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Vieira
(padre António).
n. 6
de fevereiro de 1608.
f. 18 de julho de 1697.
Um
dos homens mais notáveis de Portugal, um dos mestres da nossa língua
um dos primeiros pregadores do seu tempo, um homem cuja inteligência
vastíssima abrangia todos os assuntos e resplandecia em todos os
campos.
Nasceu
em Lisboa a 6 de fevereiro de 1608, sendo baptizado no dia 15 desse
mês na sé metropolitana da mesma cidade; faleceu na Baía a 18 de
julho de 1697. Era filho de Cristóvão Vieira Ravasco, fidalgo de
nobre ascendência, e de D. Maria de Azevedo.
Nos
fins de 1615 partiu com a sua família para a Baía, não se sabe
bem, porque motivo, supondo com grande fundamento João Francisco
Lisboa que foi por seu pai ter sido nomeado secretário do governo
da Baía, lugar que efectivamente por muito tempo exerceu. A 20 de janeiro de 1616 iam naufragando nos baixos da Paraíba, e quase
milagrosamente se salvaram. Ainda depois teve António Vieira uma
gravíssima doença, de que escapou para glória do seu nome e da
sua pátria, que tanto havia de ilustrar com o seu maravilhoso
engenho.
Começou
a estudar no colégio da Companhia de Jesus, mostrando, contudo, no
princípio dificuldades em aprender. É de crer que os padres jesuítas,
vendo o grande talento que o seu juvenil discípulo manifestava,
procurassem o mais possível, como sempre faziam, atrai-lo ao seu grémio.
Diz o próprio padre António Vieira, que sentiu uma grande vocação
para a vida religiosa numa tarde de março de 1623, quando estava
ouvindo o padre Manuel do Carmo pregar, fazendo uma descrição do
inferno. É bem possível, que efectivamente, sentindo desabrochar
em si próprio o talento oratório, e percebendo que só no púlpito
o poderia manifestar dum modo prestigioso, se sentisse arrastado
para a carreira que tais triunfos lhe proporcionaria. Um dia
manifestou a seus pais a vontade que tinha de professar, e eles
opuseram-se terminantemente. Procuraram por todas as formas
dissuadi-lo desse desejo, mostrando lhe todos os seus
inconvenientes, e tentando chamá-lo à razão, mas nada
conseguiram. Cristóvão Ravasco manteve-se firme na recusa, e o
filho esperou que o tempo o tornasse menos intransigente. Como assim
não acontecesse, na noite de 5 de maio de 1623 fugiu da casa
paterna e foi para colégio dos jesuítas. Parece que os padres não
seriam estranhos a essa resolução, porque, conforme dissemos, eles
procuravam por todos os modos chamar para o seu instituto as grandes
inteligências, e não desperdiçariam decerto um tal discípulo. Os
pais empregaram ainda todos os esforços para o arrancarem do poder
dos jesuítas, mas António Vieira não se dissuadiu do seu propósito,
e no fim dos dois anos de noviciado fez os primeiros votos, e a 6 de
maio de 1625 passou à classe dos escolares, ligando se então por
votos secretos e tomando cargo das obrigações do ensino.
Tão
precocemente se desenvolvia o seu talento, que aos dezassete anos de idade
já era encarregado de escrever em latim as anuas que eram enviadas
da província ao geral de Roma, e aos dezoito era mandado lecionar retórica
no colégio de Olinda, e depois filosofia dialéctica. Ali se
manifestaram também brilhantemente as suas admiráveis faculdades
intelectuais, fazendo ele uns comentários a Séneca e a Ovídio,
comentários que se perderam, como os que fez, como teólogo, a várias
passagens da Escritura. Aos vinte anos frequentava teologia, e os
superiores lhe permitiam redigir uma apostilha para as suas próprias
lições; aos trinta era nomeado mestre de teologia. Passou ao 3.º grau
da Companhia, dos coadjutores espirituais, e depois de ter dito a
primeira missa, em 1635, começou a exercer as funções de
pregador, inerentes ao referido grau. As suas provas estavam dadas,
e só lhe faltava a idade para se elevar a professo e ser admitido
ao 4.º voto, pelo qual reconhecia o papa como único poder legítimo
na terra. Como pregador, revelou desde logo os prodigiosos dotes
oratórios que o distinguiam. Pode mesmo dizer-se que ascendeu, logo
nos primeiros sermões, aos mais altos da oratória, porque foi em
1610 que pregou o seu famoso sermão contra os holandeses. As
circunstâncias eram terríveis. A Baía já fora ameaçada pelas
armas de Maurício de Nassau, e os desastres sucediam-se uns aos
outros com a maior rapidez. Foi então que na catedral da Baía se
começaram a fazer preces pelo sucesso das armas portuguesas que tão
infelizes andavam. Num dos dias de preces coube ao padre António
Vieira a vez do pregar. Tomou por texto do sermão
a frase: Exurge, quare obdormis, Domine? Dirigindo-se a
Deus, não como suplicante mas como censor, num rapto sublime de
patriotismo e de dor, dirigiu à Providencia essa famosa apostrofe,
que é um dos trechos mais belo os da tribuna sagrada ou profana de
todos os países, apostrofe em que a acusa amargamente de ter
abandonado os seus fiéis portugueses que pela fé tantos sacrifícios
fizeram, para proteger os hereges da Holanda, que eram os seus
inimigos. E rematando com uma ironia sublime, diz a Deus que há-de
ser bem pago daquelas complacências, que da sua tão favorecida
Holanda receberá a condigna recompensa das suas predilecções,
porque a Holanda lhe mostrará como lhe há-de dar adorações e
culto. Não se conhece rapto algum de eloquência que exceda em força
e em energia a este admirável trecho. Devia produzir uma comoção
eléctrica nos ouvintes e pôr-lhes em vibrações a fibra patriótica.
