Portugal - Dicionário

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Os Lusíadas
Frontispício da
1.ª edição dos Lusíadas, de 1572

Os Lusíadas.

 

 

Título do célebre poema de Luís de Camões (V. este nome, no vol. II, pág 667) consagrado à glória portuguesa. 

O nome de Lusíadas (filhos de Luso ou portugueses) aparece pela primeira vez num poemeto latino de André Falcão de Resende, amigo de Camões, sobre a fundação de Roma. O imortal poema Os Lusíadas tem por assunto o descobrimento do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama. Toma no canto I o seu herói no momento em que já se aproxima de Moçambique, imagina-o protegido por Vénus que vê nos portugueses os mais directos descendentes dos seus bem amados romanos, e hostilizados por Baco, o antigo conquistador da Índia, que não quer ver a sua glória ofuscada pela dos novos conquistadores. Depois de escapar aos perigos de Quiloa e de Mombaça, Vasco da Gama chegou a Melinde, onde é acolhido hospitaleiramente, e onde conta ao rei, como Eneias a Dido, a história de Portugal e da sua viagem. Nessa narrativa incluem-se os admiráveis episódios de Inês de Castro, da aparição do Ganges e do Indo a D. Manuel, das imprecações do velho de Belém, e sobretudo o do gigante Adamastor. Seguem enfim para a Índia os navegadores, e no caminho numa vigília de quarto de madrugada conta-se o formoso episódio dos doze de Inglaterra. Fundeados em Calecut, são os navios visitados pelo catual, e Paulo da Gama, mostrando-lhe bandeiras onde estão representados muitos heróis, conta-lhe as biografias de alguns celebrados portugueses. Finalmente, regressando a frota a Portugal surge-lhes a ilha dos Amores, onde são acolhidos hospitaleiramente por Tétis, que narra aos navegadores a futura história de Portugal até ao tempo de Camões. Assim se justifica o título do poema Os Lusíadas, encerrando-se nos seus dez cantos todo o ciclo da história portuguesa. Este poema excitou um grande entusiasmo tanto em Portugal como no estrangeiro. Era o primeiro poema regular que aparecia na época da Renascença, a as suas imitações de Homero e de Virgílio bastavam para lhe granjear o favor dos eruditos, assim como o sopro patriótico que o anima, as descrições magnificas das cenas do mar e das cenas de combates bastavam para lhe alcançar imensa popularidade.

