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Os
Lusíadas.
Título
do célebre poema de Luís de Camões (V. este
nome, no vol. II, pág 667) consagrado à glória
portuguesa.
O
nome de Lusíadas (filhos de Luso ou portugueses) aparece pela
primeira vez num poemeto latino de André Falcão de Resende, amigo
de Camões, sobre a fundação de Roma. O imortal poema Os Lusíadas
tem por assunto o descobrimento do caminho marítimo para a Índia
por Vasco da Gama. Toma no canto I o seu herói no momento em que já
se aproxima de Moçambique, imagina-o protegido por Vénus que vê
nos portugueses os mais directos descendentes dos seus bem amados
romanos, e hostilizados por Baco, o antigo conquistador da Índia,
que não quer ver a sua glória ofuscada pela dos novos
conquistadores. Depois de escapar aos perigos de Quiloa e de Mombaça,
Vasco da Gama chegou a Melinde, onde é acolhido hospitaleiramente,
e onde conta ao rei, como Eneias a Dido, a história de Portugal e
da sua viagem. Nessa narrativa incluem-se os admiráveis episódios
de Inês de Castro, da aparição do Ganges e do Indo a D. Manuel,
das imprecações do velho de Belém, e sobretudo o do gigante
Adamastor. Seguem enfim para a Índia os navegadores, e no caminho
numa vigília de quarto de madrugada conta-se o formoso episódio
dos doze de Inglaterra. Fundeados em Calecut, são os navios
visitados pelo catual, e Paulo da Gama, mostrando-lhe
bandeiras onde estão representados muitos heróis, conta-lhe as
biografias de alguns celebrados portugueses. Finalmente, regressando
a frota a Portugal surge-lhes a ilha dos Amores, onde são acolhidos
hospitaleiramente por Tétis, que narra aos navegadores a futura
história de Portugal até ao tempo de Camões. Assim se justifica o
título do poema Os Lusíadas, encerrando-se nos seus dez
cantos todo o ciclo da história portuguesa. Este poema excitou um
grande entusiasmo tanto em Portugal como no estrangeiro. Era o
primeiro poema regular que aparecia na época da Renascença, a as
suas imitações de Homero e de Virgílio bastavam para lhe granjear
o favor dos eruditos, assim como o sopro patriótico que o anima, as
descrições magnificas das cenas do mar e das cenas de combates
bastavam para lhe alcançar imensa popularidade.
LISTA
CRONOLÓGICA DAS EDIÇÕES EM PORTUGUÊS DE OS LUSÍADAS
1572,
duas edições, em Lisboa, impressas por António Gonçalves. - 1584
(edição chamada dos Piscos) e em 1591, em Lisboa, ambas por Manuel
de Lyra - 1597, em Lisboa, por Manuel de Lyra e Estêvão Lopes. -
1605, duas edições, em Lisboa, por Pedro Crasbeeck e Domingos
Fernandes. - 1612, em Lisboa, por Vicente Álvares e Domingos
Fernandes. - 1613, em Lisboa, por Pedro Crasbeeck e Domingos
Fernandes, anotada por Manuel Correia - 1626, em Lisboa, por Pedro
Crasbeeck. - 1631 em Lisboa, por Pedro Crasbeeck. - 1633, em Lisboa,
por Lourenço Crasbeeck. - 1639, em Madrid, por Juan Sanchez e Pedro
Coelho, anotada por Manuel de Faria e Sousa -1644 e 1651, em Lisboa,
por Paulo Craesbeeck, argumentos de João Franco Barreto. - 1663,
1669 a 1670, em Lisboa, por António Craesbeeck de Melo, argumentos
de J. F. Barreto. - 1702, em Lisboa, por Manuel Lopes Ferreira,
argumentos de João Franco Barreto. + 1720, em Lisboa, por José
Lopes Ferreira, anotada por Manuel Correia e argumentos de João
Franco Barreto. -1721, em Lisboa, na oficina Ferreirinha, argumentos
de João Franco Barreto. -1731, o 1.º vol. em Nápoles, na oficina
Parriniana, argumentos de João Franco Barreto. - 1732, o 2.º vol.
da mesma edição, em Roma, na ofcina Antonio Rossi, anotada por Inácio
Garcez Ferreira. - 1749, em Lisboa, por Manuel Coelho Amado,
argumentos de João Franco Barreto.+ 1759, em Paris, por Francisco
Ambrósio Didot e Pedro Gendron, argumentos de João Franco Barreto.