O que se vê, porém, desse sermão, pregado em princípios de 1610,
é que já nesse tempo o padre António Vieira era um orador de
primeira ordem, que excedia a todos os do seu tempo em todo o mundo,
porque não começara ainda a tornar-se notável o pregador francês
Bossuet, o único que se lhe pode pôr a par.
Pouco
tempo depois chegou à Baía a notícia da restauração de Portugal
e da aclamação de D. João IV. Acompanhou o marquês de Montalvão
o movimento nacional, e querendo participar isso para Lisboa, mandou
seu filho D. Fernando de Mascarenhas cumprimentar o novo monarca e
oferecer-lhe a sua homenagem. Não o deixou, porém, vir só;
deu-lhe por companheiros de viagem e mentores o padre António Vieira e
o padre Simão de Vasconcelos, cronista da Companhia de Jesus. Os três
saíram da Baía a 27 de fevereiro de 1641 e sofreram tão violenta
tempestade durante a viagem, que não puderam ir aportar a Lisboa,
como queriam, mas sim a Peniche, que era então governada pelo moço
conde de Atouguia. Chegaram em fins de abril e tiveram uma recepção
hostil. Ao saber-se em terra que vinha a bordo o filho do marquês
de Montalvão, o povo amotinou-se. É que a marquesa de Montalvão e
os filhos que com ela viviam no continente europeu, tinham seguido o
partido de Castela, e portanto eram considerados traidores à pátria
tanto este filho que chegava do Brasil, como os dois padres jesuítas
que o acompanhavam. O conde de Atouguia quis protege-los contra a fúria
do povo, mas não conseguiu evitar que o padre António Vieira fosse
agredido e que o filho do marquês recebesse um ferimento na cabeça.
Foi metendo este último na cadeia, que o conde de Atouguia
conseguiu salvar-lhe a vida, ao passo que o padre António Vieira
descobria traças de seguir para Lisboa na dia 30, e nesse mesmo dia
falar ao rei, que o recebeu com a maior afabilidade.
Foi
no dia 1 de janeiro de 1642 que o padre António Vieira pregou pela
primeira vez em Lisboa na capela real.
«Se houvermos de dar crédito,
diz o seu biógrafo João Francisco Lisboa, ao testemunho unânime
de amigos e inimigos, foi verdadeiramente prodigioso o efeito
produzido. O orador sabia perfeitamente moldar-se ao gosto e
necessidade do tempo, assim na escolha e preferência dos assuntos,
como nos ornatos dó estilo e meneios oratórios, se bem a incontestável
superioridade do seu talento corrigisse ou atenuasse em grande parte
os vícios mais comuns entre os seus contemporâneos. Ou agitasse as
grandes questões políticas como a restauração da independência
nacional, a paz, a guerra, os meios de sustenta-la, ou tratasse dos
assuntos simplesmente religiosos e morais mais próprios do seu
ministério, o estilo, ora grave, solene levantado, ora brando e
familiar, segundo a ocasião, a eficácia e nobreza da declamação
e do porte, certa novidade no modo de opor e argumentar, que trazia
o cunho particular do seu engenho, a facilidade, pureza, copia e
energia de linguagem, tudo lhe atraiu e avassalou a multidão, para
conter a qual eram ordinariamente insuficientes os templos mais
vastos . Acolhido pelo rei como amigo dilecto, exerceu logo a máxima
influencia na política do seu tempo. Eram os seus sermões muitas
vezes verdadeiros discursos políticos com que procurava fazer
triunfar na opinião publica as medidas que se pretendiam adoptar,
tal é, por exemplo, o seu notável sermão de Santo António,
pregado quando estavam reunidas as cortes em Lisboa, para conseguir
que todos, nobreza, clero e povo, contribuíssem com o pagamento dos
impostos para se acudir ao perigo geral.
De
facto, a ascendência do padre António Vieira sobre o ânimo de D. João
IV era a mais completa que possa imaginar-se; ele tinha entrada.
franca no paço, assistia às conferências do rei com os ministros,
vivia nas secretarias do Estados, e os tribunais e juntas eram
obrigados a ir conferenciar com ele, cujo parecer era apresentado
por escrito ao rei. Parece que esta sua ingerência nos negócios públicos,
ingerência em que os seus sentimentos patrióticos tomaram muitas
vezes o passo às suas ideias de jesuíta, lhe causou desgostos no
seio da Companhia de Jesus, que parece ter pensado em o expulsar,
ao que obstou D. João IV. Também parece que, por essa ocasião, o
rei o quis fazer bispo, para o libertar da tutela da companhia e
que ele rejeitou a mitra. Mas deixar a política, não o fazia ele,
porque tinha uma vocação. incontestável. São admiráveis os seus
pareceres a respeito de diversos assuntos, inclusivamente a respeito
de assuntos de guerra, sendo a carta em que ele aconselha a guerra
defensiva uma das mais sensatas da sua vasta colecção epistolar. A
ele se deveu a organização duma companhia de comercio, no género
das que tinham feito a gloria e a riqueza da Holanda, e apesar da
companhia de comercio portuguesa não chegar a ter nunca o mesmo
desenvolvimento, contudo prestou na restauração das nossas
colonial relevantes serviços. Nesta sua campanha a favor da
companhia do comércio sustentou Vieira algumas ideias notavelmente
arrojadas para o seu tempo, e que não contribuíram pouco para a
inimizade que a Inquisição lhe votou.
