Nasceu
na freguesia de S. Bartolomeu do Mar, do concelho de Esposende, a 25
de julho de 1806, faleceu em Sintra a 13 de setembro de 1882. Era
filho de António Rodrigues Sampaio e de Maria de Amorim, lavradores
daquela localidade.
Estudou
primeiras letras com um clérigo da freguesia de Belinho, e gramática
latina com outro clérigo da freguesia das Marinhas. Distinguiu-se
tanto no latim, que muitas vezes substituiu o próprio professor.
Fez exame desta língua no convento dos religiosos carmelitas de
Viana do Castelo e tomou ordens menores em 1821. No ano imediato
estudou filosofia no referido convento, concluindo em 1825, na
cidade de Braga, o então denominado curso de humanidades,
frequentando também as aulas de teologia. De volta à casa paterna,
por não ter ainda idade para poder tomar ordens de sub-diácono,
empregava os seus ócios em ensinar gratuitamente os filhos dos
lavradores das vizinhanças, as primeiras letras e o latim. Como
minorista obteve licença do arcebispo de Braga para pregar, e por
cinco vezes subiu ao púlpito, mas quando havia chegado à idade de
tomar ordens sacras, as autoridades eclesiásticas de Braga não
lhas quiseram conferir, sem que nunca se pudesse averiguar bem a
causa de semelhante procedimento. Talvez fosse, porém, pelas suas
ideias liberais que não tardaram a manifestar-se notavelmente, e
assim, quando em 1828 veio a reacção contra a Carta
Constitucional, outorgada em 1826, e o governo miguelista iniciou as
suas perseguições contra os liberais, Sampaio, apesar dos seus
vinte e dois anos, foi uma das vítimas indicadas. Começou por ser
intimado a fechar a sua aula gratuita, e no dia 1 de novembro desse
ano, estando a ajudar à missa na igreja de S. Bartolomeu, da sua
terra, uma escolta de vinte eum soldados de infantaria n.º 22, que
estava aquartelada em Braga, o foi prender, juntamente com o abade
que celebrava a missa, sendo o abade entregue às autoridades eclesiásticas
do bispado, e o minorista com destino à prisão do Aljube, de
Braga, donde passou ao Aljube do Porto, estando ali preso até 21 de
abril de 1831, sendo então solto por ter a alçada dado o crime já
expiado, ficando, contudo, sujeito à vigilância da policia.
Durante o cativeiro relacionou-se com alguns presos ilustres, de
grande valor intelectual, que expiavam o crime de serem
constitucionais.
No
convívio desses homens se formou o seu espírito. Foi o padre Inácio
José de Macedo, redactor do Velho liberal do Douro, folha
que se publicava no Porto nos anos de 1826 a 1828, que Sampaio se
iniciou no jornalismo. Os seus primeiros artigos foram revistos por
aquele padre liberal e lidos pelos companheiros do cárcere, entre
os quais se contava o dr. Manuel José Ferreira Tinoco, advogado em
Barcelos, que tanto se lhe afeiçoou, que, obtendo ambos a
liberdade, levou em sua companhia António Rodrigues Sampaio para o
seu escritório de advogado, onde o instruiu nas matérias de
direito pátrio, tirocínio jurídico, que mais tarde lhe foi de
grande utilidade. No seu ânimo juvenil e patriótico referviam as
ideias liberais, e a penosa recordação das injustiças contra ele
praticadas e contra os seus companheiros de prisão nos cárceres
dos aljubes de Braga e do Porto, por onde arrastara mais de dois
anos a época mais florente da sua vida, o fez aproveitar o ensejo
que se lhe deparou, quando em 8 de julho do ano de 1832 o exército
liberal veio desembarcar nas praias do Mindelo e marchou triunfante
para o Porto. Sampaio, entusiasmado, correu imediatamente a
alistar-se no regimento de voluntários da rainha, e combateu
denodadamente nas hostes liberais até ao fim da campanha. Pôde então
obter um lugar de guarda da alfândega do Porto, em que se fez
substituir por um serventuário, a quem pagava, para o que alcançou
a devida autorização, por não poder acumular aquele serviço com
os trabalhos jornalísticos, pois havia entrado para a redacção da
Vedeta da Liberdade, folha saída no Porto em 1835, da qual
era proprietário José de Azevedo Gouveia Mendanha, e redactor
principal José António do Carmo Velho de Barbosa, abade de Valbom,
conhecido pelo Padre Vedeta. Sampaio entrara para a redacção
como tradutor das notícias estrangeiras, mas pela saída do abade
de Valbom, foi escolhido para o subsistir no lugar de redactor
principal. António Rodrigues Sampaio alistara-se desde logo no
partido progressista, que contava Passos Manuel entre os seus
caudilhos mais ilustres, e que já então aspirava a uma constituição
política mais larga que a Carta Constitucional.
