 
 
 
A GUERRA EM MOÇAMBIQUE.
- A VISÃO ALEMÃ -
A
GUERRA EM TERRA ESTRANHA
|  | 
| Askaris Alemães incendeam uma aldeia,
      numa | 
| A
      LESTE DO LUDJENDA A patrulha do Capitão Otto, que o Capitão
      Tafel havia mandado ao meu encontro após a sua rendição, chegou a
      Chirumba, onde me informou detalhadamente sobre o que se havia passado até
      aquela data. O Capitão Otto, com mais duas companhias, marchava agora
      para Luambala e tomava o comando do destacamento de Goering (três
      companhias). A principal pressão inimiga fez‑se sentir, como se
      esperava, tanto em Luambala como na margem leste do Ludjenda.
      Evidentemente que, se o inimigo avançasse rio abaixo, a minha situação
      em Chirumba, na margem oeste do rio, numa região já empobrecida e com o
      rio a transbordar na minha retaguarda, era extremamente desfavorável. Era necessário mudar de posição e
      deslocar a minha força, enquanto era tempo, para a margem leste.
      Infelizmente não foi possível passar o rio a vau em virtude da cheia, e
      a travessia teve que ser feita com três canoas. As companhias foram passando
      gradualmente para a margem leste sem serem incomodadas. O problema das
      subsistência tornava-se cada vez mais difícil. Para sorte nossa, o
      Capitão Koehl, que tinha empregado os indígenas da região do Medo e
      Namunu em cultivar o cereal mais temporão, no que eles eram muito hábeis,
      informava que podíamos confiar numa boa colheita para meados de
      Fevereiro. E desta maneira, devíamos tentar permanecer em Chirumba mais
      algum tempo. Os fungos começavam a brotar e a desenvolver‑se nesta
      época, e foram tão bem vindos como o maná para os filhos de Israel... Já
      anteriormente, na Alemanha, me havia dedicado ao estudo destas espécies,
      e assim, rapidamente reconheci que estes fungos eram em tudo semelhantes
      aos nossos cogumelos alemães. Colhi-os, por vezes, aos cestos, num curto
      espaço de tempo e, embora em excesso provocassem difíceis digestões, a
      verdade é que foram uma ajuda importante para a nossa alimentação. Marchámos para leste debaixo duma chuva
      torrencial. As ravinas, anteriormente secas, apresentavam-nos agora
      torrentes formidáveis. As árvores, derrubadas convenientemente sobre a
      corrente tornavam a passagem fácil, e esta fazia-se com o auxílio de
      cordas que serviam de corrimão, e que eram ligadas a estacas ou a barcas
      ligadas entre si. Sofri bastante com a malária nesta época, e por isso
      montava uma mula que tal como os outros animais de sela que haviam
      escapado ainda ao caldeirão, passou o rio a nado. Logo que chegámos ao
      novo acampamento os meus serviçais construíram-me um abrigo de capim
      sobre o qual estenderam os meus panos de tenda para me protegerem da
      humidade. O Veterinário Huber – responsável
      por estes trabalhos para com o meu Estado Maior, auxiliado pelo meu
      cozinheiro Baba – começou imediatamente a trabalhar, e por muito
      molhado que estivesse o mato, podíamos sempre, num curto espaço de
      tempo, tomar as nossas refeições junto ao campo de tiro. O Dr. Huber
      conseguia muitas vezes construir-nos um bom alpendre de capim. Nos dias de sol, o tabaco era cortado e
      secado afanosamente. O Tenente Quartel Mestre Beteh tinha recursos para
      tudo e muito particularmente para o que dizia respeito a confortos, e já
      havia pensado maduramente na maneira de arranjar bom tabaco. A despeito
      disto, havia muitas privações, e o certo é que as promessas que o
      inimigo fazia a todos os indígenas que desertassem, que seriam enviados
      para as suas terras, onde ficariam em liberdade e conforto, não
      encontravam orelhas moucas. Até um moleque dum oficial, que o havia
      servido durante muitos anos com muita fidelidade, desapareceu numa bela
      manhã. Provavelmente a sua Bibi (mulher) já achava que tinha tempo de
      campanha suficiente.  