Pregou
a doutrina da tolerância com os judeus para que Portugal pudesse
reaver a riqueza que se estava acumulando na Holanda, dizia que a
troco da, sua participação na companhia do comercio se devia ter
com eles a máxima tolerância, e não o disse só, e não o
escreveu simplesmente nos seus livros, mas pregou o até nos seus
sermões. Em Roma fizeram a tudo isso a maior oposição, '
conseguiram que se revogasse um alvará pelo. qual se concedia que
os bens dos que fizessem„ parte da companhia do comércio ficassem
isentos
de confisco, ressalvando assim os bens dos cristãos novos.
Entretanto, cada vez mais confiado na vasta inteligência do
padre António
Vieira, D. João IV, depois de o nomear pregador da sua câmara e
mestre de seu filho o príncipe herdeiro D. Teodósio, deliberou
tombem empregá-lo na diplomacia, e mandou-o como seu enviado
particular, sem carácter algum oficial, a França e à Holanda, em
março de 1646, e nessa primeira viagem, tratou apenas de se
informar do que se pensava a nosso respeito no seio dos gabinetes
francês e holandês, exercendo uma certa fiscalização sobre os
actos dos ministros, coisa que em resultado deu bastantes queixas e
protestos. Na segunda viagem, que foi em 1647, tratou já de
assuntos importantes em Paris com o cardeal Mazarino, em Haia com os
Estados. Em Paris teve grandes contendas com o cardeal Mazarino para
impedir a realização de um projecto em que fazia o máximo empenho
Mazarino, que era o de casar o príncipe D. Teodósio com
mademoiselle de Lougueville, vindo para Portugal o príncipe de Condé,
que ficaria regente do reino até o príncipe D. Teodósio, chegar
à maioridade, retirando-se D. João IV para o Brasil. Esse projecto
concorreu muito o padre António Vieira para que se dissipasse. Em Amsterdão
não prestou o padre António Vieira ao seu país idênticos
serviços, porque foi, e é essa a grande mácula da vida política
deste sábio e perspicacíssimo varão, um dos que supuseram que
Portugal não podia resistir às forças da Espanha na Europa, e às
da Holanda na América, foi um dos que imaginaram que era preferível
ceder à Holanda de vez o que na América se lhe contestava, e se
lhe contestava vitoriosamente, abandonando ao seu destino aqueles
heróicos rebeldes de Pernambuco, que sem auxilio da pátria, antes
renegados por ela, teimavam em querer ser portugueses. Francisco de
Sousa Coutinho, ministro português na Haia, chegou e de certo de
acordo com o padre António Vieira a assinar em nome do rei de Portugal
a cedência da capitania de Pernambuco aos holandeses. Foi, alegava
ele depois, o único modo que teve de impedir a saída duma esquadra
holandesa, que ia decerto esmagar, debaixo de forças imensamente
superiores, a insurreição pernambucana. É certo, porém, que o
padre António Vieira, não só nessa ocasião, mas depois em Portugal e
em frequentíssimas ocasiões, defendeu a todo o transe a ideia da
paz com a Holanda, a troco da cedência de Pernambuco, escrevendo até
um parecer, que teve o título de Papel forte, que lhe deu D.
João IV. por achar fortíssima a sua argumentação.