LISTA CRONOLÓGICA DAS EDIÇÕES EM PORTUGUÊS DE OS LUSÍADAS

1572, duas edições, em Lisboa, impressas por António Gonçalves. - 1584 (edição chamada dos Piscos) e em 1591, em Lisboa, ambas por Manuel de Lyra - 1597, em Lisboa, por Manuel de Lyra e Estêvão Lopes. - 1605, duas edições, em Lisboa, por Pedro Crasbeeck e Domingos Fernandes. - 1612, em Lisboa, por Vicente Álvares e Domingos Fernandes. - 1613, em Lisboa, por Pedro Crasbeeck e Domingos Fernandes, anotada por Manuel Correia - 1626, em Lisboa, por Pedro Crasbeeck. - 1631 em Lisboa, por Pedro Crasbeeck. - 1633, em Lisboa, por Lourenço Crasbeeck. - 1639, em Madrid, por Juan Sanchez e Pedro Coelho, anotada por Manuel de Faria e Sousa -1644 e 1651, em Lisboa, por Paulo Craesbeeck, argumentos de João Franco Barreto. - 1663, 1669 a 1670, em Lisboa, por António Craesbeeck de Melo, argumentos de J. F. Barreto. - 1702, em Lisboa, por Manuel Lopes Ferreira, argumentos de João Franco Barreto. + 1720, em Lisboa, por José Lopes Ferreira, anotada por Manuel Correia e argumentos de João Franco Barreto. -1721, em Lisboa, na oficina Ferreirinha, argumentos de João Franco Barreto. -1731, o 1.º vol. em Nápoles, na oficina Parriniana, argumentos de João Franco Barreto. - 1732, o 2.º vol. da mesma edição, em Roma, na ofcina Antonio Rossi, anotada por Inácio Garcez Ferreira. - 1749, em Lisboa, por Manuel Coelho Amado, argumentos de João Franco Barreto.+ 1759, em Paris, por Francisco Ambrósio Didot e Pedro Gendron, argumentos de João Franco Barreto. + 1772, em Lisboa, por Miguel Rodrigues. - 1779 e 1780, em Lisboa, na oficina Luisiana, de Luís Francisco Xavier Coelho, anotadas por Tomás José de Aquino. + 1782 e 1783, em Lisboa, por Simão Tadeu Ferreira, anotadas por Tomás José de Aquino  -1800, em Coimbra, na imprensa da Universidade, editada por Joaquim Inácio de Freitas, argumentos de João Franco Barreto. - 1810, em Lisboa, na Tipografia Lacerdina. - 1808, em Berlim, por J. E. Hetzig e Winterfeld. + 1815, duas adições, em Paris, por P. Didot Senior. -1817 (edição do Morgado de Mateus) em Paris, na oficina de Firmin Didot. - 1818, em Avinhão, por Francisco Seguin, com os argumentos de João Franco Barreto. -1819, em Paris, na oficina de Firmin Didot, anotada pelo Morgado de Mateus. - 1820, em Paris, por Teófilo Barros e S. Smith, com os argumentos de João Franco Barreto. -1821, no Rio de Janeiro, por P. C. Dalbin & C.ª - 1823, em Paris, por J. P. Aillaud e Didot. - 1827, duas edições, em Lisboa, uma na Imprensa Régia, outra na Tipografia Rolandiana. + 1834, em Hamburgo, na oficina de Langhoff, com anotações de J. V. Barreto Feio e J. C. Monteiro. - 1836, em Lisboa, na Tipografia Rolandiana. - 1836, em Lisboa por Borel, Borel, & C.ª - 1836, em Paris, por J. P. Aillaud. - 1841, no Rio de Janeiro, na Tipografia de Laemmert, com anotações de Barreto Feio, J. G. Monteiro e argumentos de João Franco Barreto. - 1842 e 1843, em Lisboa, na Tipografia Rolandiana, sendo a segunda anotada por Francisco Freire de Carvalho. - 1843, em Lisboa, por Santos & C.ª + 1843, em Paris, por Fain e Thunot, anotada por Barreto Feio e J. G.,Monteiro. - 1846, em Paris, pela Livraria Europeia, de Baudry, com anotações de José da Fonseca. -1846, em Lisboa, na Tipografia Rollandiana. -1847, em Paris, por Fermin Didot, anotada por Caetano Lopes de Moura. - 1849, no Rio de Janeiro, por A. de Freitas Guimarães. - 1850, em Lisboa, na Topografia Rollandiana. + 1852, em Lisboa, pela Biblioteca Portuguesa, anotações de Barreto Feio, J. G. Monteiro e José da Fonseca. - 1854, em Lisboa, na Tipografia Rollandiana. - 1855, no Rio de Janeiro, por Domingos José Gomes Brandão. - 1855, no Rio de Janeiro, por Agra & Irmão. - 1856, no Rio de Janeiro, por Laemmert, anotações de Francisco Freire de Carvalho. - 1857, em Lisboa, na Tipografia Rollandiana. - 1857, no Rio de Janeiro, por António Ferreira da Silva. - 1857, em Paris, na Tipografia de Vanduil. –­1859, em Paris, por Didot, anotações de Caetano Lopes de Moura. - 1860, em Lisboa, na Tipografia Rollandiana. - 1860, 1864 e 1868, em Lisboa, por Luís Correia da Cunha. + 1860 a 1869, em Lisboa, na Imprensa Nacional, pelo visconde de Juromenha. -1861, no Rio de Janeiro, por Domingos José Gomes Brandão. - 1863 e 1865, em Lisboa, na Tipografia Rollandiana. - 1865, em Paris, pela Veuve J. P. Aillaud, anotações de Franco Barreto, Tomás de Aquino e Paulino de Sousa. - 1866, no Rio de Janeiro, por Laemmert. - 1867, em Lisboa, por Francisco Xavier de Sousa. - 1868, no Rio de Janeiro, por Laemmert. -1869 e 1870, no Porto, na Imprensa Portuguesa. -1871 e 1875, em Lisboa, por Sousa & Filho e Rolland e Semiond. -1871, no Porto, por Cruz Coutinho. -1873, em Paris, na Veuve J. P. Aillaud, anotada por Paulino de Sousa. - 1873, em Leipzig, por F. Brockhaus. +1873 a 1874, no Porto, na Imprensa Portuguesa - Editora, anotada pelo Sr. Dr. Teófilo Braga. - 1874, em Estrasburgo, por Trubnor, anotada por Reinhardstoettner. - 1874, 1875 e 1877, em Lisboa por António Maria Pereira, anotadas por Inocêncio Francisco da Silva. - 1875, no Porto, na Imprensa Portuguesa, anotada pelo Sr. Dr. Teófilo Braga. - 1878, em Lisboa, na Imprensa Nacional. - 1878-1880, em Lisboa e Paris, por Duarte Joaquim dos Santos e Aristides Abranches, anotada por Pinheiro Chagas. - 1879, em Bruxelas, por Abílio César Borges. - 1880, em Leipzig, por Emílio Biel, do Porto. - 1880, em Lisboa, na oficina de Castro Irmão, pelo Gabinete Português de Leitura no Rio de Janeiro, prefaciada e anotada, etc., pelo Sr. Ramalho Ortigão, Adolfo Coelho, e Reinaldo Carlos Montoro. + 1880, no Porto, na Imprensa Portuguesa, pelo Gabinete Português de Leitura de Pernambuco. -1880 em Lisboa, pela empresa do Diário de Notícias, revista pelo Sr. Adolfo Coelho. + 1880, no Porto, na Imprensa Internacional, anotada pelo Sr. Dr. Teófilo Braga. - 1880, em Lisboa, na Imprensa Nacional. + 1880, no Rio de Janeiro, na oficina Lombaerts, pela Comissão Brasileira. -1880, em Lisboa, na Tipografia Horas Românticas. -1881, em Lisboa, por Pereira e Amorim, prefaciada pelo Sr. Dr. Teófilo Braga. - 1881, no Porto, por A. R. da Cruz Coutinho. -1881, em Coimbra, na Imprensa Académica, pela Comissão Académica. - 1882, em Lisboa, pela Nova Livraria Internacional, anotada pelo Sr. Dr. Teófilo Braga. - 1882, em Lisboa, por António Maria Pereira, anotada por Inocêncio Francisco da Silva. - 1883, em Lisboa, edição lito-manuscrita, na Tipografia Elzeviriana. - 1883, em Paris, por Guillard Aillaud, & C.ª, anotada por Paulino de Sousa. -1889, em Lisboa, na Imprensa Nacional, revista por Francisco Gomes de Amorirn. - 1890, em Paris. -1892, em Lisboa, na Imprensa Nacional. -1898, em Lisboa, edição lito-manuscrita, dirigida pelo Sr. Fernandes Costa. - 1900, em Lisboa, dirigida pelo Sr. Sousa Viterbo. - As edições precedidas do sinal + compreendem, além de Os Lusíadas, outras obras de Camões. 