Quando
essas ideias triunfaram na revolução de setembro de 1836, e que o
partido cartista foi derrubado, o jovem redactor da Vedeta da
Liberdade, não foi esquecido, e logo o novo ministério que se
formou, o nomeou secretario geral do distrito de Bragança, por
decreto de 19 de setembro de 1836. Foi a 27 desse mês e ano que
casou com D. Maria Barbosa Soares de Brito, viúva do capitão de
infantaria n.º 18 João de Sousa Amorim, que estivera durante o
cerco do Porto na serra do Pilar, e viera morrer a Lisboa, resultado
de ferimento grave recebido na sortida das linhas a 10
de outubro de 1833, em que fora combatente voluntário. Não foi a
paixão nem tão pouco o interesse de granjear fortuna, que levou
Sampaio a este enlace, foi simplesmente a gratidão pelos serviços
que ambos lhe haviam prestado, quando estivera preso no Aljube,
prestes a sucumbir a uma pertinaz enfermidade. Esta senhora faleceu
em Lisboa, em 1841. Sampaio conservou-se em Bragança até 1839, ano
em que, sendo ministro Júlio Gomes da Silva Sanches, foi
transferido para Castelo Branco como administrador geral, cargo a
que se deu depois o nome de governador civil, e que ele exerceu com
superior competência e notável energia. Tendo processado a câmara
municipal, que se recusara a cumprir uma resolução do conselho de
distrito, o governo de Lisboa, cedendo a pressões políticas, deu
razão à câmara, e demitiu o administrador geral, nomeando para o
substituir o. próprio presidente da municipalidade, João José Vaz
Preto Geraldes. Esta desforra partidária em que o princípio da
autoridade ficara tão gravemente ofendido, foi firmada pelo
ministro do reino Rodrigo da Fonseca Magalhães. Este estadista,
aniquilando o funcionário, criou o jornalista enérgico e
destemido, que tanto se notabilizou nas lides políticas.
Sampaio
veio para Lisboa em circunstâncias bem difíceis José Estevão de
Magalhães e Mendes Leite fundaram a Revolução
de Setembro em 1810, cujo primeiro numero saiu a 23 de junho
desse ano. José Estevão, que o conhecia do tempo em que colaborara
na Vedeta da Liberdade, o convidou
para a redacção do novo jornal, convite que Sampaio aceitou,
encarregando-se do noticiário e das notícias estrangeiras. Sendo,
porém, reconhecido no moço jornalista um talento superior,
vigoroso e enérgico, lhe entregaram completamente o jornal em 1842.
Desde então ficou conhecido pelo Sampaio
da Revolução, cognome decerto muito honroso para o notável
jornalista. Entrava-se num período terrível de encarniçada luta.
