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João III.
n. 6
de junho de 1502.
f. 11 de junho de 1557.
O Piedoso,15.° rei de
Portugal.
Nasceu em Lisboa a 6 de junho de
1502, onde também faleceu a 11 do referido mês, do ano de 1557.
Era filho do rei D. Manuel e de sua segunda mulher, a rainha D.
Maria, filha dos reis católicos Fernando e Isabel.
O dia do seu nascimento foi
assinalado por uma horrorosa tempestade, e o do baptismo por um incêndio
que se declarou no paço, coincidências que muito impressionaram
como de grande agoiro no futuro reinado. Infelizmente, os factos
posteriores vieram confirmar estes lúgubres presságios. Em criança
deu mostras de medíocre inteligência, e além disso, não teve uma
aplicação assídua e séria que os estudos demandam; distraía-se
muito com os passatempos que tanto preocupam a juvenil idade, e os
mestres, ou por demasiado respeito, ou por mera adulação, nunca
pensaram em exercer para com o real discípulo a autoridade que por
boa razão lhes cabia. Não chegou, portanto, a desenvolver as
faculdades intelectuais, como seria fácil na presença dos grandes
meios de instrução que lhe foram proporcionados. Nos Anais de
El-rei D. João Terceiro, publicados por Alexandre Herculano em
1844, Parte I, Cap. II, diz frei Luís de Sousa, depois de mencionar
todos os mestres de D. João III:
"Porém de todo este cuidado
se lhe não pegou mais que uma boa inclinação para as Letras e
letrados, em tanto grau, que achamos posto em memória, que quando
o nosso celebrado Cronista da Ásia, João de Barros, compunha por
passatempo a fábula do seu Clarimundo, afim de polir o estilo, para
vir a escrever as verdades dos feitos portugueses, guerras e
costumes da Ásia, com que depois espantou o mundo, tinha o Príncipe
tanto gosto da lição dela, que acontecia tomar-lhe os cadernos
e de sua mão os ir emendando. Que não pode ser mais claro
indicio de amor aos Livros: que todavia valeu muito a este Reino.
Porque vindo a reinar fez que florescessem nele com grandes vantagens
todas as boas letras".
Quando tinha dezaseis anos pretenderam
casá-lo com a juvenil infanta D. Leonor, irmã do imperador Carlos
V, porém D. Manuel, que tinha enviuvado, agradou-se da noiva
destinada a seu filho, e escolheu-a para as suas terceiras núpcias.
O príncipe ressentiu-se muito com o procedimento do rei, que
considerou uma ofensa, e desde então se ficou sombrio e melancólico,
tornando-se fanático em extremo, o que deu causa ás maiores
atrocidades que se praticaram no seu reinado. Tinha pouco mais de
dezanove anos quando faleceu seu pai, a 13 de dezembro de 1521, e
foi aclamado rei de Portugal no dia 19. Era muito afeiçoado à
madrasta, e parece que a rainha viúva D. Leonor lhe correspondia
com igual afecto. Chegou-se a murmurar destes amores, despertando
ideias de um casamento, que muito agradava ao povo. Carlos V, porém,
é que se opôs, pretendendo que a irmã casasse com o rei de França,
Francisco I, e D. Leonor retirou-se para Espanha. D. João III veio
depois a casar em 5 de fevereiro de 1525, na vila de Alvito, com D.
Catarina, outra irmã de Carlos V (V. Catarina,
D.).
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D. João
III
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Quando subiu ao trono em dezembro de
1521, Portugal dominava na Ásia, na África e na América, fundara
fortalezas na Índia, e até no extremo Oriente tinha o senhorio de
muitas ilhas africanas, e duma parte das costas orientais e
ocidentais dessa parte do mundo, possuindo também o território
vastíssimo do Brasil, que chamou muito a atenção do monarca.
Dividiu-o em capitanias, e começou assim por meio de donatários a
colonizá-lo, sendo ele também quem lhe nomeou o primeiro
governador-geral, que foi Tomé de Sousa, que em 1549 fundou a
cidade da Baía. (V. este nome). A parte importante da história
de D. João III é a história da Índia. Subindo ao trono,
governava aqueles estados D. Duarte de Meneses, que desonrava o nome
português com as suas piratarias, e D. João III mandou-o
substituir por D. Vasco da Gama, conde da Vidigueira, que pouco
tempo governou, mas conseguiu restabelecer a moralidade com a sua
austera energia. Sucedeu D. Henrique de Meneses, homem também enérgico
e austero, que socorreu Calecute cercada pelo inimigo. Em seguida
devia governar a Índia Pedro Mascarenhas, mas Lopo Vaz de Sampaio
assenhoreou-se do poder, e entre os dois governadores e os seus
partidários rebentaram as mais vergonhosas dissensões. Nuno da
Cunha fundou as fortalezas de Diu e Baçaim. D. Estêvão da Gama
enviou uma expedição à Abissínia, Martim Afonso de Sousa
tornou-se tão notável pela sua bravura como pela sua cobiça, D.
