O
Magnânimo, 24.° rei de Portugal.
Nasceu
em Lisboa a 22 de outubro de 1689, onde também faleceu a 31 de julho
de 1750. Era segundo filho de D. Pedro II, e de sua segunda mulher,
a rainha D. Maria Sofia Isabel de Neuburgo.
Falecendo
seu irmão mais velho, do mesmo nome João, a 30 de agosto de 1688,
tendo apenas um mês de vida, foi proclamado príncipe herdeiro em 1
de dezembro de 1697, em acto solene na presença da corte, e por
morte de seu pai, em dezembro de 1706, subiu ao trono, sendo
solenemente aclamado no dia 1 de janeiro de 1707.
Em 1696 fora armado por seu pai cavaleiro da Ordem de Cristo. No Ano
Histórico, do padre Francisco de Santa Maria, vol. I, pág. 12
e seguintes, vem uma descrição minuciosa desta cerimónia e das
festas que então se realizaram.
D. .João V herdou de seu pai uma
guerra que ia começar a ser desastrosa, a da Sucessão de Espanha.
Os pretendentes eram o arquiduque Carlos e duque de Anjou, neto de
Luís XIV, Filipe V. A Espanha aceitava a realeza de Filipe V, e D.
Pedro II, de Portugal, aliara-se com os ingleses e os austríacos a
favor do arquiduque. O duque Berwick, um dos generais de Filipe V,
tinha na sua frente o general português marquês dás Minas, que na
campanha de 1706 atravessou a Espanha e entrou vitorioso em Madrid,
onde fez aclamar o arquiduque com o nome de Carlos
III. Mas a
vontade decidida de Espanha de querer Filipe V para seu rei, era
muito poderosa. As províncias intermediárias entre Madrid e
Portugal sublevaram-se em massa, ao mesmo tempo Luís XIV, por um
esforço desesperado, reforçava as forças do duque de Berwick, e o
marquês das Minas achava-se em Madrid cortado da fronteira
portuguesa. Outro general do arquiduque, lorde Peterborough,
desembarcara na província de Valência da qual tomara posse, e o
marquês das Minas, obrigado a abandonar Madrid, em vez de se
retirar para Portugal, foi para Valência. O duque de Berwick
seguiu-o desejoso de
dar batalha nas planícies dessa parte da Espanha, por causa da
grande superioridade da sua cavalaria. O marquês das Minas desejava
evitá-la, por isso mesmo, mas lorde Galloway, comandante das tropas
auxiliares inglesas, insistiu para que se travasse a luta. Deu-se
então a batalha de Almanza a 25 de abril de 1707, em que ficou
vencedor o partido de Filipe V. O marquês das Minas deixou sob o
comando do conde de Atalaia um pequeno exército português agregado
ás tropas inglesas, e veio para Portugal. A guerra daí em diante
foi apenas uma série de combates de pouco valor nas fronteiras,
sendo o facto mais importante a defesa de Campo Maior, em 1711,
ultima façanha da guerra da Sucessão de Espanha, em que Portugal
se envolvera: A guerra expôs à perseguição dos franceses a nossa
marinha e as nossas colónias. Em 1710 organizou-se em Brest uma
pequena esquadra para atacar o Rio de Janeiro, mas o comandante, Mr.
du Clerc, ficou derrotado caindo em poder dos portugueses. Esta notícia
causou a maior satisfação em Lisboa, e celebrou-se um solene
Te-Deum na capela real a que assistiu o rei e toda a régia família.
No ano seguinte, 1711, uma outra esquadra, comandada pelo célebre
marítimo Du Guay-Trouin, veio atacar o Rio de Janeiro, e vingou
cruelmente o desastre do seu compatriota du Clerc, apesar da forte
resistência, oposta pelo governador Francisco de Castro de Morais.
A cidade foi posta a saque. Finalmente, em 1715 assinou-se o tratado
de Utrecht entre as diversas potências beligerantes, que trouxe a
paz à Europa. Nesta luta foi Portugal que menos aproveitou, porque
nenhumas compensações obteve por tantos e tão cruéis sacrifícios.
Enquanto
durara a guerra com a Espanha e a França, deu se o casamento do rei
D. João V com a arquiduques D. Maria Ana de Áustria, filha do
imperador Leopoldo, irmã do imperador José, então reinante, e do
imperador Carlos VI. Foram assombrosas as solenidades que se
realizaram em Viena e depois em Lisboa à chegada da nossa rainha. O
conde de Vilar Maior, Fernando Teles da Silva, foi encarregado, como
embaixador extraordinário, de ir pedir em casamento a arquiduquesa.