De todas as edições acima mencionadas, distinguiremos algumas pela sua importância. A primeira edição data, como se vê, do ano de 1572, em que houve duas, atribuindo-se as alterações da segunda ao próprio poeta, o que é duvidoso. O que é certo é terem sido ambas publicadas em sua vida. Tem por título: Os Lusíadas de Luís de Camões. Com privilegio real. Impressos em Lisboa, com licença da Santa Inquisição, e do Ordinário; em casa de António Gonçalves, impressor, 1572

O alvará de privilégio é o seguinte: «Eu el-rei faço saber aos que este alvará virem que eu hei por bem e me praz dar licença a Luiz de Camões para que possa fazer imprimir, nesta cidade de Lisboa, uma obra em oitava rima chamada Os Lusíadas, que contém dez cantos perfeitos, na qual por ordem poética em versos se declaram os principais feitos dos portugueses nas partes da Índia depois que se descobriu a navegação para elas por mandado de el-rei D. Manuel, meu bisavô, que santa gloria haja, e isto com privilegio para que em tempo de dez annos, que se começarão do dia que se a dita obra acabar de imprimir em diante, se não possa imprimir nem vender em meus reinos e senhorios nem trazer a eles de fora, nem levar ás ditas partes da Índia para se vender sem licença do dito Luiz de Camões ou da pessoa que para isso seu poder tiver, sob pena de quem o contrario fizer pagar cinquenta cruzados e perder os volumes que imprimir, ou vender, a metade para o dito Luiz de Camões, e a outra metade para quem os acusar. E antes de se a dita obra vender lhe será posto o preço na mesa do despacho dos meus Desembargadores do paço, o qual se declará e porá impresso na primeira folha da dita obra para ser a todos notório, e antes de se imprimir será vista e examinada na mesa do conselho geral do santo ofício da lnquisição, para com sua licença se haver de imprimir, e se o dito Luiz de Camões tiver acrescentados mais alguns cantos, também se imprimirão havendo para isso licença do santo ofício, como acima é dito. E este meu alvará se imprimirá outrossim no principio da dita obra, o qual hei por bem que valha e tenha força e vigor, como se fosse carta feita em meu nome, por mim assignada, e passada por minha Chancelaria, sem embargo da ordenação do segundo livro, titulo XX, que diz que as cousas cujo efeito houver de durar mais que um ano, passem por cartas, e passando por alvarás não valham. Gaspar de Seixas o fiz em Lisboa a 24 dias do mês de setembro de MDLXXI.» [1571]. 

