Joaquim Pedro de Oliveira Martins

 

Oliveira Martins

Historiador português

Nasceu em Lisboa em 30 de Abril de 1845, e
morreu em 24 de Agosto de 1894.

 

Devido à morte do pai, em 1857, não chegou a concluir o curso liceal, que o levaria à Escola Politécnica, para o curso de Engenheiro Militar, tendo que se empregar. Começou a trabalhar em casas comerciais, de 1858 a 1870, mas, nesse ano, devido à falência da empresa onde trabalhava, foi exercer funções de administrador de uma mina na Andaluzia, no Sul de Espanha. 

Regressou a Portugal em 1874, para dirigir a construção da linha férrea do Porto à Póvoa de Varzim e Famalicão, tendo sido administrador da respectiva Companhia ferroviária. Em 1878 tornou-se sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa, e em 1880 foi eleito presidente da Sociedade de Geografia Comercial do Porto, tendo sido nomeado, em 1884, director do Museu Industrial e Comercial do Porto. Exerceu ainda as funções de administrador da Régie dos Tabacos, da Companhia de Moçambique e fez parte da comissão executiva da Exposição Industrial Portuguesa.

A sua vasta obra começa com a publicação, em 1867, do romance Febo Moniz, de intenção política quanto ao federalismo ibérico. Junta-se ao grupo que se reúne na farmácia em que o seu amigo Sousa Martins trabalha, e em que participa Luciano Cordeiro. Por influência de Luciano Cordeiro colaborará no jornal A Revolução de Setembro, onde saem os seus primeiros artigos sobre história e política social. Colaborará também no Jornal do Comércio, escrevendo em Setembro de 1869 uma série de 5 artigos com o título «Do princípio federativo e sua aplicação à Península Hispânica» . É também desta época a publicação do opúsculo Teófilo Braga e o Cancioneiro e o Romanceiro Português (1869), que é fruto da correspondência trocada entre ambos, tendo como tema fundamental o iberismo e as tentativas de Oliveira Martins fazer teatro de intenção social. As peças que acaba por escrever (A Tragédia do Jogral, Afonso VI, O Abade e O Mundo Novo) nunca serão levadas à cena e algumas ainda se mantêm inéditas. Tentará também a poesia com o Traga-Mouros, sendo admitido, em princípios de 1870 no Cenáculo de Antero Quental e José Fontana.

Nesse ano, lança o jornal de feição socialista A República, com Antero, Eça de Queirós, Manuel de Arriaga, Luciano Cordeiro, Batalha Reis e Teófilo Braga, no mesmo ano em que o marechal Saldanha realiza o seu último golpe de estado - a Saldanhada. O jornal desaparece tão rapidamente como o governo do marechal, levando Oliveira Martins a ir viver para Espanha.

Em Espanha escreverá Os Lusíadas - Ensaio sobre Camões e a sua Obra, em relação à Sociedade Portuguesa e ao Movimento da Renascença (1872), que motivou uma larga polémica com Teófilo Braga sobre o moçarabismo, A Teoria do Socialismo - Evolução Política e Económica das Sociedades da Europa (1872), Portugal e o Socialismo - Exame Constitucional da Sociedade Portuguesa e a sua Reorganização pelo Socialismo (1873), colaborando nos jornais socialistas que os amigos de Lisboa vão lançando: Pensamento. Social, Democracia e República Federal.

Em 1874 vai viver para o Porto. Nos dois primeiros anos, entregue à empreitada do caminho de ferro não consegue escrever muito, tirando um ou outro artigo para a Revista Ocidental, publicação iberista que fundara e em que colaboraram Rodrigues de Freitas, Gomes Leal, Antero de Quental, Batalha Reis e onde Eça de Queirós publica a primeira versão de O Crime do Padre Amaro.

Não tendo conseguido ser escolhido pelo Partido Regenerador para ser apresentado às eleições, devido à recusa de Fontes Pereira de Melo, escreve A Reorganização do Banco de Portugal (1877), onde defende a existência de um banco emissor único, e no ano seguinte A Circulação Fiduciária, memória apresentada à Academia das Ciências de Lisboa. Nesse ano de 1878 publica também as Eleições, onde propõe a representação orgânica, e ainda O Helenismo e a Civilização Cristã..