O embaixador chegou a Viena a 21 de fevereiro de 1705, e antes de
fazer a sua entrada. pública, recebeu audiência particular do
imperador, da imperatriz sua mulher e da imperatriz viúva; dias
depois também lhe foi concedida audiência das arquiduquesas. A
entrada oficial demorou-se algum tempo, porque o embaixador português
esperava que de Holanda lhe chegassem alguns coches e cavalos, que
deviam figurar no acto solene. No dia 7 de junho é que se realizou
a imponente cerimónia da apresentação. O conde de Vilar Maior
saiu de Inzerstorff, para onde partira na véspera, e entrou em
Viena com todo o aparato; aí o esperava o conde Waldestein,
marechal da corte, o qual o conduziu com dois coches do imperador, e
mais quarenta e dois, tirados a seis cavalos, mandados pelos cavalheiros
principais da corte com os seus gentis-homens. O cortejo era
imponente; passou pelo paço da Favorita, em cujas janelas se viam o
imperador José, as imperatrizes e as arquiduquesas, e seguiu até
ao palácio do embaixador português. No dia seguinte, o conde
Gundacharo Poppone de Dietrichstein, com os mesmos dois coches
do imperador, foi buscar o conde de Vilar Maior, Fernando Teles da
Silva, para a conduzir ao paço da Favorita, à audiência pública
dos imperadores reinantes, e pouco depois ao paço de Viena, onde
também foi recebido em audiência pela imperatriz viúva e pelas
arquiduquesas. No dia 21 de junho é que no paço da Favorita, em
solene audiência foi pedida em casamento a arquiduquesa D. Maria
Ana, em nome do rei de Portugal D. João V. Repetiu-se depois a
mesma cerimónia no paço da imperatriz viúva. O embaixador
entregou à futura rainha o retrato de D. João V, guarnecido de
diamantes de grande valor. Neste mesmo dia se assinou o contrato de
casamento. À noite houve baile no Paço, e no dia seguinte
realizou-se no palácio do embaixador um magnífico cortejo, a que
assistiu toda a corte austríaca. Em 9 de julho efectuou-se a cerimónia
nupcial, sendo o imperador quem recebeu a rainha por procuração do
rei de Portugal; foi celebrante o cardeal de Saxónia Zeits, a quem
o conde embaixador presenteou com um dos seus coches, tirado a seis
cavalos, presenteando também com diversas dádivas todos os demais
capelães que assistiram à solenidade. Na viagem para Portugal
tocou em diversos portos, realizando-se sempre pomposas festas, até
que em 26 de outubro chegou a Lisboa, onde teve uma imponentíssima
recepção. No paço da Ribeira houve serenatas e músicas. No
Terreiro do Paço queimaram-se fogos de artifício, e armou-se um
anfiteatro, onde em três tardes sucessivas se realizaram corridas
de touros. No dia 22 de dezembro, seguidas dum pomposo cortejo,
foram as pessoas reais e toda a corte à Sé, onde se cantou um
solene Te-Deum.
No Ano
Histórico do Padre Francisco de Santa Maria, vol. II, pág
334 e seguintes, vêem minuciosamente descritas as esplêndidas
festas, os deslumbrantes cortejos e cerimónias, que se realizaram
em Viena de Áustria e em Lisboa, assim como a descrição do dote
da rainha. do contrato do casamento, e de muitas ofertas feitas pelo
imperador da Áustria às pessoas que compunham a embaixada
portuguesa.
Em
Lisboa houve por esta época uma notável contenda com os
embaixadores das principais potências, que insistiam para terem
umas franquias incompatíveis com o regular andamento da justiça.
D. João V foi sempre muito enérgico em todas estas contendas com
os ministros estrangeiros, mantendo as prerrogativas da Coroa e as
preeminências marcadas pela etiqueta com a mais severa austeridade.