Prevaleceu,
contudo, a opinião contrária à do rei e à do seu inteligentíssimo
conselheiro, ou antes vieram as dilações e demoras da discussão
impedir que se fizesse coisa alguma, e entretanto iam correndo em
Pernambuco os sucessos tão prósperos, para nós, que, contra a
vontade do rei, novamente passou à coroa portuguesa a opulenta província
de Pernambuco. O padre António Vieira nunca pôde resignar-se a
confessar abertamente o seu erro e a sua culpa, dizendo apenas
algumas vezes que ele se guiara pelos lumes falíveis da razão, em
vez de confiar nos milagres da Providencia. Numa carta, porém, que
escreveu ao conde da Ericeira, para rectificar alguns pontos que lhe
pareceram menos, exactos do Portugal restaurado, procurou
tornar Francisco de Sousa Coutinho exclusivamente responsável pela
política de transigência com os Países Baixos. Era uma pequena
traição. O Papel forte bastava para depois demonstrar que o
padre António Vieira sempre tivera pouquíssima confiança no
resultado da luta com os holandeses, e que opinava abertamente pela
política da conciliação e da transigência, à custa dos mais
caros interesses de Portugal na América. Em 1650 partiu ele em nova
missão diplomática, missão de alta importância, posto que não
fosse decerto das mais patrióticas. Tratava-se de se pôr termo à
guerra entre Portugal e a Espanha, por meio do casamento do príncipe
D. Teodósio com uma filha de Filipe IV.
Era
a reconstituição da união ibérica que se planeava assim,
fazendo-se de Lisboa a capital de toda essa vasta monarquia, e
ficando assim esse trono na Casa de Bragança. Vieira devia ir a
Roma tratar esse negócio, todo de interesse da dinastia mas contrário
ao interesse nacional, com o embaixador de Espanha junto da Santa Sé,
duque do Infantado, mas ao mesmo tempo era incumbido também duma
missão contraditória, porque o encarregavam de fomentar a revolução
de Nápoles, que rebentara por esse tempo, o que podia ser uma feliz
ocorrência para o governo de Portugal. Resultou desta dupla missão
o não poder conseguir coisa alguma. Os revolucionários de Nápoles
queixaram-se de que o agente português nada fizera por eles, e o
duque do Infantado, sabedor do que se tramava, fez saber ao geral
dos jesuítas que, se não fizesse sair imediatamente de Roma o
padre António Vieira, teria de dar ordem para que o jesuíta português
fosse assassinado. Vieira saiu, portanto, muito à pressa de Roma,
malogrando-se, felizmente para Portugal, a sua nefasta missão.
Regressando a
Portugal, encontrou em Lisboa discórdia entre a família real. O príncipe
D. Teodósio, discípulo amado dos jesuítas, e muito especialmente
do padre António Vieira, apareceu de súbito secretamente no exército
do Alentejo, coisa em que o rei seu pai se mostrou muito melindrado,
fazendo-o recolher a Lisboa, pouco depois da sua partida. Uma carta
que o padre António Vieira escrevera ao príncipe, dando-lhe
conselhos, serviu de base à acusação que lhe fizeram de ter sido
ele que aconselhara ao príncipe essa expedição que tanto
desagradara ao rei. Foi de certo essa acusação que modificou
bastante as disposições do rei para com o seu favorito, porque o
era incontestavelmente e muito o padre António Vieira. D. João IV
protegeu-o por largo tempo contra os seus inimigos, que não eram
poucos, entrando principalmente nesse número os seus superiores e
confrades. Admira que uma companhia tão desejosa de preponderância,
se mostrasse hostil a um dos seus que alcançara do príncipe a mais
absoluta privança, que dominava o animo de toda a família, que
possuía altíssimos talentos e enorme influencia política Mas é
que o padre António Vieira mostrava uma certa independência, que era
completamente contrária ao dogma fundamental da companhia, que era
o da obediência cega às ordens superiores. O padre António Vieira
trabalhava por sua conta, e pensava mesmo em introduzir reformas na
companhia, coisa que os mais antigos da ordem lhe levavam muito a
mal. Daí resultou que os seus superiores desde 1614 lhe ordenassem
positivamente que partisse para as missões do Maranhão. Vieira
conseguiu por muito tempo iludir essas ordens sucessivas,
protestando ao princípio as suas missões políticas a Madrid e a
Sabóia, valendo-se depois de todos os recursos possíveis, e ia
ficando. Um dia simulou que obedecia às ordens superiores e
embarcou, mas conseguiu que daí a pouco o rei o mandasse
desembarcar e voltar ao paço. Entretanto, a paciência da companhia
ia se apurando, e o favor do rei para com ele desaparecia, pelos
motivos já citados, e a 22 de novembro de 1652 recebeu ordens
terminantes de embarcar para o Maranhão, e efectivamente embarcou,
porque já lhe era impossível iludir por mais tempo essas ordens.
Contava, porém, que a bordo encontraria ou receberia ordem do rei
para não seguir viagem e tal não aconteceu.
A
sua influência no ânimo do rei estava morta. Teve de partir, pois,
e numa carta que de Cabo Verde escreveu ao príncipe D. Teodósio,
dizia-lhe que estava aflitíssimo com a sua imprevista partida. Foi
esse o justo castigo da sua duplicidade, porque, fingindo sempre que
todo o seu desejo era servir a causa da religião católica, e que só
muito constrangido obedecia às ordens reiteradas do rei que não
podia passar sem ele, afinal foi vitima da sua própria astúcia, e
teve de partir profundamente ferido no seu amor próprio, ao ver que
D. João IV se desprendera com facilidade dos laços em que julgara
tê-lo perpetuamente preso. Foi bastante trabalhosa a viagem. O
navio teve de arribar a Cabo Verde, onde sé demorou algum tempo,
desembarcando Vieira para pregar, causando tanto sucesso que a
população manifestou desejos de que ele ficasse na ilha, tendo
Vieira de embarcar quase secretamente para seguir a viagem. No princípio
de 1653 chegou ao Maranhão, onde foi recebido com muito jubilo, mas
onde teve logo que lutar, como superior do colégio dos jesuítas,
com a má vontade do capitão general e também com a má vontade do
povo. Defendiam os jesuítas nessa ocasião uma causa justíssima
naquela capitania brasileira, a causa da liberdade dos índios.
