A GUERRA EM ANGOLA.

 

5. Execução das operações e ocupação do território do Baixo-Cunene


Forças militares no Humbe

No Humbe - Movimento preparatório das forças que constituíram os destacamentos da Môngua e do Cuamato

 

Reocupação do Humbe, futura base de operações

Ao mesmo tempo que se iam organizando e equipando as linhas de comunicações, várias outras disposições foram tomadas pelo General Pereira de Eça, anteriormente à reocupação do Humbe, umas devidas à sua própria iniciativa, outras resultantes das informações sobre a situação e movimento dos alemães. Entre as primeiras devemos notar: ‑ a nomeação do coronel Veríssimo de Sousa para comandante militar dos Gambos; a deslocação de algumas unidades e a reorganização de outras cujos efectivos se encontravam desfalcados; a criação de formações que não existiam e que eram absolutamente necessárias para garantir a subsistência e eficiência das tropas em operações; e, finalmente, a marcha para o planalto e, em seguida, para o Humbe e Cassinga, das unidades e formações que deviam constituir os destacamentos destinados a operar no baixo e médio Cunene.

Entre as segundas avulta como principal a criação da Região militar de Cassinga e do Destacamento de Cassinga, do comando do major Reis e Silva.

Infantaria 17

Chegada de infantaria 17 ao Humbe

Como vimos anteriormente, o cônsul inglês em Luanda informava, em 24 de Maio, sobre a actividade militar dos alemães nas direcções do Cuangar e do Humbe. Conquanto vagas, estas informações levaram o General a constituir dois agrupamentos de forças: - um, o de maior efectivo e cujo comando directo reservava para si, destinado a operar na região do Humbe e além Cunene; outro, com a sede do comando em Capelongo, constituído pelo 3.º batalhão de infantaria 16, 2.ª bateria do 2.º grupo de metralhadoras, 8.ª bateria de artilharia 1, 1.º esquadrão de dragões e serviços auxiliares correspondentes.

O comando da Região Militar de Gassinga dispunha, além disso das guarnições militares da região e de auxiliares portugueses, estrangeiros e indígenas.

Tencionava ainda o General visitar a linha de comunicações de Cassinga, como já fizera em 18 de Abril relativamente à do Lubango-Gambos, afim de se informar pessoalmente do estado e eficiência das unidades e guarnições. O telegrama do cônsul inglês fizera-o, porém, mudar de opinião e as suas preocupações propenderam para a linha do Lubango-Gambos.

O reconhecimento directo, terminado em 24 de Junho, levou-o a concluir que no plananto

existiam os meios necessários para poder fazer sem demora a reocupação do Humbe e habilitou-o a tomar inloco as medidas indispensáveis e urgentes para completar a organização e equipamento das linhas de comunicações.

Como reconhecesse também vantagem em estabelecer um itinerário de ligação entre os Gambos e o Mulondo. escolheu para fazer o respectivo reconhecimento o capitão de infantaria Roby, oficial às ordens do Comando, o qual partiu ao seu destino. dos Gambos, em 3 de Julho, acompanhado por uma escolta, por ele próprio julgada suficiente.

 

De regresso aos Gambos em 24, o General, logo no dia 25, fes estabelecer os planos para a reocupação do Humbe e Dongoena e concentração e deslocamento dos abastecimentos para estas ocupações.

Infantaria 18

Chegada de infantaria 18 ao Humbe

Da Ordem para a reocupação do Humbe e da Dongoena, constava, como missões: - para o Destacamento do Humbe, reocupar o Humbe, batendo o gentio revoltado na zona de marcha; para o Destacamento da Dongoena, cair sobre a Dongoena, raziando a região entre o Forte da Dongoena e o Humbe, reunindo-se em seguida ao Destacamento do Humbe, no qual ficaria incorporado. O Destacamento do Humbe, sob o comando do coronel Veríssimo de Sousa, tendo como chefe do Estado Maior o capitão Conceição Mascarenhas, iniciou a marcha do Chicusse, onde se tinha concentrado, na manhã do dia 4 de Julho, indo estacionar na tarde desse dia na Mabera; em 5, no Tchipelongo, onde se deu um falso alarme durante a noite; em 6, na Bela-Bela; atingindo pelas 14h do dia 7 o Humbe, sem ter encontrado resistência da parte do gentio, mas fazendo-se sentir a falta de água.

Entre a Bela-Bela e o Humbe, foi encontrado um esqueleto humano que, pelas suas dimensões, supusemos pertencer ao 1.º sargento Rodrigues, comandante do pelotão de dragões, enviado em reconhecimento na direcção do Humbe, após a retirada de Naulila.

Às 15 h e 30 m do dia 7 o Destacamento da Dongoena, sob o comando do major de cavalaria Vieira da Rocha, entrava no Humbe ao som da marcha de guerra, depois de, sem incidentes, ter cumprido a missão de que fora encarregado. A residência do administrador, a fortaleza e as casas dos comerciantes foram encontradas destruídas por incêndio. Depois de prestada a continência à bandeira nacional. que foi hasteada na residência, as tropas bivacaram.

Os destacamentos foram dissolvidos, criando-se o Comando Militar do Humbe, à testa do qual ficou o coronel Veríssimo de Sousa. Principiou desde logo a apresentação dos indígenas, em geral velhos, mulheres e crianças. todos de aspecto esquelético, tendo os homens válidos passado além Cunene, procurando refúgio no Cuamato e no Cuanhama.