 
 Encontrámos aqui víveres em abundância
      e recomeçámos o estabelecimento de postos de racionamento e depósitos
      de géneros na região entre Nanungu e Namuna, e ainda mais para o sul.
      Havia muito boa caça, e os indígenas apresentavam-se voluntariamente com
      os produtos das hortas e com mel, para os trocarem por fato e por carne.
      Apareceram muito a tempo uns frutos muito doces que amadureciam aos milhões
      em Nanungu. Eu preferia come-los em conserva. Ainda encontrámos outras
      especialidades, como por exemplo, tubaras O cantar dos galos proclamava
      bem alto e a distancia a existência de ovos e galináceos pelo campo. O início da estação das chuvas não
      coincidiu bem com a precisão dos indígenas. Houve algumas bátegas de água
      violentas, mas esta escoava-se rapidamente para o rio Msalu, a principal
      linha de água da região, que em pouco tempo se encheu por forma a
      constituir um obstáculo forte. 0 dirigente dos serviços postais,
      Hartmann, que se havia alistado como sargento-mor, construiu uma ponte
      sobre este rio, ligando. nos com as forças do General Wahle, que estavam
      ainda na margem oeste. Os suportes desta ponte eram constituídos por
      botes feitos dos troncos das arvores. A necessidade de transpor os rios
      desta região tinha-me atraído a atenção para este assunto. Até aqui
      os únicos instrumentos para estas contingências resumiam-se em meia dúzia
      de canoas. O transporte contínuo destas era difícil, e a sua capacidade,
      muito limitada. Um agricultor de nome Gerth que se havia alistado como
      voluntário, interessou-se especialmente por este assunto, e fez-se
      instruir pelos indígenas na construção daqueles botes. As sucessivas
      experiências produziram óptimos resultados, e, em virtude da rápida
      construção, eram entusiasticamente transportados pelas companhias para
      atravessarem os rios. Embora muitos não chegassem a servir, davam-nos
      contudo um grande sentimento de segurança, pois, em caso de necessidade,
      a mais volumosa das correntes não seria intransponível para as nossas
      caravanas e bagagens. Quando nos relacionámos melhor com os
      arredores, descobrimos os vaus do Msala que se podiam aproveitar mesmo na
      época das grandes cheias. As nossas patrulhas, sob o comando do Sargento
      Valett e doutros, partiram do nosso acampamento fortificado de Nanungu,
      atravessando o rio que lhe servia de limite oeste, afim de reconhecerem o
      inimigo em Mtende. Uma destas patrulhas, particularmente forte e armada
      com duas metralhadoras, surpreendeu com bom resultado uma coluna inimiga,
      a oeste de Mtende. Os nossos, contudo, não fugiram a tempo de se
      escaparem ao grosso das forças inimigas e, atacados por todos os lados,
      viram-se numa situação muito difícil. Perderam-se as duas metralhadoras
      e morreram as suas guarnições. Os askaris voltaram gradualmente para
      Nanungu, mas o comandante da patrulha, o Sargento-Mór Musslin, foi feito
      prisioneiro, por se ter isolado dos ou durante a marcha. Uma outra patrulha, com a qual o Capitão
      Müler havia atravessado o Msalu para o Norte, desalojou rapidamente um
      pequeno posto inglês de Lusinje. O Tenente Wienholt, que, como já
      referimos, se havia tornado um dos melhores comamdantes de patrulhas, foi
      capturado nos arredores desta localidade. Os indígenas da região estavam
      completamente dominados pelas patrulhas inglesas e actuavam como espiões
      a troco de panos e doutros artigos. O voluntário Gerth, o dirigente da
      construção dos botes já referidos, foi atacado e morto por uma patrulha
      inglesa quando se encontrava na casa dum chefe indígena. Na segunda quinzena de Março de 1918, o
      nosso moral era altamente levantado pelas noticias recebidas pela nossa
      estação de telegrafia sem fios, acerca do poderoso avanço alemão na
      frente ocidental. Apostei com o médico do Estado Maior e com o Cirurgião
      Tente que Amiens cairia dentro de pouco tempo. Durante o descanso, que foi
      ainda de algumas semanas, entretive-me a cuidar dum pé, que havia sido
      atacado pela «matacanha» e me incomodava muito. Estas pulgas que
      infestavam muitos acampamentos, introduzem-se na carne em volta das unhas,
      e, segundo a opinião dos médicos, o grande número de indigenas que se
      encontra com os pés decepados deve tal enfermidade às terríveis «matacanhas».
