácter, à confiança que a todos
merecia, não teve, pela sua natureza de trabalho lento e íntimo,
os fulgores que deslumbram, mas representa enorme serviço ao país
e à monarquia. Quando rebentou a revolta republicana do Porto, em
31 de janeiro de 1891, o sr. António Cândido, então ministro, foi
quem fez a liquidação dessa revolta, preparada desde muito tempo.
Com energia e firmeza, sem sobressaltos, não ouvindo vozes que lhe
falavam a linguagem do ódio nem se atemorizando com os gritos
aterradores, procedeu serenamente ao apuramento de
responsabilidades. Ao deixar de ser ministro estava extinto o pânico
que passara nas regiões da política,
e a ordem inteiramente restabelecida. O sr.
António Cândido Ribeiro da Costa foi nomeado par do Reino em 1 de
junho de 1891, e em março de 1902, conselheiro de Estado. Em
Coimbra, no seu tempo de estudante, também se distinguiu como
orador sagrado, e nas suas conferências, escutadas sempre com
entusiasmo.
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Conferência
no Ateneu Comercial do Porto em 29 de agosto de 1887 O
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António
Cândido (1852-1922) AR - Assembleia da República
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