Em 9 o General, acompanhado de todos os oficiais disponíveis e tropas montadas, seguiu em direcção ao Cunene, afim de verificar o estado em que ficara o Forte Roçadas depois da retirada de Naulila, tendo-o encontrado, destruído por explosão e incêndio.

Foram ali encontrados alguns leitos de ferro que, transportados para a fortaleza do Humbe, foram utilizados num hospital temporário, que ali se instalou.

Em 12, nos Gambos, recebeu o General um telegrama comunicando que os alemães da Damaralandia se tinham rendido às forças do comando do general Botha.

Desaparecido, assim, o perigo alemão, ficava ainda para resolver a questão indígena, ou fosse a ocupação do Cuanhama e a reocupação de todo o território além Cunene, operações estas que deviam ser realizadas antes da época das chuvas, que começa em fins de Setembro.

A rendição dos alemães obrigou a alterar, em parte, o modo de emprego das tropas a concentrar no Humbe e na Região Militar de Cassinga.

Tornada desnecessária uma forte observação no vale do Cubango, o Destacamento de Cassinga, que passou a denominar-se Destacamento do Evale, foi mandado retroceder para o Capelongo, de onde desceria ao longo do Cunene até o Mulondo, aí aguardaria ordens para, oportunamente, seguir até o Cáfu, onde transporia aquele rio para ir reocupar o Evale.

Com as tropas a concentrar no Humbe foram constituídos três destacamentos – o do Cuanhama, o do Cuamato e o de Naulila – tendo, respectivamente, por missão a ocupação das regiões do mesmo nome.

Tomada esta decisão, seguiu o General para o Lubango, onde, em 14, recebeu a notícia de que o capitão Roby fora morto pelos indígenas do Quiteve.

Na Directiva para a ocupação do Baixo-Cunene prescrevia-se:

a) - Que era intenção do Comando Superior fazer a ocupação do Baixo-Cunene pela acção simultânea de quatro destacamentos, os três primeiros a concentrar no Humbe e o quarto no Mulondo, em dias oportunamente a fixar, tendo, respectivamente, como objectivos:

Destacamento de Naulila – Descer a margem direito do Cunene, atravessar o rio no vau Caluéque, operar em Naulila, dirigindo-se depois sobre o Forte do Cuamato, onde se incorporaria no Destacamento do Cuamato;

Destacamento do Cuamato – Atravessar o Cunene junto ao Forte Roçadas, dirigindo-se sobre o Forte do Cuamato, com o fim de reocupar o Cuamato;

Destacamento do Cuanhama – Atravessar o Cunene no vau Mucopa (Chimbua), dirigindo-se sobre a embala N'Giva, com o fim de fazer a conquista e a ocupação do Cuanhama;

Destacamento do Evale – Dirigir-se sobre o Quiteve, bater os povos entre o Mulondo e Cáfu, e, atravessando o Cunene, dirigir-se sobre a embala do Evale, afim de fazer a reocupação deste território;

b) - Os destacamentos iniciariam a marcha, a partir dos locais de concentração, nos dias que oportunamente fossem determinados;

c) -Os destacamentos enviariam sempre as suas comunicações sobre o Humbe, e sem prejuízo destas comunicações, procurariam ligar-se transversalmente durante a marcha, ou, pelo menos, logo que atingissem os seus objectivos.

 

De 22 de Julho a 5 de Agosto, permaneceu o General nos Gambos a ultimar os preparativos das operações, tendo ali mandado apresentar o chefe do estado maior do Comando Superior, major do Estado Maior Ortigão Peres, que ficara no Humbe. encarregado de orientar os trabalhos de preparação na base de operações.

Foi num destes dias que, por imprevidência de um chauffeur, se manifestou um incêndio no Chicusse, o que ocasionou a perda de dois camiões, conseguindo salvar-se a maior parte dos abastecimentos em depósito, pelas rápidas providências tomadas pelo respectivo chefe de serviço.

            Em 6 de Agosto, acompanhado pelo chefe e sub-chefe do estado maior do Comando Superior, chefe do serviço de saúde, chefe do estado maior do            Destacamento do Cuanhama, capitão do Estado Maior Pires Monteiro, e ajudantes de campo, seguiu o General para o Humbe. Ali teve conhecimento de que não fora feito o reconhecimento do vau da Chimbua, que ordenara, o que poderia ter as mais graves consequências se o inimigo tentasse opor-se à passagem do Cunene.

            Distribuídas a Ordem para a organização dos destacamentos e funcionamento da base de operações, as Directivas, Ordens e Instruções para a marcha, ocuparam os destacamentos, no dia 11, novos estacionamentos orientados na direcção da marcha, que deveriam iniciar na manhã do dia seguinte.

O Comando Superior – General, chefe e sub-chefe do estado-maior e ajudantes de campo – acompanhou o Destacamento do Cuanhama.

Foi na tarde desse dia 11, que, com surpresa, se tomou conhecimento de um telegrama do Governo da Metrópole pedindo o embarque urgente do material de artilharia (peças, carros de munições, etc.) que entrava na constituição dos destacamentos e que o mesmo Governo entendia não ser já preciso, depois da rendição dos alemães! 

 

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Fonte:  

Coronel António Maria Freitas Soares, «A campanha de Angola»
in General Ferreira Martins (dir.), Portugal na Grande Guerra, Vol. 2, Lisboa, Ática, 1934,
págs. 235-258

A ver também:

Portugal na Grande Guerra

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