      Também sofri desse mal e a inflamação produzida foi tão grande que,
      graças á intervenção cirúrgica de Tente, foi-me extraída a unha sem
      dor. 
 
 O Tenente von Scherbening, que havia
      tomado a Bôma Malema com a sua patrulha, informava que os arredores eram
      muito férteis e produtivos. Como espécimen enviou-nos um porco capturado
      em Nanungu. Como este recusasse andar teve que ser transportado durante
      uma marcha de 500 quilómetros. Só no fim se reconheceu não ser um porco
      europeu, mas sim um porco Pori, semelhante aos que abatíamos no mato. Mais uma vez nos vimos em sérias
      dificuldades para obter noticias do inimigo, mas alguma coisa pudemos
      conjecturar pelos mapas de que disponhamos, ainda que incompletos. Não me
      restavam dúvidas de que as operações iminentes inimigas seriam lançadas
      dos arredores de Porto Amélia, com o grosso das forças vindo da costa. A
      aparição de fortes contingentes inimigos em Mtenda, bem como a informação,
      embora não confirmada, de que as tropas inimigas marchavam de sudoeste em
      direcção a Mahua, mostravam-me que outras tropas, vindas de oeste,
      viriam cooperar no próximo ataque ao grosso das nossas forças. Estava-se
      desenvolvendo uma situação em que eu podia fazer uso da minha linha
      interior para atacar separadamente uma parte das forças inimigas. A situação
      destas, com respeito a reservas e subsistências, indicava claramente que
      as colunas que marchavam de oeste não podiam ser demasiadamente fortes.
      Era esta a oportunidade por que eu esperava há muito tempo. E assim,
      permaneci com o grosso das forças em Nanungu e mandei recolher, do Lurio,
      o destacamento do Capitão Otto. Tencionava tomar a ofensiva com estas forças,
      na direcção de oeste. O Capitão Koehl, que tinha o seu destacamento
      reunido no Medo, foi encarregado de dificultar a marcha do grosso das forças
      inimigas que avançava de Porto Amélia, devendo retirar gradualmente na
      minha direcção. O Capitão Muller que, depois dalguns
      anos de trabalho no Quartel General, tomara o comando dum destacamento
      independente de duas companhias, recebeu ordem para partir dos arredores
      de Nanungu para Mahua, e fatigar o inimigo tanto quanto possível. Quando
      se aproximava de Mahua surpreendeu um depósito de géneros fortificado a
      sudoeste daquela localidade. As forças europeias inglesas que o
      guarneciam, reconhecendo a impossibilidade de o defenderem, e para não
      perderem tudo, caíram sobre o stock de licores do acampamento, e
      foram feitos prisioneiros completamente embriagados. Em meados de Abril avancei em direcção
      a Mahua, ouvindo-se durante a marcha um grande e longínquo tiroteio. Em
      Koriwa, a nordeste de Mahua, um batalhão inimigo, sob o comando do
      Coronel Barton, que andava em reconhecimento, foi imediatamente atacado
      pelas nossas forças durante a marcha. Apesar de terem tomado parte nesta
      acção apenas 70 espingardas, conseguimos envolver o flanco direito do
      inimigo que fugiu desabridamente depois de se fazer incidir sobre ele um
      denso fogo de metralhadoras, colocadas à retaguarda dum grande morro de
      formiga branca. O inimigo perdeu quarenta soldados nesta acção. O 2.º
      Comandante Wunderlich, ferido gravemente no abdómen, foi conduzido para o
      hospital de Nanungu, a dois dias de marcha, onde morreu pouco depois. 