Também pode dizer-se que em poucas épocas teve Portugal diplomatas
tão hábeis como no tempo de. D. João V, em que se encontram os
nomes de D. Luís da Cunha, Diogo de Mendonça Corte Real e de
Alexandre de Gusmão. O monarca era extremamente devoto, e dessa
exagerada devoção resultou intervir Portugal numa guerra entre o
papa, os venezianos e os turcos. Em 1716 enviou em socorro do papa
uma luzida esquadra, comandada pelo conde do Rio Grande, que tomou
parte na gloriosa vitória do cabo Matapan, mas que sobrecarregou a
fazenda com uma despesa enorme. Descuidava das causas urgentes do país,
e despendia largas e fabulosas somas com a cúria romana, com
igrejas e monumentos religiosos. Construiu o grandioso convento de
Mafra que custou 120 milhões de cruzados; a capela de S. João
Baptista na igreja de S. Roque, obra riquíssima que se construiu em
Roma pelo desenho de Vanvitelli, e enquanto se não concluiu, D. João
V mandava repetidas vezes importantes quantias exigidas pelo papa,
então Bento XIV. Em 1744 ficou pronta a capela, que se armou
dentro da igreja de S. Pedro, e depois de sagrada em 15 de dezembro
do referido ano, o papa oficiou de pontifical. O rei, por esta
distinção feita à sua devota capela, presenteou o pontífice com
100.000 cruzados. Em 1746 foi toda desarmada e cuidadosamente
encaixotada, transportando-se assim para Lisboa, sendo acompanhada
por alguns dos artistas que tinham trabalhado na obra e do escultor
afamado Alexandre Giusti, que nunca mais abandonou Portugal. Quando
a capela chegou a Lisboa, achava-se D. João V gravemente doente, e
já não pôde ver realizada a sua monumental obra, porque faleceu
pouco tempo depois. A capela somente se colocou em S. Roque já no
reinado de D. José, em 13 de janeiro de 1751. No vol. XI do Gabinete Histórico, de Fr. Cláudio da Conceição, vem descrita a história
da capela de S. João Baptista na igreja de S. Roque e de todas as
suas grandiosas riquezas.
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D. João V
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D.
João V engrandeceu bizarramente a capela real que ele elevou a uma
sumptuosa patriarcal com um numeroso cabido, musicas e cantores. (V.
Patriarcal). Dividiu
Lisboa em duas partes: Lisboa Oriental e Lisboa Ocidental; a
primeira metropolitana e a segunda patriarcal. As negociações para
a concessão desta igreja custaram também importantíssimas somas,
que se enviaram à Cúria romana; conseguiu igualmente do Papa a 22
de dezembro de 1748, a troco de grandes dádivas, a denominação de
rei fidelíssimo para si
e para os seus descendentes, considerando assim como a maior glória
da sua raça o ter sido sempre fiel à Santa Sé. As prodigalidades
deste monarca eram extraordinárias; enriqueceu os conventos, deu
dinheiro ilimitado aos fidalgos; nos últimos anos da sua vida
mandou rezar para cima de 700.000 missas; por urna imagem que o papa
benzeu, de prata dourada, deu 120.000 cruzados; para Jerusalém
mandou 1.377 cruzados; fundou o convento do Louriçal dotando-o com
6.000 cruzados, e deu-lhe muitas alfaias e pratas; ceou dois
bispados no Brasil; mandou para diferentes igrejas do estrangeiro
alfaias e adornos de incalculável valor; em indulgências e
canonizações enviou para Roma perto de 1,38 milhões de cruzados;
na missão que foi a Roma assistir a um conclave gastou-se para cima
de dois milhões de cruzados; ao núncio Bichi, quando se retirou de
Lisboa, mandou dar-lhe 1.000 moedas para ajuda da viagem; ao cardeal
Oddi deu-lhe uma caixa de brilhantes no valor de 20.000 cruzados,
etc. Apesar da sua exagerada devoção, não tinha escrúpulo em
profanar a clausura das virgens do Senhor, o que lhe adquiriu o
titulo de rei freirático, transformando, por exemplo, o convento de
Odivelas, sustentando escandalosamente os seus amores com a madre
Paula, freira sua predilecta.