O governo continuava no caminho da restauração da Carta
Constitucional, que a imprensa liberal combatia tenazmente. As
perseguições começaram com as maiores violências; a lei contra a
imprensa era feroz; Costa Cabral, chefe do partido cartista, inflexível
e teimoso, não recuava diante de nenhum obstáculo. Quando em 1841
se deu o pronunciamento de Torres Novas e a capitulação de
Almeida, José Estevão, que se comprometera altamente teve de
emigrar, e Sampaio ficou sendo o redactor principal da Revolução
de Setembro, conservando sempre a autoridade e prestígio, que o
partido setembrista desde o princípio lhe reconhecera. O que
sobretudo devia dar grande glória e fama ao audacioso e terrível
caudilho, foi a luta travada entre ele e o governador civil José
Bernardo da Silva Cabral, que pretendia obstar à publicação do
jornal. Apesar do apertado das ordens, e da intimação feita, em
1844, à imprensa para que de novo se habilitasse, a que Sampaio se
recusou, a Revolução de
Setembro não deixou de sair. Os distribuidores foram presos, a
tipografia foi sequestrada, as portas fechadas e seladas, e o jornal
continuou sempre a publicar-se, sendo impresso em tipografia
clandestina. A polícia, apesar das suas fortes vigilâncias e contínuas
pesquisas, nada conseguia descobrir. Durante onze meses e quatro
dias ninguém pôde saber onde se imprimia e se compunha o jornal,
nem onde se poderia encontrar os seus redactores. O ministro dos
estrangeiros, conde de Castro, proibiu expressamente o correio de
expedir o jornal para as províncias, ele, porém, continuava a
aparecer em todas elas, como se o vento ou alguma força misteriosa
o levasse. Afinal, os tribunais judiciais resolveram o caso a favor
da Revolução de Setembro, que
desde então deixou de ser publicada clandestinamente. António
Rodrigues Sampaio foi considerado o primeiro escritor político do
país, mas começou também para ele o período da maior agitação
e de toda a casta de provações, chegando a ser encerrado no
Limoeiro em 1846, sendo dali transferido para bordo da fragata Duquesa
de Bragança, até que poucos dias depois, tendo caldo o governo
cabralista, e sendo chamado a organizar gabinete o duque de Palmela,
foi posto em liberdade, oferecendo-se-lhe o lugar de secretário do
governo civil de Lisboa, emprego que recusou, por lealdade com os
seus amigos políticos. Dando-se em 6 de outubro desse ano o golpe
de estado, foi Saldanha encarregado de formar ministério, e o novo
governo receando a guerra implacável de Sampaio, ordenou a sua
captura, mas o intemerato jornalista havia-se prevenido a tempo, e
homiziara-se.
Surgiu
então o Espectro, que
começou a publicar-se em 16 de dezembro de 1846, durando até 13 de
julho de 1847. Anteriormente, também havia aparecido, como seu
precursor, o Eco
de Santarém,
de que saíram apenas seis números, redigido também por
Sampaio. O Espectro
era uma pequena folha no formato de quarto, e de quatro páginas,
o mais revolucionário e o mais bem escrito jornal, que por aqueles
tempos se publicava, e clandestinamente, tornando-se lendário o seu
redactor pelas circunstâncias extraordinárias e quase misteriosas
que acompanhavam o aparecimento e distribuição do jornal, e,
sobretudo, pelo empenho do governo em colher ás mãos o implacável
inimigo, que em cada número do fatídico periódico, lhe alheava
muitas adesões e levantava novas simpatias a favor do homem que
tanto expunha a sua cabeça por causa da liberdade política dos
seus concidadãos. Na verdade, era inconcebível a forma como o Espectro
se distribuía em Lisboa e nas províncias, chegando a ser
conhecido fora de Portugal; os ministros encontravam-no em sua casa
e nas secretarias, ou o recebiam em carta pelo correio; nos teatros,
nos cafés, nas ruas, nos passeios, mãos invisíveis o espalhavam
com profusão, sem que ninguém pudesse descortinar a sua origem.
Todas as noites mudava de tipografia, o redactor era perseguido,
pela polícia, mas arrostando a prisão e os rigores do poder, não
desanimava no seu vigoroso ataque. Escrito numa linguagem violenta e
agressiva, o Espectro foi o demolidor
terrível da tirania, que então pesava sobre a nação. Terminada a
guerra civil com a convenção de Gramido, em 30 de junho de 1847,
Sampaio voltou a ocupar o seu lugar na Revolução
de Setembro, onde sempre se conservou até falecer. Nesse jornal
fez a mais vigorosa oposição ao governo, no qual não devia entrar
o conde de Tomar, nem à sua família, nem os. seus partidários
mais notáveis, como havia sido deliberado pelos gabinetes
estrangeiros, sob cuja tutela tinham sujeitado o país. A intervenção
estrangeira pretendia intrometer-se na nossa vida política, a ponto
de não permitir a entrada no poder a diversas individualidades.
Esta proibição, porém, não teve seguimento, e aquietados os ânimos,
o conde de Tomar voltou ainda ao governo. Novas dificuldades
surgiram, e com elas as medidas repressivas, especialmente contra a
imprensa, que pela célebre lei
das rolhas não podia comentar os acontecimentos. Deram-se então
conflitos entre o marechal Saldanha e o conde de Tomar, dos quais
resultou ser o marechal despedido de mordomo-mor do Paço. Esta
provocação foi fatal ao governo. O ilustre militar procurou
vingar-se, e indo para a província organizou forças com que entrou
triunfante em Lisboa a 15 do maio de 1851.