O parecer que se segue a este alvará, assinado por Frei Bartolomeu Ferreira, não tem data e reza o seguinte: «Vi por mandado da santa e geral Inquisição estes dez cantos dos Lusíadas de Luiz de Camões, dos valorosos feitos em armas que os portugueses fizeram em Ásia, e Europa, e não achei neles cousa alguma escandalosa, nem contraria á fé e bons costumes, somente me pareceu que era necessário advertir os leitores que o autor para encarecer a dificuldade da navegação e entrada dos portugueses na Índia, usa de uma ficção dos deuses dos gentios. E ainda que Santo Agostinho nas suas Retratações se retracte de ter chamado nos livros que compôs de Ordine ás musas deusas. Todavia como isto é poesia, e fingimento, e o autor como poeta não pretenda mais que ornar o estilo poético, não tivemos por inconveniente ir esta fabula dos deuses na obra, conhecendo-a por tal, e ficando sempre salva a verdade de nossa santa fé, que todos os deuses dos gentios são demónios. E por isso me pareceu o livro digno de se imprimir, e o autor mostra nele muito engenho, e muita erudição nas ciências humanas. Em fé do qual assignei aqui. Frei Bartolomeu Ferreira.» 

As duas edições de 1572 são raríssimas e distinguem-se, entre outras minudências, pelo frontispício da segunda, que reproduzimos, ter o pelicano voltado para a direita, e o da primeira tê-lo voltado para a esquerda. Além da edição princeps, merecem lugar distinto duas outras feitas no século 19, que se devem considerar dois monumentos bibliográficos, literários e artísticos erigidos em honra do grande poeta. Uma é a feita a expensas do morgado de Mateus, e por este ilustre cavalheiro e fidalgo distribuída entre os seus amigos e oferecida a personagens, e a corporações literárias e religiosas. A outra é a mandada imprimir por indústria do sr. Biel, do Porto, em comemoração do tricentenário do poeta, em 1880. A edição do morgado de Mateus tem o título Os Lusíadas, poema épico de Luís de Camões. Nova edição correcta, e dada á luz, por Dom José Maria de Souza Botelho Morgado de Mateus, Sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa, Paris; na oficina tipográfica de Fermin Didot, impressor do Rei e do Instituto, MDCCCXVII [1817]. A impressão luxuosa e extraordinariamente nítida é um padrão da perfeição tipográfica usada na casa Didot. Esta edição tem dois retratos de Camões, o primeiro em busto, em frente do rosto, e o segundo, em corpo inteiro, figurando o poeta na gruta de Macau, e mais dez estampas, uma em frente de cada canto, sendo a composição alusiva a passos dos mesmos cantos. Estas estampas são verdadeiras obras de arte, trabalho dos mais distintos gravadores em cobre, e desenho de artistas também consumados. A tiragem desta edição monumental foi de 210 exemplares, e importou em mais de 9.000$000 réis. A edição de Biel, do Porto, tem por título Os Lusíadas de Luiz de Camões. Edição critica - comemorativa do terceiro centenário da morte do grande poeta. Publicada no Porto por Emílio Biel. Tipografia de Giesecke & Devrient, estabelecimento gráfico, Leipzig, MDCCCLXXX. As estampas são vinte e duas, onze reproduzidas das da edição do Morgado de Mateus e dez de composição nova, desenhadas a gravadas em Leipzig.

 

 

 

A maior obra épica portuguesa completa e com todos os seus cantos
Os Lusíadas de Luís de Camões

Os Lusíadas de Luís de Camões
Os Lusíadas no Sapo

 

 

 

 

 

 

Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume V, págs. 271-273.

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