+ 1772, em Lisboa, por Miguel Rodrigues. - 1779 e 1780, em Lisboa,
na oficina Luisiana, de Luís Francisco Xavier Coelho, anotadas por
Tomás José de Aquino. + 1782 e 1783, em Lisboa, por Simão Tadeu
Ferreira, anotadas por Tomás José de Aquino
-1800, em Coimbra, na imprensa da Universidade, editada por
Joaquim Inácio de Freitas, argumentos de João Franco Barreto. -
1810, em Lisboa, na Tipografia Lacerdina. - 1808, em Berlim, por J.
E. Hetzig e Winterfeld. + 1815, duas adições, em Paris, por P.
Didot Senior. -1817 (edição do Morgado de Mateus) em Paris, na
oficina de Firmin Didot. - 1818, em Avinhão, por Francisco Seguin,
com os argumentos de João Franco Barreto. -1819, em Paris, na
oficina de Firmin Didot, anotada pelo Morgado de Mateus. - 1820, em
Paris, por Teófilo Barros e S. Smith, com os argumentos de João
Franco Barreto. -1821, no Rio de Janeiro, por P. C. Dalbin & C.ª
- 1823, em Paris, por J. P. Aillaud e Didot. - 1827, duas edições,
em Lisboa, uma na Imprensa Régia, outra na Tipografia Rolandiana. +
1834, em Hamburgo, na oficina de Langhoff, com anotações de J. V.
Barreto Feio e J. C. Monteiro. - 1836, em Lisboa, na Tipografia
Rolandiana. - 1836, em Lisboa por Borel, Borel, & C.ª - 1836,
em Paris, por J. P. Aillaud. - 1841, no Rio de Janeiro, na
Tipografia de Laemmert, com anotações de Barreto Feio, J. G.
Monteiro e argumentos de João Franco Barreto. - 1842 e 1843, em
Lisboa, na Tipografia Rolandiana, sendo a segunda anotada por
Francisco Freire de Carvalho. - 1843, em Lisboa, por Santos & C.ª
+ 1843, em Paris, por Fain e Thunot,
anotada por Barreto Feio e J. G.,Monteiro. - 1846, em Paris, pela
Livraria Europeia, de Baudry, com anotações de José da Fonseca.
-1846, em Lisboa, na Tipografia Rollandiana. -1847, em Paris, por
Fermin Didot, anotada por Caetano Lopes de Moura. - 1849, no Rio de
Janeiro, por A. de Freitas Guimarães. - 1850, em Lisboa, na
Topografia Rollandiana. + 1852, em Lisboa, pela Biblioteca
Portuguesa, anotações de Barreto Feio, J. G. Monteiro e José da
Fonseca. - 1854, em Lisboa, na Tipografia Rollandiana. - 1855, no
Rio de Janeiro, por Domingos José Gomes Brandão. - 1855, no Rio de
Janeiro, por Agra & Irmão. - 1856, no Rio de Janeiro, por
Laemmert, anotações de Francisco Freire de Carvalho. - 1857, em
Lisboa, na Tipografia Rollandiana. - 1857, no Rio de Janeiro, por
António Ferreira da Silva. - 1857, em Paris, na Tipografia de
Vanduil. –1859, em Paris, por Didot, anotações de Caetano
Lopes de Moura. - 1860, em Lisboa, na Tipografia Rollandiana. -
1860, 1864 e 1868, em Lisboa, por Luís Correia da Cunha. + 1860 a
1869, em Lisboa, na Imprensa Nacional, pelo visconde de Juromenha.
-1861, no Rio de Janeiro, por Domingos José Gomes Brandão. - 1863
e 1865, em Lisboa, na Tipografia Rollandiana. - 1865, em Paris, pela
Veuve J. P. Aillaud, anotações de Franco Barreto, Tomás de Aquino
e Paulino de Sousa. - 1866, no Rio de Janeiro, por Laemmert. - 1867,
em Lisboa, por Francisco Xavier de Sousa. - 1868, no Rio de Janeiro,
por Laemmert. -1869 e 1870, no Porto, na Imprensa Portuguesa. -1871
e 1875, em Lisboa, por Sousa & Filho e Rolland e Semiond. -1871,
no Porto, por Cruz Coutinho. -1873, em Paris, na Veuve J. P.
Aillaud, anotada por Paulino de Sousa. - 1873, em Leipzig, por F.
