O
tabaco é uma planta que pode atingir 2 m. de altura, cujas folhas
medem até sessenta e setenta centímetros de comprimento; as flores
dispostas em cachos ou em panículas, são vermelhas, amarelas ou
brancas. Certas espécies constituem belas plantas ornamentais:
tabaco branco cheiroso de grandes flores, de perfumaria muito suave;
tabaco de flores compridas, cuja corola é primeiro branca,
tornando se purpúrea; tabaco gigante, notável pela sua
abundante e soberba fluorescência; tabaco tormentoso, tabaco de
folhas de wigandia, etc. As suas espécies comerciais mais
importantes são a nicociana tabacum e a nicociana rustica.
Chama-se vulgarmente erva-santa.
Sabe-se
que o tabaco é de origem americana; no entretanto, há escritores
como Lotario Becker, que pretendem que seja uma planta asiática, e
que tenha podido ser levada em tempos muito remotos para o Novo
Continente. Becker demonstra que na Pérsia, por exemplo,
cultivou-se e fumou-se uma ou talvez mais espécies de tabaco, muito
antes da descoberta da América, Outros supõem que o tabaco é uma
erva africana, baseando-se em que não é crível que este vegetal
pudesse generalizar-se tanto em todo aquele continente, e
enraizar-se em usos tão diferentes nos costumes dos povos depois do
descobrimento da América. Alguns viajantes da Austrália, com
iguais argumentos, sustentam que o tabaco é oriundo do norte
daquele continente, e citam em seu favor as comunicações de Cook,
Gregory, e outros, sobre plantas narcóticas que viram mascar, fumar
ou sorver em forma de pó. Mas também é certo, que em parte alguma
se menciona, que o tabaco existisse no velho mundo antes do
descobrimento da América, o que leva a crer que seja esta
efectivamente a sua verdadeira pátria.
Cristóvão
Colombo, em 1492, abordou a ilha de S. Salvador, e fê-la reconhecer
por Luís de Torres e Rodrigo de Jerez, os quais notaram, nas
margens do rio Canau, que os habitantes de ambos os sexos fumavam
por meio dum instrumento, denominado pelos indígenas tabacos,
composto dum pequeno tubo, dividido em duas partes, de diferente
calibre; introduziam a mais estreita na boca para absorver o fumo; e
a mais larga servia para conter folhas secas de cohiba, nome dado
pelos naturais da ilha Guanahani (S. Salvador) à nicotina. A
maioria, porém, desta pobre gente substituía o tubo pelas próprias
folhas enroladas, em guisa de tosco charuto, constituindo os
chamados canudinhos. Segundo alguns, não pertence a Colombo a
descoberta da erva-santa, mas a Grijalva, que dizem tê-la estudado
quando visitou a ilha de Tabago ou Tabasco em 1518, opinião
insustentável ante os factos históricos. A ilha de Tabago foi
reconhecida em 1498 por Colombo e ocupada, em 1632, pelos
holandeses; Fernando Cortez, na viagem à América, viu em Tabasco
os naturais consumirem o tabaco, e em 1518 enviou a Carlos V de
Espanha as sementes que pôde ali obter. No mesmo ano de 1518, o
missionário espanhol Frei Romano Pane enviará da América, para
onde fora em companhia de Colombo, algumas sementes de nicociana, ao
mesmo imperador Carlos V. Hernandez de Toledo, fidalgo e médico
espanhol, trouxe de S. Domingos, em 1559, sementes para Espanha e
Portugal; depois João Nicot, embaixador de Francisco II, de França,
junto à corte de D. Sebastião, de Portugal, no tempo que decorreu
de 1559 a 1561, obteve-as dum flamengo e semeou-as no seu jardim,
reconhecendo nas plantas que vingaram qualidades recomendáveis. Por
este facto remeteu alguns pés para Paris em 1560, com destino a
Catarina de Medicis; daqui vem a chamar-se ao tabaco erva ou pó da
rainha, porque apenas o aproveitava pulverizado. Também se
denominou nicociana ou erva do embaixador, por ter sido Nicot
que o introduziu em França. Nesse tempo era igualmente conhecida
por erva-santa, em virtude das qualidades medicinais que então lhe
atribuíam. Já os índios a supunham remédio (eficaz para a cura
de todas as doenças, pela embriaguez que o habito tornava agradável.
