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3.º marquês de Távora
3.º marquês de Távora

 

Távora (Francisco de Assis de Távora, 3.º marquês de).

 

n.       7 de outubro de 1703.
f.        13 de janeiro de 1759.

 

Tenente-general e vice-rei da Índia. 

N. a 7 de Outubro de 1703, sendo filho e herdeiro do 2.º conde de Alvor, Bernardo Filipe Nery de Távora, e de sua mulher D. Joana de Lorena. (V. Alvor). Casou em 1718 com D. Leonor de Távora, sua prima, filha de Luís Alvares de Távora, 4.º conde de S. João da Pesqueira, coronel de infantaria e general de batalha, filho do 2.º marquês de Távora e 4.º conde de S. João da Pesqueira, casado com D. Ana de Lorena, filha do duque de Cadaval, D. Nuno Álvares Pereira de Melo. D. Leonor herdara os títulos de seus pais a avós, sendo a 6.ª condessa de S. João da Pesqueira e a 3.ª marquesa de Távora, títulos que também foram concedidos a seu marido. 

Seguindo a carreira militar, o marquês de Távora foi nomeado governador da praça de Chaves, e depois, por D. João V, vice-rei da Índia. Foi este o último vice-rei nomeado por este soberano, e o despacho tem a data de 18 de fevereiro de 1750. A 28 de Março desse ano saiu a barra de Lisboa acompanhado de sua esposa, chegou à Índia a 22 de Setembro, tomando posse do governo que o vice-rei, marquês de Alorna, lhe entregou 5 dias depois. Juntamente com ele fora de Portugal o novo arcebispo D. António Taveira Brum da Silveira. Um ano depois da sua chegada, recebeu-se ali a notícia da morte de D. João V, e o marquês de Távora, depois de mandar celebrar pomposas exéquias em honra do rei falecido, mandou celebrar com grande fausto a aclamação de el-rei D. José, que tão fatal lhe havia de ser e à sua família. O marquês de Távora encontrara os estados da Índia numa época de relativa fluorescência. O seu antecessor, marquês de Alorna, empreendera campanhas bastante felizes contra o Bounsuló e os Mahrattas, e o marquês de Távora seguiu-lhe as pisadas, mandou uma expedição naval contra o pirata Cananja, que infestava os mares próximos de Diu, tomou lhe a fortaleza de Nerbandal e impôs-lhe respeito queimando-lhe os navios que estavam no porto das Galés. Depois declarou guerra ao rei de Sunda, marchou contra ele com uma esquadrilha bastante poderosa, e assumindo o comando das tropas de desembarque, tomou a praça de Piro a as fortalezas de Ximpem e de Conem, e apossando-se também da esquadrilha deste soberano que estava fundeada no rio Carwan. Invadiu depois as províncias de Pondá e de Zambaulim, próximas de Goa, até que o inimigo lhe pediu paz, que o marquês só concedeu depois de obtidas para a coroa portuguesa altíssimas vantagens. 

A 18 de Setembro de 1754 chegava de Portugal o seu sucessor conde de Alva, e o marquês de Távora partiu com sua esposa para Lisboa, onde chegou precedido de grande fama, porque as suas vitorias foram contadas em numerosos folhetos, que exaltavam o seu alto valor. Tudo isto fazia com que o marquês viesse da Índia, cheio de orgulho, e que se julgasse agravado por não receber desde logo todas as recompensas que julgava devidas aos seus serviços. Levaria esse despeito a conspirar contra el-rei? Ninguém pode afirmá-lo, e há quem mesmo suspeite que ele não entrou na conspiração do duque de Aveiro. Muito devoto, confessando-se e comungando com extraordinária frequência, muito adepto dos jesuítas, inimigo acirrado da preponderância que Sebastião José de Carvalho e Melo ia assumindo e das suas tendências políticas de nivelamento, o marquês de Távora era naturalmente considerado pelo futuro marquês de Pombal como um dos chefes da oposição dos fidalgos. Quando no dia 3 de Setembro de 1758 se deu a tentativa de regicídio contra D. José, as suspeitas recaíram logo em primeiro lugar no duque de Aveiro, em segundo lugar no marquês e na marquesa de Távora. Contribuíam para isso várias circunstâncias: o descontentamento do marquês, que, apesar de ter sido, por morte do marquês de Alorna, nomeado general de cavalaria, não se julgava ainda assim suficientemente remunerado, a sua recente reconciliação com o duque de Aveiro, com quem o marquês e a marquesa andavam desavindos, a sua intimidade com os jesuítas e especialmente com o P. Gabriel Malagrida, e até mesmo as relações amorosas que se dizia existirem entre D. José e a sua nora, e de que se supunha que o marquês estaria agravado, tudo concorria para dar vulto a essas suspeitas. O marquês, apenas teve notícia do crime, correu ao Paço a apresentar ao rei os seus protestos de fidelidade, e a declarar-lhe que a sua espada sairia sempre da bainha em serviço do seu régio amo. Sebastião José de Carvalho, porém, que já fizera circular a notícia de que o incómodo de el-rei provinha não de um ferimento, mas duma queda, respondeu-lhe friamente que el-rei teria na mais alta conta os seus protestos, e que nem outra coisa poderia esperar de tão ilustre família dos Távoras. 