O
partido cabralista estava para sempre aniquilado pelo movimento da
Regeneração, que Sampaio auxiliou energicamente, passando então a
ser um dos mais dedicados e mais prestimosos caudilhos do partido
regenerador. Em 1851 Lisboa o elegeu seu deputado, sendo reeleito em
quase todas as legislaturas até 1858, ora por Lisboa, ora por
outros círculos do reino, e até pela Índia. Por questões de
imprensa teve três duelos: o primeiro, em 1843, com o barão do Rio
Zêzere, ainda tenente-coronel de caçadores, havendo composição
acordada entre as respectivas testemunhas; o segundo, em 1845, com o
capitão de infantaria n.º 7, Aires Gabriel Aflalo, por causa dum
artigo publicado na Revolução
de Setembro, acerca da segurança pública; o terceiro com Santana
de Vasconcelos redactor do Português,
também por causa dum artigo inserto na Revolução.
Neste duelo não se pôde evitar o encontro pelas armas, que se
realizou na manhã de 13 de Setembro de 1851 no Campo Grande. O
adversário de Sampaio ficou ferido, e o combate cessou
imediatamente. Por decreto de 26 de setembro de 1859 foi António
Rodrigues Sampaio despachado conselheiro do Tribunal de Contas,
sendo presidente de ministros o duque da Terceira, lugar que lhe
fora já oferecido em 20 de outubro de 1857 pelos seus adversários
políticos, e que ele rejeitara. Também foi eleito pela Câmara Municipal
de Lisboa, em 1865, na vereação que foi dissolvida em 1868 por
ocasião do movimento da Janeirinha,
não chegando a tomar posse do lugar para que fora escolhido.
Para as combinações ministeriais regeneradoras é que o seu nome
ficava sempre excluído, alegando-se que o homem que tão cruelmente
ferira D. Maria II, não podia ser ministro dos seus filhos. Em
1866, Joaquim António de Aguiar parece que chegou a indicar o seu,
mas el-rei D. Luís rejeitou-o. A este respeito, escreveu Sampaio
uma longa carta ao chefe do partido regenerador, em que mostrando-se
desprendido de todas as ambições, se queixava, contudo, da proscrição
a que o seu partido o condenava, exactamente por causa dele lhe ter
prestado os mais brilhantes serviços, e de ter mostrado coragem o
intrepidez, quando os outros fraquejavam. Sampaio continuou sempre
fiel ao partido regenerador, e em 1867 tornou a ser eleito deputado
por Lisboa, e exercia as funções de presidente da câmara
electiva, quando se deu o movimento de 19 de maio de 1870 promovido
pelo marechal Saldanha.
Então
é que pela primeira vez subiu aos conselhos da coroa, fazendo parte
do ministério organizado pelo marechal, encarregando-se da pasta do
Reino. A sua gerência durou apenas doze dias, principiando a 26 de
maio e terminando a 7 de junho, abandonando então o cargo por não
concordar com a direcção que Saldanha pretendia dar aos negócios
de estado, exercendo a ditadura que lhe repugnava e aos princípios
liberais mais avançados, que sempre defendera. Sampaio, sendo
presidente da câmara dos deputados, não chegou, por falta de
tempo, a manifestar as suas aptidões para o cargo de ministro. Em
13 de setembro de 1871, sendo chamado ao poder o partido regenerador
com a presidência de Fontes Pereira de Melo, tornou Sampaio a ser
ministro do reino, conservando-se no ministério até 5 de março de
1877. Como ministro não teve o prestígio, e sobretudo a energia do
jornalista, mas manifestou sempre as mais liberais tendências, e um
grande zelo pelo desenvolvimento da instrução e pela manutenção
das boas regras administrativas. Foi nesta segunda vez que esteve no
ministério, que tentou iniciar as reformas que advogara como sócio
e presidente do Centro
Promotor dos melhoramentos das classes laboriosas, apresentando
o primeiro projecto de lei sobre a reforma da instrução primaria,
projecto que não chegou a discutir-se. Sampaio foi presidente
dessa associação por mais de 6 anos, durante os quais não
descansou na propaganda útil dos princípios associativos,
auxiliado por esses caudilhos fogosos e extremos que apareceram por
esse tempo na arena política, os quais todos ali foram