O
que bastante ilustra este reinado foi a edificação do Aqueduto das
Aguas Livres, melhoramento de grande importância (V. Águas
Livres, aqueduto das),
e a fundação da Academia Real da História Portuguesa, pelo
decreto de 8 de Dezembro de 1720. Esta Academia tinha por fim
escrever a história eclesiástica destes reinos, e depois tudo o
que pertencesse à história deles e de suas conquistas. (V. Academia
Real da História Portuguesa). Também neste reinado se deu
muita atenção aos estudos de cirurgia; em 1715 foi impressa a
tradução da Cirurgia de Le Clerc; em Abril de 1731
estabeleceu-se no hospital real de Todos os Santos uma escola cirúrgica,
dando as lições Isaac Eliot com cirurgiões de partido, aos quais
o rei assignou o vencimento de um tostão por dia. No Porto
estabeleceu-se em 1746 a Academia Cirúrgica Protótipo-Lusitânica
Portuense (V. este nome),
cujos estatutos foram aprovados por D. João V. Na Historia
dos Estabelecimentos científicos, literários e artísticos, de
José Silvestre Ribeiro, vol, I, pág. 174 e seguintes, encontram-se
notícias circunstanciadas acerca desta academia. D. João V tinha
constante desvelo em favorecer os autores pobres, habilitando-os a
publicar os seus escritos, que sem a protecção do monarca,
ficariam por imprimir. Se alguma obra lhe era indicada como
excelente, e já rara, não hesitava em a mandar reimprimir. Foi
assim que se publicou a História Genealógica da Casa Real
Portuguesa, por D. António Caetano de Sousa; O Vocabulário
português e latino de Bluteau; o Corpus poetarum lusitanorum,
do padre António dos Reis, e outras muitas obras. Reuniu, com
grande dispêndio, uma rica livraria no seu palácio, bem como
numerosos e interessantes objectos de estudo. D. António Caetano de
Sousa dá curiosas notícias a este respeito: «Assim tem, diz ele,
uma numerosa e admirável livraria, que se vêem as edições mais
raras, grande número de manuscritos, instrumentos matemáticos,
admiráveis relógios, e muitas outras coisas raras que ocupam
muitas casas e gabinetes. Não havia no Paço mais que um pequeno
resto da Livraria antiga da Sereníssima Casa de Bragança: o rei o
fez colocar em esta Real biblioteca, que se compõe de muitos mil
volumes, que quase não cabem no grande edifício chamado o Forte.»
Determinou ao seu enviado junto à Santa Sé, Manuel Pereira de
Sampaio, que formasse uma colecção de tudo quanto pudesse
descobrir nas bibliotecas da Cúria Romana, que dissesse respeito à
história do reino. Do cumprimento desta ordem proveio talvez a
colecção que tem o título de Symmicta Lusitanica, que
existe na Biblioteca Real da Ajuda, excedente a 200 volumes. A
Sebastião José de Carvalho, quando foi ministro plenipotenciário
na Grã-Bretanha, ordenou que reunisse uma colecção de bíblias
hebraicas, e de tudo quanto pertencesse a seus ritos, leis, costumes
e polícia, em qualquer das línguas vivas. Aquela preciosa colecção
chegou a Lisboa no ano de 1743. Por este tempo foi Martim de Mendonça
nomeado bibliotecário de o rei e adiantou este ramo de erudição,
mandando vir obras da mesma natureza na língua original, em que era
muito versado. Para aumentar a Biblioteca Real sustentou o soberano
muitos amanuenses fora do país por alguns anos. Para o mesmo fim
fez comprar diversas colecções de livros, tiveram ordem os
livreiros Gendeon e Reycend de mandar vir os que pudessem alcançar.
Destes livros repartiu o rei com as bibliotecas das Necessidades e
de Mafra, por sua ordem se abriram nesta última casa, em janeiro de
1731, escolas públicas, com sete cadeiras. Em Outubro deste mesmo
ano chamar a Lisboa Martim de Pina de Proença, para formar o catálogo
da livraria real, na ocasião em que tinham chegado 20.000 volumes.
A Universidade de Coimbra não possuía uma casa competente para
acomodação duma livraria. O reitor Nuno da Silva Teles solicitou
e obteve do soberano a permissão de construir um bom edifício. A
provisão régia, que deu esta licença, tem a data do de 31 de outubro de 1716. A casa da livraria veio a concluir-se, sendo reitor
Francisco Carneiro de Figueiroa. D. João V, também elevou a
100$000 réis anuais a verba de 40$000 réis, que a Universidade
tinha para a compra de livros. Promoveu os estudos militares,
mandando traduzir e imprimir algumas obras de fortificação e
artilharia; Assistindo a actos solenes dos exames de tais
disciplinas, e decretando em 24 de dezembro de 1732, que, além da
Academia Militar estabelecida na corte, e a da praça de Viana do
Minho, se estabelecessem outras academias militares: uma na praça
de Elvas e outra na de Almeida. Em 1713 já o monarca havia mandado
traduzir e imprimir a Fortificação
Moderna, de Pfeffinger. Foi protector e académico, com o título
de Pastor Albano, da Academia
dos Árcades, de Roma, e ali comprou um sítio em que se
estabeleceu a Academia, para se realizarem as suas assembleias.
Sobre a porta do edifício está, colocada uma inscrição latina.