Queriam os portugueses residentes no Maranhão conservá-los
escravizados, queria o governo emancipá-los, queria emancipá-los
também a companhia e, quando no Maranhão se publicou uma lei
mandando restituir à liberdade os índios cativos, houve ali uma
verdadeira sublevação, chegando a estar em perigo o colégio da companhia. Valeu então de muito aos seus confrades e aos
povos
daquela terra a voz prestigiosa e eloquente do padre António Vieira,
que muitas vezes, pregando na catedral, amansou e acalmou as
inquietações e turbulências populares. Contudo, viu ele bem,
porque foi necessário transigir com os que possuíssem índios
escravos, que aquele estado de coisas era insustentável e que se
tornara indispensável alcançar do governo da metrópole as medidas
indispensáveis para garantir a liberdade dos índios.
Encarregou-se o
padre António Vieira de ir solicitar em Lisboa essas resoluções
e partiu para Portugal, quase às escondidas, em junho de 1659,
depois de ter pregado ainda quase na véspera aquele famoso sermão
de Santo António pregando aos peixes, que é uma das obras primas
da sua eloquência. Seguiu para a Europa, e depois de ter padecido,
como sempre lhe acontecia nas suas viagens marítimas, grandes
tempestades, aconteceu-lhe também cair nas mãos dum pirata holandês,
que, depois de roubar a embarcação, pôs os roubados em terra nas
ilhas dos Açores. Algum tempo se demorou Vieira naquele arquipélago,
onde foi muito festejado, e na ilha de S. Miguel pregou, perante um
auditório entusiasmado o seu admirável sermão de Santa Teresa.
Chegou a Portugal no mês de novembro de 1659, e encontrou o rei D.
João IV perigosamente enfermo. Logo, porém, que melhorou, o
monarca o mandou chamar a Salvaterra, onde estava. O padre António
Vieira expôs-lhe então o assunto a que vinha, conquistou a sua
adesão, conseguindo que se organizasse uma junta especial de missões,
que se tomassem as medidas que ele desejava em relação aos índios
e partiu enfim, de novo para o Maranhão a 16 de abril de 1655. Durou
seis a sete anos a sua permanência desta vez no Maranhão, e ali fez
maravilhas a sua infatigável actividade. Estabeleceu missões para
o sul, até na serra Ibiapaba entre os Tobajaras, para o norte entre
os Nhecujaibas, visitou as com frequência, correndo perigos e
suportando as maiores fadigas. Teve, sobretudo, que sofrer a
constante oposição dos portugueses, que afinal sublevando-se,
investiram conta os colégios dos padres jesuítas no Maranhão, na
Baía e no Pará, sendo nesta ultima cidade preso o próprio padre António
Vieira, que foi com os seus companheiros remetido para a Europa,
onde chegou nos fins de 1661. Parece, todavia, que nem só do
espiritual cuidavam os padres, mas que também entravam muito pelo
temporal, invadindo os poderes civis, razão porque lhes aconteceu
aquele desagradável facto. Os jesuítas procuravam estabelecer no
Maranhão o regime que lograram instituir no Paraguai, pugnava por
isso o padre António Vieira, e se bem que os portugueses que se lhe
opunham, não tinham em mira senão defender os seus próprios
interesses, é certo que nem dum nem doutro lado se defendia com
pureza uma causa legitima e sagrada. Ao chegar de novo a Lisboa, o
padre António Vieira encontrou a corte totalmente transformada. O rei
havia falecido quatro anos antes e o príncipe herdeiro D. Afonso
entregava-se já à devassidão que havia de formá-lo tão
tristemente celebre como rei e como marido. A rainha regente D. Luísa
de Gusmão acolheu o com entusiasmo, como o teria acolhido o
falecido monarca. Mas, vendo então que o sonhado império do Maranhão
não podia facilmente constituir-se, desistiu de se ocupar de missões
e lançou se de corpo e alma na política do seu país, então
bastante agitada.
Por
esse tempo terminava a menoridade de D. Afonso VI, e terminava
expulsando a rainha da corte os Contis, indignos validos de seu
filho. O padre António Vieira foi em todo este assunto o braço
direito da rainha regente, e tanto confiava no seu valimento ou tão
pouco se temia do moço rei, que não hesitou, por indicação da
rainha mãe, em ler-lhe uma severa alocução no acto em que ele
tomava posse do governo. O padre António Vieira, porém, não contava
com o ministro de D. Afonso VI, o conde de Castelo Melhor, que em
breve se assenhoreou do poder e não consentiu que se tomassem com
o soberano que representava as liberdades que o padre António Vieira
entendera dever tomar. A primeira coisa, que fez, foi desterrá-lo
para o Porto, em 1662; e depois para Coimbra, em 1663, quando o
padre lá imaginava que seria desterrado para o Brasil ou para
Angola. Este procedimento do ministro lançou Vieira completamente
na oposição, sendo ele um dos que mais trabalharam para que
triunfasse a conspiração urdida pelo infante D. Pedro contra o rei
seu irmão. Enquanto, porém. não chegava esse triunfo, o padre António
Vieira viu-se desamparado do valimento do governo, e esse desamparo
em que se encontrou, deu largas aos seus inimigos que o não
pouparam. Denunciado à inquisição de Coimbra em 1664, foi preso em
1665; e o santo tribunal lhe intentou um processo, que terminaria