Foi no dia 13 de Setembro que se levantou enfim o segredo e que se procedeu à prisão dos suspeitos. O marquês de Távora estava num baile inglês; ao sair do baile soube que havia na cidade grande movimento de tropas, e julgando-se ofendido na sua qualidade de inspector geral da cavalaria por se porem em movimento tropas que estavam debaixo do seu comando sem ser por intermédio seu, dirigiu-se ao Paço a queixar-se da afronta e a perguntar se essa desconsideração envolvia também alguma desconfiança. Sebastião José de Carvalho foi quem o recebeu e lhe disse que depusesse a espada e o bastão, insígnias do seu comando, e se considerasse preso. Obedeceu surpreendido o marquês de Távora, entregou a espada e o bastão a D. Luís da Cunha e ao conde de Soure, e deixou-se conduzir ao pátio dos bichos em Belém, onde já estavam presas outras pessoas da sua família. 

O processo que se seguiu mostrou então à evidência a injustiça com que se perseguiam os Távoras. Só quem os acusou foi o duque de Aveiro, que posto a tormentos os denunciou como conspiradores; mas os próprios criados do duque, que nos tormentos acusaram seu amo, e acusaram até os seus parentes, nem por sombras pensaram em denunciar o marquês de Távora, nem no meio dos mais horrorosos tormentos. A nada se atendeu. Não se tratava unicamente de abater o orgulho duma casa fidalga, porque havia outras mais fidalgas e mais orgulhosas ainda, tratava-se sobretudo de punir uns fidalgos que ousavam mostrar-se descontentes com a assiduidade de el-rei junto duma gentil senhora casada pertencente a esta família. Não se julgava ainda assim que se procurasse a todo o custo implicar os Távoras naquele crime, mas o mais provável é que o rei, na ocasião de receber os ferimentos atribui-se aos Távoras o crime, principalmente se, como se dizia, voltava de casa da jovem marquesa. A suspeita de el-rei faria convergir os inquéritos nesse sentido, e as mais leves indicações foram aproveitadas para se incriminarem os marqueses. Parece ser isto o que se deduz da história do processo com o facto, hoje incontestável, da intervenção directa de el-rei D. José na questão dos Távoras. O tribunal de sangue obedeceu às ordens superiores, e a sentença de 12 de Janeiro de 1759 condenava o marquês de Távora a ser exautorado de todas as honras, dignidades e comendas; a ter as canas das pernas e dos braços partidas, a ser depois rodado, e picarem-se as armas da sua família em todos os sítios onde estivessem, proibindo-se que houvesse mais quem usasse do apelido de Távora. A sentença foi executada, e assim terminou a existência, no meio dos mais horrorosos martírios, o marquês de Távora, um dos mais ilustres vice-reis da Índia na época da decadência.

 

 

 

 

Francisco de Assis Baltazar José António Bernardo Tomás de Távora, 3° conde de Alvor
Genealogy (Geni.com)

 

 

 

 

 

Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume VII, págs. 51-52.

Edição em papel © 1904-1915 João Romano Torres - Editor
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