Brockhaus. +1873 a 1874, no Porto, na Imprensa Portuguesa - Editora,
anotada pelo Sr. Dr. Teófilo Braga. - 1874, em Estrasburgo, por
Trubnor, anotada por Reinhardstoettner. - 1874, 1875 e 1877, em
Lisboa por António Maria Pereira, anotadas por Inocêncio Francisco
da Silva. - 1875, no Porto, na Imprensa Portuguesa, anotada pelo Sr.
Dr. Teófilo Braga. - 1878, em Lisboa, na Imprensa Nacional. -
1878-1880, em Lisboa e Paris, por Duarte Joaquim dos Santos e
Aristides Abranches, anotada por Pinheiro Chagas. - 1879, em
Bruxelas, por Abílio César Borges. - 1880, em Leipzig, por Emílio
Biel, do Porto. - 1880, em Lisboa, na oficina de Castro Irmão, pelo
Gabinete Português de Leitura no Rio de Janeiro, prefaciada e
anotada, etc., pelo Sr. Ramalho Ortigão, Adolfo Coelho, e Reinaldo
Carlos Montoro. + 1880, no Porto, na Imprensa Portuguesa, pelo
Gabinete Português de Leitura de Pernambuco. -1880 em Lisboa, pela
empresa do Diário de Notícias, revista pelo Sr. Adolfo
Coelho. + 1880, no Porto, na Imprensa Internacional, anotada pelo
Sr. Dr. Teófilo Braga. - 1880, em Lisboa, na Imprensa Nacional. +
1880, no Rio de Janeiro, na oficina Lombaerts, pela Comissão
Brasileira. -1880, em Lisboa, na Tipografia Horas Românticas.
-1881, em Lisboa, por Pereira e Amorim, prefaciada pelo Sr. Dr. Teófilo
Braga. - 1881, no Porto, por A. R. da Cruz Coutinho. -1881, em
Coimbra, na Imprensa Académica, pela Comissão Académica. - 1882,
em Lisboa, pela Nova Livraria Internacional, anotada pelo Sr. Dr. Teófilo
Braga. - 1882, em Lisboa, por António Maria Pereira, anotada por
Inocêncio Francisco da Silva. - 1883, em Lisboa, edição
lito-manuscrita, na Tipografia Elzeviriana. - 1883, em Paris, por
Guillard Aillaud, & C.ª, anotada por Paulino de Sousa. -1889,
em Lisboa, na Imprensa Nacional, revista por Francisco Gomes de
Amorirn. - 1890, em Paris. -1892, em Lisboa, na Imprensa Nacional.
-1898, em Lisboa, edição lito-manuscrita, dirigida pelo Sr.
Fernandes Costa. - 1900, em Lisboa, dirigida pelo Sr. Sousa Viterbo.
- As edições precedidas do sinal + compreendem, além de Os Lusíadas,
outras obras de Camões.
De
todas as edições acima mencionadas, distinguiremos algumas pela
sua importância. A primeira edição data, como se vê, do ano de
1572, em que houve duas, atribuindo-se as alterações da segunda ao
próprio poeta, o que é duvidoso. O que é certo é terem sido
ambas publicadas em sua vida. Tem por título: Os Lusíadas de Luís
de Camões. Com privilegio real. Impressos em Lisboa, com licença
da Santa Inquisição, e do Ordinário; em casa de António Gonçalves,
impressor, 1572.
O
alvará de privilégio é o seguinte: «Eu el-rei faço saber aos
que este alvará virem que eu hei por bem e me praz dar licença a
Luiz de Camões para que possa fazer imprimir, nesta cidade de
Lisboa, uma obra em oitava rima chamada Os Lusíadas, que contém
dez cantos perfeitos, na qual por ordem poética em versos se
declaram os principais feitos dos portugueses nas partes da Índia
depois que se descobriu a navegação para elas
por
mandado de el-rei D. Manuel, meu bisavô, que santa gloria haja, e
isto com privilegio para que em tempo de dez annos, que se começarão
do dia que se a dita obra acabar de imprimir em diante, se não
possa imprimir nem vender em meus reinos e senhorios nem trazer a eles
de fora, nem levar ás ditas partes da Índia para se vender sem
licença do dito Luiz de Camões ou da pessoa que para isso seu
poder tiver, sob pena de quem o contrario fizer pagar cinquenta
cruzados e perder os volumes que imprimir, ou vender, a metade para
o dito Luiz de Camões, e a outra metade para quem os acusar. E
antes de se a dita obra vender lhe será posto o preço na mesa do
despacho dos meus Desembargadores do paço, o qual se declará e porá
impresso na primeira folha da dita obra para ser a todos notório, e
antes de se imprimir será vista e examinada na mesa do conselho
geral do santo ofício da lnquisição, para com sua licença se
haver de imprimir, e se o dito Luiz de Camões tiver acrescentados
mais alguns cantos, também se imprimirão havendo para isso licença
do santo ofício, como acima é dito. E este meu alvará se imprimirá
outrossim no principio da dita obra, o qual hei por bem que valha e
tenha força e vigor, como se fosse carta feita em meu nome, por mim
assignada, e passada por minha Chancelaria, sem embargo da ordenação
do segundo livro, titulo XX, que diz que as cousas cujo efeito
houver de durar mais que um ano, passem por cartas, e passando por
alvarás não valham. Gaspar de Seixas o fiz em Lisboa a 24 dias do mês
de setembro de MDLXXI.» [1571].