Em 1878 e em 1879 concorre às eleições, no Porto, pelo Partido Socialista, tendo recebido 37 votos no primeiro ano e 40 na segunda tentativa, «numa cidade onde há 2.000 ou 3.000 operários fabris!», como comentaria. A impossibilidade de entrar na vida política, devido à recusa do Partido Regenerador, à debilidade do Partido Socialista e ao corte com o Partido Republicano, levam-no a lançar a Biblioteca das Ciências Sociais. O projecto, anunciado pela firma Viúva Bertrand & Comp. Sucs., destina-se ao público em geral, mas também ao estudantes do ensino secundário, e Oliveira Martins pretende realizá-lo sozinho.

Os primeiros volumes são a História da Civilização Ibérica, publicado em Maio de 1879, com uma tiragem de 500 exemplares, e logo a seguir, em Outubro, a História de Portugal. Até Outubro de 1884 irão seguir-se mais 7 volumes.

Entretanto, a partir de 1880, a sua vida pública progride rapidamente sendo eleito presidente da Sociedade de Geografia Comercial do Porto, escolhido para redigir o Relatório da Comissão de Inquérito Industrial do Norte do País e nomeado para a Comissão Reguladora dos Trabalhos dos Operários. Em 1884, António Augusto de Aguiar nomeia-o director da Escola e Museu Industrial e Comercial do Porto, ano em que publica o último livro da Biblioteca, a História da República Romana, em que descreve a vida de Júlio César. Em 1885, colige vários artigos dispersos por órgãos da imprensa nacional e lança, por intermédio do prefácio à compilação, o programa da «Vida Nova», de acordo com o dirigente do Partido Progressista, Anselmo Braamcamp, lançando um jornal - A Província - para divulgar o seu programa político. Mas Braamcamp morre nesse mesmo ano, e é substituído por Luciano de Castro, e o programa é rapidamente esquecido. De facto, em 1886, eleito deputado por Viana do Castelo e chamado Luciano de Castro a formar governo, não entrará no governo progressista porque as Finanças (a «Fazenda») são dadas a Mariano de Carvalho e ele recusa as Obras Públicas, não se criando para ele o ministério da Agricultura. Vinga-se apresentando nas Cortes um «Projecto de Lei sobre o Fomento Rural», mas que é rapidamente esquecido.

Funda a Companhia de Moçambique e passa da Província para a direcção de O Repórter, cargo que ocupa por pouco tempo. Em 1889, Mariano de Carvalho nomeia-o para a Régie dos Tabacos, cargo que ocupará durante dois anos. Tendo recusado a pasta da Fazenda, que lhe foi oferecida pelo novo rei, D. Carlos, representa o governo em diferentes conferências internacionais. Em Fevereiro de 1892 aceita finalmente a pasta das Finanças no ministério de Dias Ferreira. Trabalha afincadamente nos primeiros tempos, mas o presidente do conselho não gosta da sua independência. Entram em conflito e Oliveira Martins é obrigado a demitir-se. Vai para Londres, regressando nesse mesmo ano, tendo sido eleito deputado pelo Porto. Discursará em 6 e 7 de Fevereiro de 1893, explicando a sua passagem pelo governo. É eleito pela Câmara dos Deputados membro da Junta de Crédito Público. Dedica-se a escrever a Vida de Nun'Álvares e a preparar o Príncipe Perfeito. Já doente parte para Espanha, para se documentar sobre a Batalha de Toro, regressando bastante pior. Vai para Setúbal, onde escreve o 1.º capítulo de O Príncipe Perfeito. Morre em 24 de Agosto de 1894.

Tinha casado em 10 de Março de 1865 com Vitória de Mascarenhas Barbosa, não tendo tido descendência.

 

Fonte:
Joel Serrão (dir.)
Dicionário de História de Portugal,
Lisboa, Iniciativas Editoriais, s.d.

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