desastrosamente para ele, se não fosse a sua imensa popularidade. O
padre António Vieira havia muito que incorrera nos ódios da Inquisição;
as suas opiniões bem conhecidas a respeito dos cristãos novos, o
seu trato com os hereges da Holanda não o tinham posto em cheiro de
santidade perante o Santo Ofício Umas tendências extravagantes da
sua potente imaginação e do seu subtilíssimo espírito, que se
comprazia em adivinhações, necromancias, explicações proféticas
das escrituras, agravaram ainda a sua situação. Os livros que
serviram de base ao processo, foram o Quinto Império e a Clavis
Prophetarum, e o padre António Vieira, longe de confessar o erro e
de pedir que lho desculpassem, quis à viva força defender o seu
livro, as suas explicações e o seu sebastianismo, porque António
Vieira era sebastianista também, e foi um dos grandes
propagandistas das trovas do Bandarra. Durou largo tempo o
processo, porque a inquisição não se dava por satisfeita e
impunha que reconhecesse os seus erros, a que o padre jesuíta se
recusou, e talvez se não salvasse da fogueira, se a Companhia o
abandonasse à sua sorte, e o papa Alexandre VII não interviesse a
recomendar-lhe que se retractasse. A sentença do terrível tribunal
foi proferida a 23 de dezembro de 1667. Condenando Vieira a perder a
voz activa e passiva, proibindo-lhe a predica, e ordenando lhe que
se recolhesse a um colégio de noviços, ele, consumado teólogo; um
homem de espírito impressionável poderia ter caído fulminado ao
ouvir ler a infamante sentença; ele, não; ouviu-a de pé e imóvel
durante duas horas com o olhar fito num crucifixo do tribunal, e
isto depois de vinte esete meses de cárcere incomunicável. Triunfou, por
fim, a revolução palaciana que tirou a D. Afonso VI a coroa e a
mulher, mas Vieira não encontrou no príncipe D. Pedro o favor e o
valimento que esperava.
A
pena a que havia sido condenado foi lhe primeiramente comutada pela
inquisição em seis meses de reclusão e depois completamente
perdoada, em 1668, mas não ficou satisfeito, e vendo que
continuaria a pesar sobre ele a influência da inquisição,
entendeu que devia sair de Lisboa. A pretexto de que ia tratar da
canonização de quarenta santos da companhia, partiu para Roma, mas o seu
fim único era conseguir que o papa anulasse a sentença. Em Roma
foi recebido pelos jesuítas com as máximas honras e as maiores
distinções. Pregou alguns dos seus mais admiráveis sermões na
igreja portuguesa, e como muitas personagens dos mais notáveis em
Roma lamentavam que tão notável orador pregasse numa língua que
nem todos entendiam, António Vieira, depois de se habilitar
convenientemente, pregou em italiano. Era uma empresa difícil, por
pregar em língua estranha, sobretudo quando um dos principais méritos
do orador era a vernaculidade incomparável da sua linguagem. Pois
foi extraordinário o seu triunfo, e uma das pessoas que mais se
deixaram cativar pelo talento assombroso do jesuíta português, foi
a rainha abdicatária da Suécia, Cristina, que residia em Roma,
depois de se ter convertido à fé católica, e que instou muito com
o padre António Vieira, para que ele aceitasse o lugar de seu
confessor. Vieira escusou-se, muito lisonjeado com o convite, mas do
que não podia consolar-se, era de não continuar a figurar na política
do seu país, e tanto mais que o papa Clemente X o havia
isentado da jurisdição do Santo Ofício Por muitas vezes solicitou
dos seus amigos de Lisboa, que alcançassem do regente D. Pedro que
o incumbisse de alguma missão diplomática, mas tudo foi inútil.
D. Pedro, sem que se saiba porquê, nunca se mostrou afeiçoado ao
padre António Vieira, apesar do ter trabalhado dedicadamente em seu
favor, e o padre vingava-se daquela ingratidão, increpando-o
indirectamente num sermão de Santo António. Depois voltou-se para
a rainha de Inglaterra, D. Catarina, que sempre lhe fora muito afeiçoada,
mas D. Catarina estava indignadíssima por causa da revolução do
palácio que destronara D. Afonso VI, seu irmão, e portanto não
podia simpatizar com o papel que o padre António Vieira desempenhara
em toda aquela intriga.
Em
1674 regressou a Portugal, depois de ter recebido em Roma as mais
lisonjeiras manifestações de apreço e de entusiasmo. No seu
regresso foi incumbido de tratar em Florença o casamento do
herdeiro do grão-ducado de Toscana com a princesa herdeira de
Portugal, negócio
em que não foi feliz. Passou ainda cinco anos em Portugal, conservando
e ampliando cada vez mais a sua reputação de orador sagrado, mas
sem tornar a representar na política o papel brilhante que tanto
ambicionava Resolveu se então a partir para a Baía, mas demorou-se
ainda dois anos em Lisboa, depois de ter tomado esta resolução,
por lhe custar muito a arrancar-se da pátria, e também a perder a
esperança de voltar a figurar na política. Embarcou, finalmente,
para a Baía, despeitado e desiludido, a 27 de janeiro de 1681, e
recolheu-se à quinta do Tanque, na convivência do seu inseparável
companheiro o padre José Soares, que o incitava à compilação
completa de todos os seus sermões e escritos morais.