 
 Parte das provisões tinham sido
      retiradas à pressa para Makoti por as operações terem derivado mais
      para oeste. As patrulhas de combate, que foram lançadas imediatamente,
      tiveram vários encontros com o inimigo, junto da serra de Kireka, em
      Makoti. Julguei a princípio tratar-se apenas de patrulhas inimigas, e
      nesta persuasão mandei ali em reforço o Capitão Schultz com uma
      patrulha forte, e eu próprio marchei, em 4 de Maio, com o grosso, para a
      estrada Nanungu-Mahua. Esperava poder fazer deste ponto um ataque rápido
      às forças inimigas que tentavam surpreender-nos. A situação
      esclareceu-se completamente quando soubemos que as patrulhas haviam
      encontrado o inimigo junto à serra de Kireka. Havia sido repelido um
      destacamento inimigo e era provável que forças importantes estivessem
      entrincheiradas à retaguarda. Na manhã de 5 de Maio marchei do meu
      acampamento para Makoti. Durante a marcha tive sinceras esperanças que o
      inimigo nos pouparia da necessidade de fazermos o ataque às suas posições
      fortificadas e que, em face da situação geral, não seria impossível
      que saísse dos seus entrincheiramentos para nos dar batalha em campo
      raso. Se isto acontecesse era quase certo um triunfo apreciável, e
      obtivemos os melhores resultados atacando com o grosso das forças antes
      do inimigo estar prevenido da nossa chegada. Quando, às 11 horas da manhã, cheguei
      à serra de Kireka  continuei
      em frente afim de me encontrar com o Capitão Schultz que ocupava algumas
      pedreiras, no mato, com a sua patrulha. Logo que cheguei, um «sol» (Sargento-Mor
      indígena) que havia chegado dum reconhecimento, informou-me que o inimigo
      avançava com grande efectivo e que devia estar a surgir na nossa frente.
      Comuniquei o facto ao Tenente Boell que acabava de conduzir a sua
      companhia para a retaguarda do destacamento de Schultz, dando-lhe instruções
      para avançar imediatamente em caso de ataque. Voltei a retaguarda para
      ordenar o avanço das nossas companhias que chegavam uma após outra. No
      entretanto começava a luta na frente. O inimigo, avançando em ordem
      unida, obrigou a retirar das pedreiras as nossas patrulhas, mas foi
      parcialmente repelido por ter sido surpreendido pelo fogo eficaz das
      metralhadoras de Boell. O destacamento de Goering, que chegou no momento
      oportuno, iniciou um movimento envolvente pela direita e surpreendeu o
      inimigo, que foi rapidamente repelido com grande número de baixas. Depois
      duma perseguição renhida de algumas milhas, atingimos os
      entrincheiramentos inimigos. No nosso flanco esquerdo, para onde se tinham
      mandado mais duas companhias, o combate esteve bastante indeciso, e foi-me
      difícil, dentro dum mato tão denso, distinguir amigo de inimigo. Isto
      aconteceu, é claro, algum tempo antes de poder fazer uma ideia clara da
      situação naquele flanco, e antes de receber uma comunicação do Major
      Kraut, que eu havia mandado em reconhecimento, pela qual deduzi que o
      nosso flanco esquerdo, ao avançar numa clareira, havia caído sob o fogo
      fulminante do inimigo que o obrigou a parar. O inimigo contra-atacou,
      chegando quase ao Quartel General cuja situação me pareceu ainda
      perigosa. Com muita felicidade, e precisamente neste momento, o Tenente
      Buechsel, cuja companhia se havia destacado do grosso e que por esta razão,
      chegou mais tarde, entrou em acção e conseguiu afastar o perigo. Entretanto, no flanco direito, o Capitão
      Goering compreendera que um ataque de frente sobre as trincheiras inimigas
      não oferecia probabilidades de bom êxito. Em vista disto, ordenou ao
      Tenente Meier que envolvesse a posição inimiga com uma forte patrulha
      com o fim de, da retaguarda, fazer incidir o seu fogo sobre os lança
      morteiros e capturá-los se fosse possível. A captura não se fez porque
      o inimigo dispunha de reservas inesperadas que mantiveram a patrulha de
      Meier sempre à distância. O combate, desta maneira, tornou-se
      indeciso. Trocavam-se tiros de parte a parte quase às cegas. Quando
      anoiteceu estávamos mesmo em frente do inimigo. A escrituração –
      mesmo em África havia que escrever, embora menos do que usualmente –
      foi suspensa durante o combate. Havia sempre grande número de ordens e
      comunicações para escrever. De tempos a tempos podia falar pessoalmente
      com os comandantes das companhias, e reunia-os com esse fim. Mudava de
      posição o menos possível para evitar dificuldades e demoras
      inconvenientes na recepção e transmissão da correspondência. 
