A Edição em Jornal | |||||||
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No
Sábado, 3 de Abril de 1915 o jornal A
Capital, “Diário Republicano da Noite”, publicava a seguinte
notícia
na coluna central da primeira página: Bastam
para assegurar o êxito do novo trabalho do grande escritor, o nome ilustre e
consagrado que o firma e o tema por ele eleito, - dos mais interessantes, dos
mais fecundos, dos mais sugestivos e também dos que maior campo ofereciam à
exibição dos seus singulares recursos, se estes já agora não estivessem
sobejamente demonstrados em algumas das mais belas obras-primas da literatura
contemporânea. Virtuoso
do estilo, requintado artista da prosa, joalheiro da língua, poeta ainda
mesmo quando não compõe maravilhosos versos como os da CEIA DOS CARDEAIS e
os desses magníficos sonetos com que A CAPITAL ilustrou as suas colunas, JÚLIO
DANTAS que ao estudo minucioso e atento da nossa história, em todas as suas
fontes e em todos os seus aspectos, vem de há muito dedicando o melhor do seu
esforço e do seu talento por igual brilhantíssimos, ao escrever sobre O AMOR
EM PORTUGAL NO SÉCULO XVIII atinge a suprema perfeição da forma, do mesmo
passo que esgota o assunto, sem embargo da sua vastidão e da sua
complexidade. Século,
entre nós, de misticismo e de erotismo, coisas tão intimamente confundidas,
aquele em que D. João V comprava a peso de ouro a bem-aventurança celeste e
fazia cunhar moeda especial – as dobras de duas caras – para pagamento dos
seus caprichos libidinosos, evocou-o, descreveu-o, vivificou-o. JÚLIO
DANTAS nos surpreendentes capítulos que constituem O AMOR EM PORTUGAL NO SÉCULO
XVIII e em que o clero, a nobreza e o povo nos são mostrados em torno do
altar de Vénus… A
história do namoro, com as suas invenções tantas vezes ridículas, ocupa na
obra admirável que vamos publicar uma boa parte que para o maior número dos
leitores será certamente dum particular interesse, sobretudo pelas sobrevivências
que esses capítulos nos revelam. Em suma, o novo folhetim d’A CAPITAL, que
sairá regularmente às Terças e Sábados, formando cada capítulo um todo
completo e independente, será, sem dúvida um autêntico sucesso literário e
um novo, verdadeiro triunfo para o polígrafo notabilíssimo que se chama JÚLIO
DANTAS.» Na
Terça-feira seguinte, 6 de Abril, dia em que, de acordo com a notícia de Sábado,
sairia a primeira parte do folhetim, o jornal publicava uma caixa com a
seguinte informação: «O
AMOR EM PORTUGAL NO SÉCULO XVIII por Júlio Dantas. A CAPITAL iniciará no próximo
Sábado a publicação do folhetim, do novo e interessantíssimo trabalho que
o grande escritor elaborou expressamente para vir a lume neste diário. O
AMOR EM PORTUGAL NO SÉCULO XVIII, por Júlio Dantas publicar-se-á, com toda
a regularidade, às Terças e Sábados, abrangendo cada folhetim um capítulo
completo e independente. Alberto de Sousa, o notável aguarelista, incumbiu-se
de ilustrar com primorosos desenhos o sensacional trabalho de Júlio Dantas.» E assim foi, de
facto, no Sábado, 10 de Abril de 1915, saiu o primeiro capítulo do folhetim
com o título “O Bandarra.” A sequência normal
foi interrompida no Sábado, 15 de Maio, já que nesse dia o jornal não foi
publicado, devido ao Golpe de Estado organizado pelo general Norton de Matos,
que demitiu o general Pimenta de Castro da presidência do governo, e permitiu
aquilo que João Chagas afirmava ser a “restituição da República aos
republicanos,” ou a implantação da Nova
República Velha. Nova interrupção
se deu em 3 de Julho de 1915, agora por motivo de doença do autor. Como
noticiava o jornal: «Embora se
encontra, felizmente, melhor dos incómodos que o têm retido em casa, o nosso
ilustre amigo e eminente colaborador Sr. Júlio Dantas não pôde enviar-nos o
folhetim, que hoje devíamos publicar, da brilhantíssima série de estudos
históricos a que deu o título de «O Amor em Portugal no Século XVIII» e
que até agora ainda não foi interrompida. Júlio Dantas conta
enviar-nos o novo capítulo do seu esplêndido trabalho de modo a prosseguir
na Terça-feira a publicação do folhetim que tamanho agrado tem produzido
entre os nossos leitores. Fazemos os mais
sinceros votos pelo pronto restabelecimento do insigne académico.» Na Terça-feira dia 27 de Julho houve nova interrupção, não tendo sido publicado o capítulo desse dia, desta vez sem explicações. E sem explicação também, durante todo o mês de Agosto e quase todo o de Setembro o folhetim foi publicado somente às Terças-feiras, sendo que os três últimos capítulos foram publicados nos Sábados dia 25 de Setembro, 2 e 9 de Outubro.
© Manuel Amaral 2009-2010 |
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