Noções gerais sobre metodologia e prática histórica.

 

2. Fichas

As fichas são indispensáveis, tanto para o investigador como para o estudante. Elas são pontos de referência, pequenos fios de uma longa teia que vamos construindo ao longo dos anos.

Constituir um ficheiro é uma das primeiras necessidades de qualquer estudante e, claro, do investigador. Sobre este assunto não há regras absolutas, e o que os professores, os investigadores e todas as pessoas que estudam num determinado momento um assunto, para a realização de um trabalho escolar ou de um relatório no emprego, podem fazer é transmitir a sua experiência de organização do trabalho. Existem vários tipos de fichas, algumas são indispensáveis, outras estão dependentes do tipo de trabalho que se irá realizar:

  1. fichas bibliográficas;
  2. fichas de leitura de livros ou artigos;
  3. fichas temáticas;
  4. fichas de autor;
  5. fichas de citações, e
  6. fichas de trabalho.
Como se vê, é impossível realizar todas estes tipos de fichas na realização de um trabalho específico. Pode ter-se um simples ficheiro de leitura e reunir todas as outras ideias em cadernos de apontamentos; podemos só ter fichas de citações, se necessitarmos de ter um abundante material narrativo para citar no trabalho.

Se o objectivo fôr escrever o trabalho enumerando como foram encarados por diferentes autores um ou mais assuntos, então o ficheiro a criar será formado por fichas temáticas. Mas, se quisermos organizar a apresentação de um modo diferente, por exemplo, por meio da descrição das posições de um autor sobre vários assuntos, então realizaremos fichas de autor, e faremos uma ou mais fichas sobre cada assunto tratado pelo autor estudado.

O tipo de ficha é determinado pelo tipo de trabalho, e pela maneira como o vamos apresentar.

Fichas bibliográficas


Exemplo de uma ficha bibliográfica

A ficha bibliográfica "base" é a organizada por autor. Cada livro que se identifica dedica-se uma ficha. Arrumam-se as fichas numa pequena caixa, ou entre dois cartões unidos por dois elásticos largos, um que passe pelos lados e o outro pelas partes superior e inferior.

Na parte superior direita da ficha deve-se colocar a cota da Biblioteca em que a referenciámos, e do lado esquerdo para o que é que nos pode servir - para a introdução, para um capítulo, ou sub-capítulo, e assim por diante.

As fichas bibliográficas são arrumadas em dois tipos de ficheiros:

1) O ficheiro bibliográfico, que registará todos os livros que se deverão procurar, e não apenas  os que se tenham encontrado e lido;

2) O ficheiro de leitura, que compreende fichas dedicadas a livros, e artigos, que se leram efectivamente.

O ficheiro bibliográfico deve acompanhar-nos sempre que vamos a uma biblioteca. As fichas só registam os dados essenciais do livro em questão e a sua localização nas bibliotecas que se tenha visitado. Poderá acrescentar-se uma nota qualquer, muito curta, a explicar porque estamos interessados em encontrar o livro, mas mais nada. Um ficheiro bibliográfico elaborado correctamente é um auxiliar extraordinário para o resto da vida. 

Com base nestas fichas criam-se as fichas de assuntos.

As fichas bibliográficas devem ser escritas seguindo regras precisas de citação bibliográfica.

Fichas de leitura


Exemplo de uma ficha de leitura
São as fichas mais correntes e de facto as mais indispensáveis. São as fichas em que se anotam com precisão todas as referências bibliográficas de um livro ou de um artigo, se escreve o seu resumo, se transcrevem algumas citações mais importantes, se escreve uma apreciação ou observações de leitura.

Todas as fichas são realizadas de acordo com uma regra geral: devem conter uma única ideia ou a discussão de uma ideia, e conter informação de uma única fonte.

O formato pode ser um qualquer, mas o A5 como base parece-me o melhor; não é grande nem é muito pequeno, e é um formato fácil de encontrar. Há os cadernos e os blocos de apontamentos, e quando só temos folhas A4 à mão é fácil de criar - é só dividir ao meio, não é verdade ! O papel em que se escreve não deve ser muito leve, sendo que o mínimo deve ser o de 80 gr/m2, para  não se estragar ou rasgar facilmente, e permitir a utilização dos mais diversos meios de escrita - esferográficas, canetas de tinta permanente, marcadores, lápis -, sem borrar.

O exemplo mostrado, que é uma ficha de citações não é obrigatório, mas as fichas devem incluir sempre 4 zonas, que neste exemplo estão separadas por linhas

  1. zona de citação bibliográfica básica,
  2. zona que remete para o plano de trabalho,
  3. zona de transcrição, que é a área maior,
  4. zona de notas, ou melhor, área onde eventualmente podem ser escritas notas .

Reparem que as notas estão colocadas na parte de cima e do lado direito da ficha, porque são as zonas mais visíveis quando necessitar-mos de as folhear.

O método normal de fichar um livro, ou um artigo que se está a ler, ou que se leu, passa normalmente por 5 passos:

  1. Indicações bibliográficas precisas, bastante mais completas do que as da ficha bibliográfica, descrevendo claramente o livro - se tem ilustrações, índice, o número de páginas, tamanho, a edição, se se souber de outras, etc.;
  2. informações sobre o autor, quando não é muito conhecido;
  3. resumo do livro, que pode ser breve ou longo;
  4. citações extensas, sempre entre «aspas», dos trechos que se pensa vir a citar, com indicação precisa e clara da, ou das, páginas;
  5. comentários pessoais, entre [ parênteses rectos ], para não haver qualquer possibilidade de confusão com as citações;
Não se esqueçam que as marcas que colocarem na ficha, por qualquer razão, normalmente remetendo para uma parte do trabalho a realizar, devem ser realizadas com a ideia, de que ou poderão ser retiradas, ou não impedirão de se utilizarem outras quando as reutilizar-mos para outro trabalho. Quero dizer com isto que não utilizem marcas muito grandes.

Fichas temáticas


Exemplo de uma ficha temática
Há quem lhes chame «fichas ideográficas». São fichas que se destinam a servirem de apontamentos pessoais, transcrição de passagens e de anotação de ideias próprias que surgem provocadas pela leitura.

Caracterizam-se por terem um ASSUNTO como CABEÇALHO, que é criado de acordo com o plano de estudo, ou de acordo com uma lista de assuntos pré-existente, como seja a CDU - Classificação Decimal Universal.

Servem para serem agrupadas por temas, e podermos assim saber facilmente o que lemos sobre um determinado assunto. O conjunto das fichas temáticas cria um ficheiros de ideias que pode ser organizado das maneiras mais variadas.

Assim, numa tese sobre a História do Exército, podemos ter fichas sobre o Corpo de oficiais, a Artilharia, a Engenharia, os Hospitais, o material médico, a legislação; mas também poderemos querer organizar as fichas de uma maneira cronológica, e organizá-lo por períodos, para nos apercebermos da evolução diacrónica da instituição militar, dos períodos de maior ou menor actividade legislativa, etc., etc. Por isso é bom tentar dar uma data à ficha temática.

Nestas fichas, é preciso, aqui mais do que nunca, ter cuidado em notar bem o que é citação (entre aspas " ") do que é escrito por nós ( parênteses rectos [ ]).

Fontes:
Adelino Torres
O Método no Estudo
Lisboa, A Regra do Jogo, 1980

Umberto Eco,
Como se faz uma Tese em Ciências Humanas,
2ª ed., Lisboa, Editorial Presença,1982 (Ed. original, Milão, 1977)

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