 
 Mandei retirar da primeira linha algumas
      forças, a que se passou revista, com o fim de ter na mão as tropas
      necessárias para qualquer eventualidade. Cheguei à conclusão de que
      seria conveniente ficar durante a noite onde estávamos para iniciarmos
      prontamente o combate no dia seguinte, e especialmente para tomarmos a água
      ao inimigo que certamente estaria fora do acampamento. Perto da meia noite foi-me comunicado
      que uma das nossas patrulhas tinha encontrado uma forte coluna inimiga no
      caminho Nanungu-Mahua. Receei que esta coluna, que julguei importante em
      face do seu movimento independente, avançasse sobre Nanungu e capturasse
      os nossos armazéns de víveres, munições e medicamentos que estavam no
      caminho, e ainda o depósito de Nanungu. Por consequência retirei durante
      a noite com a maior parte das forças, via Mukoti, sobre o caminho
      Nanungu-Mahua. Ficaram apenas algumas fortes patrulhas em frente do
      inimigo, que não observaram que o inimigo evacuava a posição durante a
      noite e retirava para Mahua. Em 6 de Maio reconheceu-se que a comunicação
      que eu havia recebido acerca da coluna inimiga no caminho Nanungu-Mahua não
      era correcta. O inimigo não passou ali.   O Capitão Muller, ouvindo o fogo dos
      morteiros de trincheira ingleses, avançou a marchas forçadas do seu
      acampamento a nordeste de Mahua que, à primeira vista, parecia ter sido
      tomado pelo inimigo. Quando chegou ao campo de batalha verificou que o
      inimigo havia retirado, tendo sido completamente batido, e dispunha de
      quatro companhias, uma companhia de metralhadoras, num total de mil
      homens, a julgar pelas suas fortificações. A nossa força contava com
      pouco mais de 200 espingardas (éramos 62 europeus e 342 askaris). O
      inimigo teve 14 europeus e 11 askaris mortos, 3 europeus e 3 askaris
      prisioneiros. O seu hospital com cerca de 100 feridos caía em nosso poder
      depois de levarem alguns dos feridos, segundo as informações dos indígenas.
      As nossas perdas foram: 6 europeus, 24 askaris e 5 outros indígenas
      mortos; 10 europeus, 67 askaris e 28 outros indignas feridos. Enquanto se alcançava este êxito
      consolador contra as colunas inimigas de oeste, o destacamento de KoehI
      tinha estado empenhado em combates contínuos, frequentes vezes em grande
      escala, contra as divisões do inimigos que avançavam de Porto Amélia
      sobre Nanungu. A oeste do Medo, o inimigo sofreu um grande número de
      baixas num combate, segundo o seu próprio relatório. O Capitão
      Spangenburg tinha conseguido envolver o inimigo com as suas duas
      companhias, caindo sobre uma bateria de obuses de campanha, colocada à
      retaguarda, capturando-a. Foram mortos quase todos os homens e cavalos
      desta bateria. Não foi possível, infelizmente, transportar as peças e
      munições, tendo sido capturadas inutilmente. A despeito deste bom êxito
      individual, o destacamento de KoehI teve que retirar. Aproximava-se o
      momento em que a minha intervenção com este destacamento podia produzir
      um resultado decisivo contra o General Edwards. Mais uma vez ainda, a
      questão das subsistências me embaraçou os movimentos. As colheitas da
      região tinham sido esgotadas, com excepção da mtama que amadurece muito
      mais cedo aqui que na nossa Colónia. Mas não estava ainda madura, pelo
      que tivemos que a amadurecer artificialmente, secando-a, com o fim de
      evitar uma retirada por falta de víveres. O cereal tornou-se assim utilizável
      e, como era abundante, todos se forneceram à vontade, não faltando
      nunca. Desta forma, aconteceu que o