preleccionar, segundo as suas aptidões científicas. Depois, em 29
de janeiro de 1878, entrou mais uma vez para a pasta do reino, no
ministério presidido por Fontes Pereira de Melo, conservando-se até
1 de junho de 1879. Já, a esse tempo tinha assento na câmara
hereditária como par do reino. Desta vez conseguiu fazer passar em
ambas as casas do parlamento duas leis importantes, a da reforma da
instrução primária, com a sanção de 2 de maio de 1878, e o novo
código administrativo, que também em 6 do referido mês foi
convertido em lei. Em 1881, tendo-se demitido o ministério
progressista, e não querendo Fontes Pereira de Mello assumir nessa
ocasião a responsabilidade franca e aberta do poder, foi António
Rodrigues Sampaio chamado a organizar gabinete, recebendo a presidência
do conselho, ficando também com a pasta do reino a seu cargo. Este
ministério começou a funcionar em 25 de março, indo em 11 de novembro
do mesmo ano de 1881 Fontes Pereira de Melo substituir Rodrigues
Sampaio, que se retirou então à vida particular, para continuar a
exercer o seu lugar de conselheiro no Tribunal de Contas. Já por
mais duma vez tivera vários ataques que tinham posto em risco a sua
existência, mas em setembro de 1882, estando em Sintra, sofreu um
abalo mais forte, vindo a morrer no dia seguinte, vítima de uma
pneumonia adinâmica. Em 1880, quando se realizou a comemoração do
3.° centenário da morte do grande poeta Luís de Camões, presidiu
à solene sessão inaugural da Associação dos Jornalistas e
Escritores Portugueses, que então se fundara, cuja sessão se
realizou no dia 10 de junho, sendo Sampaio eleito presidente honorário.
Diz
um dos seus biógrafos:
«Sampaio
era duma bondade inesgotável e duma grandeza de alma sem igual; a
lhaneza do seu trato manifestava-a ele tanto na vida intima e dos
amigos, como nas reuniões escolares a que nunca faltou quando era
ministro, porque Sampaio sentia-se bem quando estava no meio do
povo que amava entranhadamente. O seu verdadeiro elogio fê-lo o
povo de Lisboa no dia do seu enterramento, concorrendo a população
quase toda ao Cemitério dos Prazeres onde foi inumado, e a esse
elogio se associaram bizarramente todos os partidos políticos,
que depondo as armas, tristemente se enfileiraram com o partido
regenerador, prestando homenagem ao último herói dessa geração
de fortes que auxiliaram a implantação do sistema liberal no país.
E a sua maior e mais pura glória consiste na confissão espontânea
dos seus adversários, de que António Rodrigues Sampaio morreu
sem inimigos e pobre, porque fez bem a muitos e suavizou muitos
infortúnios, pelo que teve a desgraça fatal de criar também
algumas ingratos.»
Sampaio
fizera, parece que em 1867. uma viagem na Europa, e escrevera para a
Revolução de Setembro umas
cartas admiráveis, que infelizmente não foram coleccionadas em
livro.
No
Ocidente,
de 1882, está publicada a sua biografia, escrita por Eduardo Coelho. Também se encontram artigos biográficos na Gazeta
Comercial,
de 14 e 15 de Setembro de 1881, escritos pelo dr. Alexandre
Ferreira. Teixeira de Vasconcelos escreveu três artigos: o primeiro
com o titulo Les
Contemporains, Galerie portugaise: Antonio Rodrigues Sampaio,
journaliste, Paris, 1858; a segunda: Livros
para o povo – O Sampaio da Revolução de Setembro, Paris,
1859; a terceira, inserta na Revista
Contemporânea,
tomo III, 1861-1862, de pág. 609 a 617, precedida de retrato.
Em 1906 comemorou-se o centenário do nascimento do notável e intrépido
jornalista. O Ocidente
dedicou-lhe o seu n.º 993, publicado em 30 de julho de 1906.
Alguns filhos de Esposende, em consagração da sua memória,
projectaram erguer-lhe um monumento no largo principal da vila,
denominado Largo Rodrigues
Sampaio, nomeando-se uma comissão executiva para esse fim. No
Ocidente citado, vem a gravura do projecto do monumento, elaborado pelo
professor Manuel José Gonçalves Viana, sendo encarregado de
modelar o busto o escultor bem conhecido José Rodrigues Moreira
Rato Júnior.