Vedor honorário da Casa Real, em verificação de vida concedida
neste ofício, por decreto de 6 de julho de 1793, oficial-mor
honorário da Casa Real; comendador da Ordem de Cristo; grande
oficial da Legião de Honra de França; governador das Armas da
província do Alentejo; chefe da Legião de Tropas Ligeiras; tenente-general do
exército, distinto pelos seus grandes talentos
militares; governador da província de Minsk, na Rússia.
Nasceu a 16 de janeiro de 1754; faleceu em Koenigsberg a 2 de janeiro do
1813. Era filho do 2.º marquês de Alorna e 4.º conde de Assumar, D.
João de Almeida Portugal, e de D. Leonor de Lorena e Távora, filha
dos 3.os marqueses de Távora. Sucedeu na casa e títulos a seu pai,
em 9 de janeiro de 1802.
Não tendo ainda cinco anos, ficou privado dos afectos de pai e
de mãe, e entregue aos cuidados e compaixão dos criados, em
consequência dos acontecimentos políticos, e do crime dos Távoras,
que encarceraram seu pai no forte da Junqueira e sua mãe e irmãs
no convento do Chelas. (V. 2.º
marquês e 4.ª marquesa de Alorna).
Por morte de D. José em 1777, D. Maria I subiu ao trono, e um dos
seus primeiros cuidados foi dar liberdade aos presos do Estado; o 2.º marquês, D. João ficou livre e restituído à sua família. D.
Pedro de Almeida recebeu o título de conde de Assumar, e passou a
ocupar na corte o lugar a que tinha direito pelo seu nascimento
fidalgo. Seguiu a carreira das armas, e sendo coronel de cavalaria,
foi escolhido em 1793 para ajudante da divisão auxiliar a Espanha,
e desembarcando no porto de Rosas, lago se distinguiu nos primeiros
combates, mas no fim dum ano de campanha recolheu a Lisboa com
licença, muita preocupado com a ideia de que as generais espanhóis
não deixavam brilhar as tropas portuguesas, como era de justiça,
com a fim de reservarem todas as honras da vitória para os seus
soldadas, e que a tenente-general Forbes, comandante da divisão
portuguesa não tinha a precisa energia para se impor, evitando esta
desconsideração. Em 1795, alcançou o título de marquês,
concessão de D. Maria I, pelas cartas do 4 e 14 de abril, com as
honras do ofício de vedor da Casa Real, e a graduação de marechal
de campo, ficando efectivo no ano seguinte, 1796, sendo nomeado em
1797 chefe da Legião de Tropas Ligeiras que então se
organizou.
Com as proporções que tomara a revolução francesa, em 1799,
começou a haver receios que Portugal não pudesse evitar ser
também invadido, e o príncipe regente, D. João, conhecendo que os
seus exércitos estavam pouco habilitados para entrarem em batalha,
encarregou o marquês de Alorna de apresentar as suas ideias sobre o
modo de o organizar o disciplinar convenientemente. O ilustre
general formulou O seu plano numa desenvolvida memória, a que deu o
titulo de Reflexões sobre o sistema económico do Exército,
tratando de assentar a constituição do exercito em regras fixas e
bem definidas, tornar fácil e dependente duma simples ordem do
poder supremo a passagem do pé do paz para a do pé de guerra, e
finalmente dispor de tudo de forma que consignando à defesa do pais
a verba constante do seis milhões e meio, com as economias feitas
durante a paz, houvesse sempre um tesouro de guerra reservado para
ocorrer ás despesas extraordinárias dum ano de preparo e de dois
primeiros do campanha. Este trabalho, com o longo prazo que o
marquês contava desde os anúncios de guerra até ás primeiras
operações, deu um magnífico resultado, e é uma glória para
Portugal ver que muitos dos métodos adoptados actualmente no
exercito alemão, se encontram já propostos na memória que o
marquês de Alorna escreveu nos fins do século XVIII. Só
ultimamente esta memória, que se conservou inédita mais dum
século, foi publicada com o seguinte frontispício: Marquês de
Alorna - Marechal de Campo - Reflexões sobre o sistema económico
do Exército, 1799, Lisboa, Livraria Ferin, 1903; um volume com
retrato. No livro vem um prólogo do Sr. Fernando Maia, ilustre
lente da Escola do Exército, um que se explica a situação
política e militar do reino e a razão por que tal memória foi
escrita.