Esta Arcádia fora fundada em 1690 por alguns poetas célebres.
Mandando D. João V vir par a sua igreja patriarcal músicos e
cantores italianos, começou em Portugal a influencia da musica
italiana.
As
solenidades que se realizavam naquele sumptuoso templo, eram
imponentes, executadas por um coro de 70 cantores, muitos deles
escolhidos entre os melhores que se podia encontrar em Itália,
dirigidos pelos professores Scarlatti, João Jorge, Jomelli e David
Peres, os mais eminentes mestres então conhecidos no referido país.
D. João V também mandou vir de Roma cantocanistas e liturgistas,
enviando para aquela cidade a estudar alguns pensionistas. De todos
os livros do coro usados no Vaticano, mandou tirar cópias para
servirem na sua real capela, em observância rigorosa do uso e
ritual pontifício. D. João V também prezava a música profana. Os
saraus do Paço eram frequentemente entretidos com peças teatrais
ornadas de música. As mais antigas representações neste género,
de que há notícias, são as festas realizadas em 1711, 1712 e 1713
nos dias dos anos do rei e da rainha. Em 1733 um violinista italiano
ao serviço do Paço, Alexandre Paghetti, obteve privilégio para
dar representações públicas de óperas no teatro armado junto ao
convento da Trindade, em que se cantaram algumas óperas nos anos de
1737 e 1738. No teatro da rua dos Condes também se cantaram em
1738, 1739 e 1740. D. João V mandou construir um teatro no palácio
de Belém, que tinha comprado em 1726 ao conde de Aveiras, e foi
este o primeiro teatro régio especialmente construído para esse
fim, inaugurando-se a 4 de novembro de 1739, o monarca instituiu um
seminário destinado ao ensino especial da música, organizado à
semelhança do de Vila Viçosa, e cujas despesas eram pagas pelas
rendas da Capela Real. Tem a data de 9 de abril de 1713 o decreto
que fundou este novo seminário de música, o qual começou logo a
funcionar no antigo paço dos arcebispos; pouco depois, para ter
mais largueza, foi transferido para o convento de S. Francisco.
Em
1729, D. João V casou seu filho, o príncipe D. José, com a
princesa espanhola D. Mariana Vitoria, e sua filha, D. Maria Bárbara,
com o príncipe das Astúrias, D. Fernando, que depois foi Fernando
VI, rei de Espanha. A troca das duas princesas efectuou-se na presença
dos dois soberanos das duas cortes, num pavilhão que se ergueu na
ponte sobre o rio Caia, exactamente na fronteira dos dois estados,
fazendo-se tudo com extraordinária pompa. Em 1742 foi o monarca
atingido pelo primeiro ataque de paralisia. Reconhecendo o seu
estado melindroso, dedicou-se a Deus, temendo a morte que o
esperava. Os frades estimulavam-lhe o fervor religioso, e os físicos
lhe aconselhavam o emprego das águas das Caldas da Rainha. D. João
V utilizou efectivamente estas águas, acompanhando o tratamento com
exercícios devotos e muitas rezas. Fez treze jornadas às Caldas,
seguido de frades e de freiras. Em 1717 ordenou que o hospital fosse
refundido, ficando as obras concluídas em 1750. Em Julho deste ano
piorou consideravelmente, e foi sacramentado. Os frades foram
chamados, recitaram-se salmos e jaculatórias, e o núncio veio
administrar-lhe o sacramento da extrema unção. O rei expirou pouco
depois, tendo a seu lado a rainha, o príncipe D. José, os infantes
D. Pedro e D. António, o cardeal da Cunha e os médicos da corte.
Assim
terminou o rei D. João V, deixando pobre o país pelas suas
prodigalidades e desperdícios. Deixou também três filhos
bastardos, D. António, D. Gaspar e D. José, conhecidos pelos Meninos
de Palhavã. Acerca deste monarca escreveu Rebelo da Silva o
interessante romance A Mocidade de D. João V. Das amantes
fala-se nos seguintes livros: A Caveira da mártir, de Camilo
Castelo Branco; O mosteiro de Odivelas, de Borges de
Figueiredo; As minhas queridas freirinhas de Odivelas, de
Bernardes Branco; As amantes de D. João V, de Alberto
Pimentel; A Madre Paula, de Rocha Martins. O sr. Artur Lobo
de Ávila publicou recentemente no Diário de Notícias um
novo romance histórico, com o título de O Rei magnífico.
Biografia
de D. João V
O Portal da História