      destacamento de Koehl só no dia 22 conseguiu pôr os carregadores em
      marcha com bagagens e munições. Ainda assim tudo estaria bem se o
      Governador, que se havia ligado à divisão de Koehl, não marchasse na
      sua frente. Este, não compreendendo a gravidade da situação, fez um
      grande alto nesta região desfavorável, expondo-se a um ataque de
      surpresa a cada momento, não se assegurando para uma defesa eficaz. Os
      carregadores de Koehl, não obstante a ordem em contrário, permitiram-se
      também fazer um alto. Na manhã deste dia, reconheci mais uma vez a região
      favorável a sudoeste da serra de Timbani, e encontrei, entre outros, o
      Tenente Kempner, que havia sido levado para a retaguarda por ter sido
      ferido no dia anterior com o destacamento de Koehl. Ouvia-se desde manhã
      um grande tiroteio para os lados das forças de KoehI, tendo sido
      repelidos alguns ataques inimigos. Como havia comunicação telefónica
      com Koehl retirei cerca das 11 horas para Koroma, sem fazer uma pálida
      ideia da situação. Entrava no acampamento ao meio dia, quando
      subitamente ouvi o rebentamento estrondoso, a pouca distância, dos
      morteiros de trincheira, sem dúvida entre as nossas forças e as de Koehl.
      A comunicação telefónica foi interrompida quase simultaneamente naquela
      direcção. Não havia outra alternativa senão a de marchar imediatamente
      com o total das minhas forças contra este novo inimigo. Embora o terreno
      se não prestasse, tive esperanças de poder atacá-lo por surpresa e
      infligir-lhe uma derrota decisiva. Chegámos à serra de Timbani em menos
      duma hora donde repelimos o destacamento avançado inimigo. Alguns indígenas
      tresmalhados informaram-me que a coluna de carregadores do Governador e do
      Capitão Koehl tinha sido surpreendida pelo inimigo, perdendo-se todas as
      bagagens. Que o próprio Governador tentara ir-se embora, dizendo outros
      que tinha ficado prisioneiro. No entretanto o inimigo abria um fogo
      intenso com os lançadores de morteiros e era atacado por diversos lados
      pelas nossas companhias. O inimigo ocupava uma boa posição onde se
      entrincheirou e guardou as bagagens apreendidas. Infelizmente apenas
      pudemos capturar parte delas, depois de termos cercado a posição e
      sujeitado o inimigo ao nosso fogo concentrado e terrível. Segundo um
      comunicado que apreendemos mais tarde, só o 1.º King African Rifles
      perdeu cerca de duzentos homens. Neste cerco tomaram parte várias
      patrulhas e companhias do Capitão Koehl, que por sua vez já tinha
      atacado este novo inimigo com o grosso das suas forças, pela retaguarda,
      enquanto deixava uma forte patrulha fazendo frente ao primitivo inimigo.
      Esta foi repelida tendo que ser reforçada com tropas do destacamento de
      Koehl. Embora, no conjunto, o inimigo tivesse sofrido um considerável número
      de baixas, não foi possível alcançar uma vitória decisiva. O fogo
      interrompeu-se à noite, durante a qual retirámos para as boas posições
      que eu tinha reconhecido entre as serras de Timbani e Koroma. No entretanto, o Governador caminhava em
      direcção desta serra, tendo perdido todos os seus haveres na aventura,
      embora fosse abastecido por Heder – um oficial inferior, mas um valoroso
      e cauteloso chefe da sua coluna de subsistências. Também eu lhe prestei
      algum auxílio na sua adversidade, honrando-o com um bonito par de meias
      azuis que sua esposa me havia feito no princípio da guerra, e que
      infelizmente haviam desbotado. 
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 Fonte: General
    Lettow-Vorbeck,  
       A ver também: 
 
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