João de Castro renovou as gloriosas tradições de Afonso de
Albuquerque, mas desde então começou a decadência. Contudo, nesse
tempo, o poder dos portugueses ampliou-se muito. Descobriu-se a província
do Espírito Santo em 1522; conquistou-se Goleta em 1535; deu-se o
segundo cerco de Diu, em 1546; a conquista de Baroche, por D. João
de Menezes, e a vitória do Dabul, por D. João de Castro, em 1547;
a derrota dos franceses, por Mem de Sá, em 1556. O nosso domínio
chegou à China e ao Japão; os nossos missionários penetraram nos
mais recônditos países do Oriente, as nossas fortalezas ergueram
se nos extremos limites dos mares das Índias.
A má administração e o desejo
ambicioso de enriquecer que animava alguns governadores e muitos
fidalgos, entregando-se sem rebuço à pirataria e ao roubo,
causaram a decadência da Índia, concorrendo também muito a influência
dos jesuítas e o estabelecimento do tremendo tribunal da Inquisição.
O que mais preocupava o espírito de D. João III era o seu
fanatismo religioso, que o levou à ferocidade, e tão funesto foi
para Portugal. Desejoso de implantar a Inquisição no reino e seus
domínios, travou com a cúria romana as mais demoradas negociações,
gastando enormes quantias, chegando a declarar que se o papa não
acedesse ao seu pedido não teria duvida em separar-se do grémio
católico, seguindo o exemplo de Henrique VIII, de Inglaterra.
Afinal a Inquisição ficou instituída neste reino pela bula de
Paulo III, datada de 23 de maio de 1536, sendo instituído o
tremendo tribunal na sua forma mais completa pela bula de 16 de julho
de 1547. A Companhia de Jesus foi fundada em 1534, foi aprovada em
1540 pelo pontífice Paulo III, e nesse ano entraram em Portugal os
primeiros jesuítas, que o fanático monarca acolheu com o maior
entusiasmo. A Companhia de Jesus tomou toda a preponderância que
desejava; D. João III confiou-lhe o ensino e as missões. Como
missionários, deve dizer-se, que prestaram bons serviços,
principalmente S. Francisco Xavier na Índia, e José de Anchieta no
Brasil.
O monarca havia transferido em abril
de 1537 para Coimbra a Universidade, que até então estava em
Lisboa. Facilitara subsídios a muitos rapazes de talento para irem
estudar nas universidades estrangeiras, e chamará a Portugal homens
de abalizado merecimento literário e científico, para virem
ensinar as boas letras e as ciências na Universidade. Desta forma
dava D. João III demonstrações de que pretendia elevar a
Universidade, e em geral os estudos, a subido grau de esplendor. Mas
a influência dos jesuítas fez com que por carta régia de 10 de setembro
de 1555, passasse o Colégio das Artes e o governo dele mui
inteiramente ao Padre Diogo Mirão, Provincial da Companhia de Jesus
Os jesuítas erigiram estabelecimentos nas principais cidades do
reino, onde logo se encarregaram da instrução da mocidade.
Tornaram-se rivais da Universidade e dos bispos, e adquiriram uma
superioridade decidida sobre todas as outras ordens religiosas. O
que faz honra à memória de D. João III é a aceitação que dava
a Pedro, Nunes, a quem muito distinguiu. Pedro Nunes tinha vindo de
Salamanca para reger a cadeira de Matemática na Universidade de
Lisboa, e regeu ainda outras cadeiras da mesma faculdade, e quando
se deu a transferência da Universidade, regeu também em Coimbra a
cadeira de Matemática até ao ano de 1562, em que foi jubilado. O
ministro predominante na corte deste fanático monarca foi Pedro de
Alcáçova, excepto nos negócios da Inquisição, em que el-rei
resolvia só por si. As questões religiosas eram as que mais o
interessavam. D. João III ligou-se por tal forma à Espanha, que
preparou o desastre
de 1580.
Influenciado
por Carlos V, os dotes das princesas portuguesas, que desposavam os
príncipes castelhanos, constituíam um bom recurso financeiro a que
o imperador recorria sempre que podia. Do seu consórcio teve os
seguintes filhos: D. Afonso, nascido em 1526, e que morreu criança;
D. Maria, nascida em 1527, e que faleceu em 1545, sendo a primeira
mulher de Filipe II, de Espanha; D. Isabel, que nasceu em 1529, e
faleceu em criança; D. Beatriz, nascida em 1530, falecendo ainda no
berço; D. Manuel, nascido em 1531 e falecido em 1537; D. Filipe,
que nasceu em 1533 e faleceu em 1539; D. Diniz, nascido em 1535, faleceu
em criança; D. João, que nasceu em 1537, e faleceu em 1554, que
foi o pai do rei D. Sebastião; D. António, nascido em 1539 e
falecido em 1540. Teve um filho bastardo, D. Duarte, que, nasceu em
1521 e faleceu em 1543, sendo arcebispo de Braga. De tantos filhos
nenhum lhe sobreviveu, vindo a suceder no reino seu neto D. Sebastião,
que apenas contava três anos de idade quando morreu o avô.
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Biografia
de D. João III
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