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Vale (José António do).
n. 20
de outubro de 1845.
f. 20 de fevereiro de 1912.
Artista dramático muito apreciado e
muito popular. Nasceu em Lisboa a 20 de outubro de 1845, onde
também faleceu a 20 de fevereiro de 1912.
Desde muito novo, entusiasmado pelo
teatro, representou pela primeira vez num teatrinho improvisado na
casa de um vizinho da sua família, de apelido Pais. Foi depois
representar como amador um papel de criança no Casamento em
miniatura, na antiga rua dos Condes. Entrou depois para sócio
da Sociedade Regozijo Taliense, onde começou a evidenciar-se como
amador muito hábil e com as maiores aptidões para a cena. Como
ator, estreou-se no antigo teatro de Variedades na comédia em 1
ato, de Parizini; Um pároco virtuoso, em que fazia com muita
graça um pregoeiro de leilões. Chegou a ir a Setúbal escriturado
por uma companhia. Passando depois ao Ginásio, debutou na comédia
em 3 atos Pródigos e económicos, e na comédia num ato A
Tia Ana de Viana, agradando imenso, sendo bem recebido do
público, de que mais tarde se tornou o seu ator predileto. Vale
caminhou a passos agigantados, achando por fortuna, um bom protetor
no grande ator Taborda, que muito se lhe afeiçoou, e um ensaiador
competentíssimo, que muitos anos se conservou no Ginásio, Romão
António Martins. Conservou-se muito tempo no Ginásio, que se
tornou o verdadeiro teatro das suas glórias artísticas, ao lado de
Taborda, que mais tarde ficou substituindo, por assim dizer quando
aquele artista principiou a afastar-se do palco, por se sentir
cansado e doente.
Foi ao Brasil e representou no Rio de
Janeiro, no teatro de S. Luiz, de que era empresário Furtado
Coelho, nas comédias O Mestre Jerónimo e Quem o feio ama.
Agradou imenso, recebendo fartos aplausos, ganhando logo as maiores
simpatias. Obteve um sucesso no papel de Vasco da mágica A Pera
de Satanás. Não tardou, que se tornasse empresário, e tanto
se insinuou no meio teatral, que era ele quem dava leis a todos os
teatros do Rio de Janeiro. Foi ele quem levou para ali a atriz Ana
Cardoso, os atores Silva Pereira, Silveira e outros. Percorreu com a
sua companhia todo o Brasil, estando em S. Paulo, Santos, Campinas,
Rio Grande do Sul, etc., sendo sempre muito aplaudido. Estreou no
Brasil o género dramático, representando o Paralítico, o Centenário,
e a Criança de 90 anos. Chegou-lhe depois a hora da
adversidade, o que ordinariamente sucede a todos os empresários, e
Vale resolveu voltar a Lisboa.
Esteve no Príncipe Real, hoje Apolo,
numa empresa de Sousa Bastos, onde agradou muito na Revista de
1879, no Capitão maldito, e noutras peças Foi daqui
para o Ginásio, onde então ainda mais se distinguiu a sua
competência artística. Vale, no seu vastíssimo repertório, criou
uma infinidade de tipos, qual deles o mais jocoso, o mais cómico, o
mais hilariante. Desse repertório mencionaremos algumas peças em
que mais se glorificou, como no Comissário de polícia, O
primeiro marido da França, Em boa hora o diga, A
Madrinha de Charley, As Noivas de Eneias, O Filho da
Carolina, Anastácia & C.ª, O Assassino de
Macário, O sr. Governador, Magina ou o dó do peito,
etc. Por desinteligências com a empresa, saiu do Ginásio, e tomou
parte em várias sociedades artísticas nos teatros da Trindade, D.
Amélia, hoje República, Avenida e Rua dos Condes, sendo neste
também ator e ensaiador.
Com o reportório de Gervásio Lobato
e D. João da Câmara teve brilhantes épocas Nas suas festas
artísticas, eram disputados os bilhetes, que não chegavam para
satisfazer todos os pedidos, vendo-se, por isso obrigado um ano a
realizar a sua festa no teatro de S. Carlos, em abril de 1893, por
ser aquele teatro de muito maiores dimensões que o Ginásio, e teve
a satisfação de ver aquela sala vastíssima com uma enchente
enorme, não se achando vago um único lugar. Nos últimos anos
voltou para o Ginásio, e tendo deixado de ser empresário, o bem
conhecido Pinto, que conservara a sua empresa por mais de vinte
anos, Vale tomou aquele encargo, mas não foi feliz. A saúde
também começou a faltar-lhe. Uma doença na língua foi
sucessivamente agravando-se, chegando a representar, sem quase se
perceber o que ele dizia, apesar dos seus esforços, o que muito o
magoava. Apoderou-se dele uma grande tristeza. Deixando a empresa,
não deixou contudo, o seu querido Ginásio, onde ia todos os dias e
todas as noites, até que na ultima noite foi em braços para casa,
falecendo poucos dias depois.
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