Pouco tempo depois de. ser conhecida esta memória,
perturbaram-se as nossas relações diplomáticas com a Espanha, o
tratando o governo de se preparar para a guerra, o marquês de
Alorna teve o comando das tropas que se uniram na Beira, mas foi em
vão que requisitou mais forças, dinheiro e recursos
indispensáveis para uma boa defesa; os seus pedidos tiveram somente
promessas em resposta, O então valendo se do seu próprio crédito,
abasteceu Almeida, e com a sua reconhecida energia conseguia fazer
das rochas do Monsanto uma praça de guerra, e construir na Guarda
um forte com casamatas à prova de bomba, fortificou a posição das
Talhadas com três redutos e outros entrincheiramentos, pôs o
castelo de Vila Velha, que era um montão de pedras, em estado de se
defender, levantando flechas e trincheiras, fez algumas obras nos
arredores de Sortelha e Celorico, criou um Hospital no Fundão,
estabeleceu nesta vila, em Cardigos e Celorico, armazéns para
abastecimento das suas posições e com o fim do facilitar as
comunicações para Abrantes, uma sofrível estrada, que ficou com o
nome do estrada do marquês de Aloma; em paga de tantos e
proveitosos serviços, o governa mandou-o servir como imediato do
general Dordaz, a quem deu o comando
superior da província da Beira. Das medidas então infelizmente
adoptadas, resultou a perda de Arronches e Flor da Rosa, e
finalmente a vergonhosa paz de Badajoz.
No
dia primeiro do dezembro de 1801, o governo nomeou uma grande
comissão composta de vários generais, presidida pelo ministro da
guerra, D. João de Almeida Melo e Castro, à qual foi incumbido o
estudo das nossas instituições militares e das reformas de que
elas careciam. O marquês de Alorna não teve entrada nesta
comissão, sendo porém impossível deixar do ouvir a sua opinião
num assunto em que era tão competente, foi-lhe enviado um aviso, em
17 de abril de 1804, ordenando-lhe que desse o sou voto com
individuação sobre o projecto que já estava elaborado, o que fez
por escrito declarando o plano proposto incompleto e censurando que
se quisesse alterar o que a experiência tinha mostrado bom, só
pelo deseja de fazer inovações. Parece que o marquês de Alorna
ainda escreveu nessa época a seguinte abra: Observações sobre
a memória do general Dumouriez acerca da defesa de Portugal, com
o projecto de reorganização do exército no plano de defesa do
país. Este trabalho julga-se hoje perdido, porque se não
encontra cópia alguma. O marquês de Alorna envolveu-se na
conspiração que em 1805 se tramou, para tirar a regência ao
príncipe D. João, que se deixava dominar pelo partido francês, o
por esse
motivo
não partiu para a Rio do Janeiro a exercer o cargo do governador
para que fora nomeado; mais tarde foi promovido a tenente-general,
encarregado do governo das armas do Alentejo, onde estava no ano de
1807. Do seu quartel-general de Vila Viçosa transferiu-se para
Elvas quando viu aproximar-se a guerra, tratou de reforçar a
guarnição da praça o abastece-la de víveres, ordenou ao tenente-coronel Lecor, seu ajudante de campo, que partisse a colher
notícia dos franceses, o que no caso deles terem invadido o nosso
território, seguisse para Lisboa a avisar a príncipe, recomendando
na passagem aos magistrados que cortassem as pontes e dificultassem
por todos os modos a entrada das estrangeiros. O tenente-coronel
Lecor, depois do desempenhar a sua missão, voltou a Elvas, com
ordem do não pôr obstáculos à marcha das tropas do general
Solano, e o marquês de Alorna teve de resignar-se a
cumprir as ordens do regente, que abandonava o seu povo, na ocasião
do perigo, partindo para o Brasil.
A conquista fora fácil aos franceses, mas para que eles
pudessem manter o seu domínio, tornava-se urgente impossibilitar os
meios de que os portugueses podiam dispor para recuperar a sua
independência; para alcançar esse resultado, Junot, primeiro
ajudante de campo do imperador Napoleão, teve a ideia de dissolver
o exército e afastar para longe os melhores soldados e os chefes
mais conhecidos. Foi daqui que nasceu o licenciamento do exército e
organizar-se a Legião Portuguesa em que entraram Gomes Freire de
Andrade e Manuel Martins Pamplona, depois conde de Subserra.