Contava
já seenta três anos de idade, e parecia que devia estar cansado da vida
agitadíssima que levara, mas é certo que, apesar dos achaques de
que frequentemente se queixava, parecia conservar-se em pleno vigor
e em pleno viço da mocidade correspondendo-se com um grande numero
de altas personagens da corte portuguesa, e intervindo em todos os
manejos políticos da terra em que vivia. Era velho costume, que
dificilmente conseguiriam desarreigar-lhe do espírito. Demais era
seu irmão Bernardo Vieira Ravasco secretário do governo da Baía,
e isso naturalmente o incitava a ocupar-se da política. Fazia mal,
contudo, sabendo que não podia contar com o regente D. Pedro como
contara com D. João IV, tanto mais que o governador da Baía, que
chegara pouco tempo antes de Vieira, era António de Sousa de
Meneses, conhecido pela alcunha de Braço de prata, homem
brutal e violento, que não hesitava doente da glória do eminente
orador. Deu-se na Baía um triste caso, que foi o assassínio dum
funcionário português por um seu inimigo António de Brito, que
era muito parcial de Bernardo Vieira Ravasco, e muito protegido pelo
P. António Vieira. Resultou deste incidente irritar-se o governador
muito seriamente, e acusar abertamente Bernardo Vieira Ravasco de
incitador do crime, e o P. António Vieira de seu cúmplice. O padre
teve com o governador uma entrevista violenta. Sucedia que na Baía
todos estavam a favor do secretário e do jesuíta seu irmão, mas
em Lisboa não sucedia o mesmo, onde Bernardo Vieira Ravasco foi
inclusivamente pronunciado. Partiu para Lisboa o filho do secretário
Gonçalo Vieira Ravasco, afim de solicitar justiça do rei, ou antes
do regente. Logo o recebeu D. Pedro, e disse-lhe em formais palavras
e sem rodeios, que estava muito pouco satisfeito com seu tio, porque
este lhe descompusera o seu governador. O padre António Vieira, quando
soube o que o rei dissera, teve uma síncope, e depois ficou doente.
Andava tão habituado ao favor da corte, e em tão elevado apreço
tinha o valimento dos reis que não se podia conformar com a ideia
de ter perdido as boas graças do soberano. Escreveu queixoso a
todos os seus amigos da corte, lamentando ser tão mal tratado por
um soberano, a quem prestara tantos serviços, antes dele subir ao
trono, e que tanto auxiliara nesse empenho. Mostrou-se mesmo
amargamente ressentido, mas era tão insensivelmente cortesão, que
chegando à Baía a notícia da morte da rainha que fora mulher dos
dois irmãos, e tendo sido convidado para pregar o sermão das exéquias,
anuiu imediatamente. O processo em que o padre António Vieira fora
envolvido com seu irmão, protelou-se até 1687, concluindo-se pela
falta de base para pronuncia da qualquer deles e no ano seguinte
a Companhia de Jesus o nomeou visitador da província do Brasil,
cargo em que tinha de despender uma energia superior às suas forças,
muito enfraquecidas pela velhice. Teve então de abandonar a sua
quinta do Tanque, e recolher-se ao colégio da ordem da cidade.
Ainda assim exerceu dois anos, segundo o costume, esse cargo, até
que já quase no túmulo; sofreu uma última indignidade.
Reunindo-se a congregação para se eleger um dos padres que devia
ir como procurador a Roma, foi acusado o padre Vieira de ter andado
solicitando votos. Deram-lhe como provado o crime e o superior do
colégio não hesitou em repreender o grande homem, o venerando
velho na presença de todos. Apelou para Roma de tal decisão o
padre António Vieira, Roma deu-lhe razão, mas quando chegou a resolução
final, que dava planíssima satisfação ao grande homem ultrajado,
já ele não existia. O padre António Vieira morreu com perto de
noveta anos. Tanto na Baía como em Lisboa fizeram lhe pomposas exéquias.