O
parecer que se segue a este alvará, assinado por Frei Bartolomeu
Ferreira, não tem data e reza o seguinte: «Vi por mandado da santa
e geral Inquisição estes dez cantos dos Lusíadas de Luiz de Camões,
dos valorosos feitos em armas que os portugueses fizeram em Ásia, e
Europa, e não achei neles cousa alguma escandalosa, nem contraria
á fé e bons costumes, somente me pareceu que era necessário
advertir os leitores que o autor para encarecer a dificuldade da
navegação e entrada dos portugueses na Índia, usa de uma ficção
dos deuses dos gentios. E ainda que Santo Agostinho nas suas Retratações
se retracte de ter chamado nos livros que compôs de Ordine
ás musas deusas. Todavia como isto é poesia, e fingimento, e o
autor como poeta não pretenda mais que ornar o estilo poético, não
tivemos por inconveniente ir esta fabula dos deuses na obra,
conhecendo-a por tal, e ficando sempre salva a verdade de nossa
santa fé, que todos os deuses dos gentios são demónios. E por
isso me pareceu o livro digno de se imprimir, e o autor mostra nele
muito engenho, e muita erudição nas ciências humanas. Em fé do
qual assignei aqui. Frei Bartolomeu Ferreira.»
As
duas edições de 1572 são raríssimas e distinguem-se, entre
outras minudências, pelo frontispício da segunda, que
reproduzimos, ter o pelicano voltado para a direita, e o da primeira
tê-lo voltado para a esquerda. Além da edição princeps,
merecem lugar distinto duas outras feitas no século 19, que se
devem considerar dois monumentos bibliográficos, literários e artísticos
erigidos em honra do grande poeta. Uma é a feita a expensas do
morgado de Mateus, e por este ilustre cavalheiro e fidalgo distribuída
entre os seus amigos e oferecida a personagens, e a corporações
literárias e religiosas. A outra é a mandada imprimir por indústria
do sr. Biel, do Porto, em comemoração do tricentenário do poeta,
em 1880. A edição do morgado de Mateus tem o título Os Lusíadas,
poema épico de Luís de Camões. Nova edição correcta, e dada á
luz, por Dom José Maria de Souza Botelho Morgado de Mateus, Sócio
da Academia Real das Ciências de Lisboa, Paris; na oficina tipográfica
de Fermin Didot, impressor do Rei e do Instituto, MDCCCXVII [1817].
A impressão luxuosa e extraordinariamente nítida é um padrão da
perfeição tipográfica usada na casa Didot. Esta edição tem dois
retratos de Camões, o primeiro em busto, em frente do rosto, e o
segundo, em corpo inteiro, figurando o poeta na gruta de Macau, e
mais dez estampas, uma em frente de cada canto, sendo a composição
alusiva a passos dos mesmos cantos. Estas estampas são verdadeiras
obras de arte, trabalho dos mais distintos gravadores em cobre, e
desenho de artistas também consumados. A tiragem desta edição
monumental foi de 210 exemplares, e importou em mais de 9.000$000 réis.
A edição de Biel, do Porto, tem por título Os Lusíadas de
Luiz de Camões. Edição critica - comemorativa do terceiro centenário
da morte do grande poeta. Publicada no Porto por Emílio Biel. Tipografia
de Giesecke & Devrient, estabelecimento gráfico, Leipzig,
MDCCCLXXX. As estampas são vinte e duas, onze reproduzidas das da
edição do Morgado de Mateus e dez de composição nova, desenhadas
a gravadas em Leipzig.
A maior obra épica portuguesa completa e com todos os seus cantos Os Lusíadas de Luís de
Camões
Os Lusíadas de Luís de
Camões Os Lusíadas no Sapo
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