Os
europeus consideravam o tabaco uma verdadeira panaceia; remédio
infalível para as enxaquecas, pneumonia, chagas, gota, raiva e
servindo até como narcotizo, aperitivo, etc. O cardeal de Santa
Cruz, núncio apostólico em Portugal, foi o primeiro que o enviou
para Roma; por esse tempo Afonso de Tarnabon, bispo de Bruges, o
divulgava em França. A planta tomou ainda nessa época, os nomes de
erva-santa Cruz e de Tarnabon, que lhe foram
conferidos em homenagens aos dois prelados. É muito curiosa a história
do tabaco, pelo desenvolvimento extraordinário que tomou desde que
se conheceram as suas muitas propriedades. Hoje cultiva-se em quase
todos os países do mundo. O seu aspecto como as suas qualidades são
muito variáveis segundo os Iugares de produção. A Vuelta Abajo
(ilha de Cuba) fornece as folhas de havano, dum custo muito elevado
por causa do seu aroma delicioso. Sumatra e Java dão folhas muito
finas, de cor clara, utilizadas para a capa dos charutos. O Brasil
(província da Baia) produz bons tabacos para o interior dos
charutos. Os Estados Unidos colhem uma enorme quantidade de tabacos
servindo para o fabrico dos seaferlatis (Kentucky, Maryland,
Ohio, Virginia). A Turquia e a Ásia Menor fornecem folhas de
pequenas dimensões, de cor amarela e dum aroma especial muito
penetrante. No ponto de vista químico, o tabaco é caracterizado
pela presença dum alcalóide especial. a nicotina. O tabaco
aplicava-se primitivamente, em alguns pontos, como simples adorno, e
em outros, como medicina. Parece que o hábito de se fumar foi
introduzido primeiro em Inglaterra, em 1585 por sir Francisco
Drake, que de volta da Virgínia, propagou e ensinou a manipular o
tabaco, segundo o processo dos naturais daquela região. Então
abriu-se a primeira casa de venda para o consumo da planta em França,
e em Espanha supõe-se ser o uso do tabaco de fumo, devido a um
frade espanhol, residente muitos anos na ilha de S. Domingos. O
gosto da substância fornecia grandes proventos aos estados apesar
de se reconhecer que era pernicioso ao organismo.
Parece
que foi no principio do século XVII, pouco mais ou menos, que em
Portugal começou o seu consumo com uma certa importância sempre
crescente, dando origem a um pequeno imposto arbitrado pelo rei,
imposto este, que foi dia a dia aumentando com a gradual progressão
dos lucros, que os comerciantes auferiam. Antes da aclamação de D.
João IV, o contrato do tabaco foi arrematado pelo espaço de 3 anos
na corte de Madrid, por um português em 40$000 reis por ano;
passado esse prazo, Inácio de Azevedo, também português, o
ajustou por 60$000 reis, mas tendo falecido, passou de novo o
contrato ao primeiro. O acrescimento foi subindo de ano para ano, e
em 1640, foi o contrato arrematado por 10.000 cruzados, e em 1674,
por 66.000 cruzados. Do ano de 1675 em diante rendeu o tabaco
500.000 cruzados até um 1 milhão de cruzados, e no anuo de 1698
aumentou o dito contrato a 1 milhão e 600.000 cruzados e finalmente
nos anos de 1707 e 1708 o castelhano D. João António de la Concha
trouxe o contrato do tabaco arrendado por 2 milhões e 200.000
cruzados, em cada ano, não com pequena admiração da prodigiosa química,
com que pó e fumo, em prata e ouro se convertiam. Assim se
conservou algum tempo, para do novo retomar o aumento progressivo e
chegar afinal à importância de 1520 contos anuais, que foi o preço
do contrato que findou em 1864. Tendo sido abolido por lei das
cortes o monopólio do tabaco a contar do 1º de Janeiro de 1865,
foi posto em praça publica o contrato pelo segundo semestre de
1864, e arrematado por uma companhia, juntamente com o edifício,
maquinas e utensílios da fabrica, por 1.410$500 reis. A companhia
havia sido instalada em 1845, por, ordem do governo, no edifício do
antigo convento de Xabregas. Ao princípio foi este monopólio
arrendado sem concorrência. Depois introduziu-se o uso de se dar em
arrematação em praça pública a quem oferecesse maior lanço,
para o que se organizavam companhias de capitalistas.
Acerca
do tabaco, e da sua cultura e manipulação tem-se escrito muito;
mencionaremos: Historia do tabaco, estudos por Vilhena
Barbosa, Arquivo Pitoresco, vol. VIl; Monografia do tabaco,
por Manuel de Sousa da Câmara. Pode ver-se também o Inventário
dos manuscritos da Biblioteca Nacional de Lisboa, fol. 240; 600,
Q 1 35; etc.