íntimos amigos do marquês de Alorna, ficando o marquês com o
comando geral. A Legião Portuguesa foi, portanto, manifestamente
criada por Junot, não só com o fim de recrutar mais alguns
soldados para os exércitos franceses, mas também, e era talvez
esse o principal fim, de afastar de Portugal, enviando-os ao centro
das hostes napoleónicas, os homens mais perigosos, habituados à
disciplina militar e a defenderem a bandeira portuguesa, cuja
permanência poderia ser fatal aos invasores. O marquês de Alorna
saiu de Portugal com as forças do seu comando, na primavera de
1808, acompanhou-as até Burgos onde ficou doente, indo depois encontrá-las
em Baiona. Os franceses tomaram todas as precauções
para que as notícias desfavoráveis não transpirassem, mas apesar
dessas precauções, o marquês de Alorna teve conhecimento da
derrota de Dupont, nos campos de Bailén; então chamou ao seu
quartel-general os comandantes dos corpos alojados nas proximidades,
e propôs-lhes o regresso da legião a Portugal; os comandantes,
porém, consideravam grande temeridade a marcha de tão pequena
força pelo meio dos exércitos franceses, e o marquês teve de
desistir da sua ideia, bem a seu pesar. Napoleão, parecendo
adivinhar aquele plano, ordenou que a legião entrasse em França e
se aquartelasse em Grenoble. Em quanto as tropas portuguesas
estiveram nesta cidade, o comando era exercido pelo general da
divisão territorial e pelo inspector, ficando Alorna somente com o
título de comandante, sem atribuições algumas, e assim se
conservou até março de 1809, em que indo a Paris, teve ordem de
seguir para o quartel-general do rei José Bonaparte, onde o
detiveram até junho de 1810, sem comando e afastado das tropas.
Preparava-se nesta época a terceira invasão contra Portugal, e
Napoleão pensou que a presença de alguns generais e fidalgos
portugueses no exército poderia facilitar a realização de seu
intento; o marquês de Alorna recebeu então ordem de se apresentar
em Salamanca ao general Massena, com o qual seguiu para a fronteira
e entrou em Portugal. A regência de Lisboa, tendo conhecimento do
facto, passou a portaria de 6 de setembro de 1810 exautorando o
marquês de Alorna, privando-o de todos os títulos, honras e
dignidades. e até do nome de português, oferecendo ao mesmo tempo
mil moedas a quem, vivo ou morto, o apresentasse, além do perdão
no caso de ser seu cúmplice no crime de traidor à pátria.
Seguiu-se depois um processe instaurado no juízo da inconfidência.
em que o condenaram à morte em cadafalso alto no cais de Belém,
sendo-lhe antes decepadas as mãos, devendo o cadafalso e o corpo
serem reduzidos a cinzas e tudo lançado ao mar, concluindo ainda a
sentença com a perda dos bens para o fisco, e autorizando qualquer
do povo a dar a morte ao réu onde quer que o visse e reconhecesse
ser o próprio. Massena, com a derrota de Torres Vedras, voltou para
França, indo com ele o marquês de Alorna, que em março de 1812
foi encarregado de inspeccionar as tropas da legião que se
preparavam para a campanha da Rússia, seguindo depois com o
regimento de cavalaria na retaguarda do exercito francês. Chegando
a Lituânia, Napoleão confiou-lhe o governo da praça de Mohilow, e
aí se conservou até que o imperador se viu obrigado a recuar. Nas
margens do Dniepper foi juntar-se aos restos do grande exercito, e
acompanhando a retirada, chegou a Koenigsberg nos últimos dias de dezembro de 1812, já muito doente, falecendo poucos dias depois.
Quando se verificou o enterro, já os cossacos estavam muito
próximo, por isso se lhe não ponde prestar as honras militares que
lhe competiam. Assim exautorado das honras na pátria, e privado da
última homenagem a que lhe dava direito a sua graduação, foi
enterrado em terra estrangeira o 3.º marquês de Alorna, que podia
ter prestado grandes serviços ao seu país, se o governo em 1808
tivesse, como era justo, exigido na convenção de Sintra o regresso
da legião a Portugal. Sua irmã, a marquesa de Alorna, trabalhou
durante dez anos para reabilitar a sua memória, e só então é que
ponde alcançar a sentença, que, atendendo à pressão debaixo da
qual o marquês servia no exército imperial e a dificuldade que
teria em se evadir, o julgou sem culpa e reconheceu a iniquidade da
sentença que o havia considerado traidor à pátria, quando fora a
pátria que primeiro dele se esquecera.
O marquês de Alorna casara a 19 de
fevereiro de 1782, com D.
Henriqueta da Cunha, 1.ª filha dos 6.os condes do S.
Vicente. Teve dois filhos: D. João de Almeida, 6.º conde de
Assumar por decreto de 15 de maio de 1805, falecido em 27 do setembro do mesmo ano; e D. Miguel de Almeida, 7.º conde de
Assumar, por decreto do 24 de junho de 1806, falecido em agosto
também do mesmo ano. Foram ambos alferes da Legião de Tropas
Ligeiras.