Os
sermões de Vieira publicaram-se ainda em sua vida, muitos deles
soltos, até que principiou a formar se a colecção em 1679 em que
saiu o 1.º volume. O 2.º publicou-se em 1682, o 3.º em 1683, o 4.º
em 1685, o 5.º em 1689, o 6.º em 1690, o 7.º em 1692; o 8.º que
compreende o Xavier Dormindo e o Xavier acordado, em
1694; o 9.º, que assim depois foi classificado, mas que se
publicara à parte como a 1.ª parte da colecção de sermões do
Rosário, imprimiu-se em 1686, e o 10.º que era a segunda parte da
mesma colecção, em 1688, o 11.º em 1696. Depois seguiram póstumos
em 1699 o 12.º; o 13.º saiu em 1690, mas com o título de Palavra
de Deus empenhada e desempenhada em dois sermões; o 14.º em
1710, o 15.º em 1748, mas saiu ao mesmo tempo como 2.º volume das Vozes
saudosas da eloquência do padre António Vieira, cujo 1.º tomo
saíra em 1736. Ainda em 1754 apareceu um volume com doze sermões de
Vieira, pregados todos em louvor de Santo António, e que se dá
como tomo 16º da colecção. Estes sermões foram muitas vezes
reimpressos, mas sem se lhes dar o carácter de edição nova,
reimprimindo-se, sem se alterar a data dos volumes, que iam
escasseando já muito no mercado. Em 1852 saíram seis tomos de Sermões
selectos do padre António Vieira, e mais tarde, fez-se também
outra edição de sermões escolhidos do padre António Vieira com o título
de O Crisóstomo português. A Historia do futuro foi
publicada em 1718 e reimpressa em 1755. Francisco Luís Ameno
publicou em 1718 um volume com o título Voz sagrada, política, retórica
e métrica, suplemento às Vozes saudosas, que
compreende muitas obras miúdas Em 1745 publicou-se uma Retórica
sagrada ou Arte de pregar, que se atribui ao padre
Vieira,
mas que parece não ter autenticidade. Em 1746 uma Carta apologética
escrita em castelhano pelo padre António Vieira
deu-lhe o editor o título de Eco das vozes saudosas. Das Cartas
publicaram-se pela primeira vez em 1735 dois volumes, saindo outro
em 1746. Publicaram-se em 1827 algumas cartas de António Vieira a
Duarte Ribeiro de Macedo, trazendo no fim o célebre papel que
Vieira compôs por ordem da rainha D Luísa de Gusmão, para ser
lido a D. Afonso VI
No
Correio Braziliense e na Revista trimensal do Instituto
saíram vários inéditos de Vieira, tais como: Memória escrita em nome dos
rústicos habitadores da serra da Estrela a el-rei
D. Pedro II, quando se tratou de estabelecer um novo tributo,
uma Carta a el-rei acerca das missões do Brasil, a Anua
da missão dos Mares Verdes. Em 1652 saiu a Arte de furtar,
que por muito tempo se lhe atribuiu, mas que evidentemente parece não
ser dele; julga-se ser obra de Tomé Pinheiro da Veiga, falecido em
1656; há uma edição em 1744 Também lhe é atribuído o livro: Noticias
recônditas acerca do modo de proceder a Inquisição de Portugal
com os seus presos. Em 1851 publicaram-se em Lisboa as obras
completas do padre
António Vieira, em que foi incluída a Arte de
furtar. Um discurso feito por Vieira em italiano em Roma sobre
as lágrimas de Heraclito saiu impresso em Nápoles. Foi traduzido
em espanhol, e impresso nesta língua em Valência e em Barcelona, e
traduzido em português pelo conde da Ericeira, e anda incluído nos
volumes dos Sermões. Algumas coisas ficaram manuscritas,
sendo a principal a Clavis prophetarum, mas muitos dos papeis
políticos, versos medíocres em português e espanhol, comentários
do Bandarra, defesa das suas obras incriminadas pela inquisição,
tem saído depois ou em diversos jornais, ou nalgumas colecções
publicadas depois de sair o 1.º volume da Biblioteca Lusitana,
de Barbosa Machado. Muitas das obras do padre
António Vieira foram
traduzidas: cinco volumes dos sermões apareceram em Colónia, vertidos
em latim pelos monges dessa cidade em 1707. O Xavier dormindo e
Xavier acordado foi traduzido em latim pelo padre
Leopoldo Fuen e
impresso em 1701, e em italiano pelo padre
Bonucci, saindo impresso em
Veneza em 1712. Vieira deu o título das Cinco Pedras de David
a uma série dos sermões que ele proferira em Roma em italiano. Saíram
impressos em 1676. António Vieira traduziu os depois em espanhol e
nesse mesmo ano se imprimiram, reimprimindo-se na mesma língua em
1678. Depois foram traduzidos em português pelo conde da Ericeira,
e incluídos num dos volumes dos sermões do padre. O sermão panegírico
da rainha D. Maria Francisca, pregado por ele e impresso avulso em
Lisboa, em 1668, foi traduzido em francês pelo padre
Verjus e impresso
em Paris, traduzido em italiano, impresso em Roma, e publicado em
Saragoça, parece que em espanhol. O sermão que Vieira pregou em
Roma em louvor de Santo Stanislau Kotki foi traduzido em latim pelo padre
Rosch e saiu em Cracóvia, e traduzido em italiano e impresso em
Roma; o sermão das Chagas de S. Francisco foi traduzido em italiano
e espanhol. Os sermões de Quaresma traduziu-os em italiano o padre
Luís
Vicente Mamiani e publicaram-se em volume; na mesma língua foram
traduzidos e coordenados em volume pelo P. Annibal Adami vários
sermões panegíricos do orador português. Em espanhol foram
traduzidos todos os sermões do padre
António Vieira, e tiveram muitas
edições. A Historia do Futuro também se traduziu várias
vezes em espanhol. Publicou-se há talvez perto de quarenta anos, uma
tradução francesa de alguns sermões mais notáveis de Vieira.
Julga-se que foi essa tradução, que serviu de base a uma conferência
que acerca de Vieira fez em Paris, Mr. Méziéres da Academia
Francesa. O padre
André de Barros escreveu um notável estudo sobre o
grande orador, que publicou em Lisboa, 1746, muito mais tarde
reimpresso na Baía em 1837. Há o Discurso histórico e critico
sobre as obras de Vieira, escrito pelo cardeal Saraiva (D. Francisco
Alexandre Lobo), impresso em Coimbra em 1823; a sua biografia
escrita em apurada crítica pelo brasileiro João Francisco Lisboa.
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Sermão
do Padre António Vieira proferido na Capela Real em 1642 O Portal da História
Retrato
do Padre António Vieira O Portal da História
António Vieira Citador
Padre António Vieira, o Imperador da Língua Portuguesa Ensina - RTP
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