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Samodães
(Francisco Teixeira de Aguilar de Azeredo, 2.º visconde e 2.º
conde de).
n. 16
de julho de 1828.
f. [
4 de outubro de 1918 ].
Bacharel
em Matemática pela Universidade de Coimbra, engenheiro civil e
militar, deputado, par do reino, ministro do estado, presidente da Câmara
Municipal do Porto, escritor, etc.
Nasceu
em Cambade, freguesia e concelho de Vila Nova de Gaia a 16 de julho
de 1828, sendo filho do 1.º visconde e 1.º conde do
mesmo titulo (V. o
artigo seguinte). Nesse ano revolto da nossa história política,
sua mãe achava-se hominizada naquele lugar, e seu pai estava no exílio
com outros homens ilustres que tinham emigrado fugindo às perseguições
do partido absolutista. Educado carinhosamente por sua mãe nos mais
austeros princípios religiosos, frequentou depois o Colégio da
Lapa, do Porto, e o Liceu de Lisboa, onde fez os seus exames e
humanidades, que repetiu mais tarde em Coimbra, em cuja universidade
se matriculou em 1843 nas faculdades de matemática e filosofia,
formando-se na primeira em 31 de maio de 1849, sendo premiado em
todos os anos e obtendo no ultimo ano as mais distintas informações.
Destinado
à carreira militar, assentou praça em infantaria n.º 6 a 1 de
setembro de 1844, sendo promovido a alferes para infantaria n.º 18
a 4 de abril de 1846. Nesse ano, dando-se a revolta da Maria da
Fonte, e sendo a Universidade encerrada em 10 de maio, foi adido a caçadores
n.º 8, retirando então de Coimbra sob o ataque das forças populares.
Vindo para Lisboa com o Regimento de Infantaria n.º 16, recolheu no
mês de julho ao corpo a que pertencia, entrando em diferentes operações
militares contra os revoltosos. Reaberta a Universidade, ainda em
1846, novamente se matriculou. De curta duração foram, porém, os
cursos, porque os sucessos do Porto decidiram o governo a encerrar
mais uma vez aquele estabelecimento científico. Preso por suspeito
e deportado para Ovar, conseguiu fugir e refugiar-se a bordo do
brigue espanhol Ligeiro,
surto no rio Douro, passando depois para o pequeno vapor Península,
também espanhol, que recolhia os perseguidos pela Junta.
Neste barco efectuou uma arriscada travessia até Vigo, onde o Península
chegou com água aberta. Dali seguiu para Valença, onde se
apresentou ao conde de Casal, que comandava as forças que se
conservavam fiéis ao governo de Lisboa. Constituído um batalhão
com os oficiais que se haviam evadido do Porto, onde funcionava a
Junta, serviu nesse batalhão, seguindo mais tarde, por mar, para
Lisboa. Adido a infantaria n.º 7, foi depois nomeado ajudante do
barão da Ponte da Barca, e quando este deixou a divisão, passou,
na mesma qualidade, a servir com o barão de Almofala.
Entrando no Porto, em 7 de julho de 1847, com as forças comandadas
por Saldanha, em seguida à convenção de Gramido, foi colocado em
infantaria n.º 8, e sendo reaberta a universidade, seguiu para
Coimbra a completar o seu curso, por duas vezes interrompido. Em
outubro de 1849 matriculou-se no curso geral da Escola do Exército,
que abrangia os cursos das armas especiais e de engenharia civil,
seguindo ao mesmo tempo o curso complementar da Escola Politécnica.
Pouco depois era promovido a tenente para infantaria n.º 6.
Quando
houve o movimento da Regeneração em 1851, feito por Saldanha, já
o conde de Samodães era capitão. Comparecendo a uma reunião que
se realizou no palácio da Torre da Marca, do Porto, ali proferiu um
discurso no qual se pronunciou contra o ilegal procedimento do
governo que tinha convocado Cortes para reformar a Carta
Constitucional contra os preceitos que a mesma Carta havia
estabelecido. Esta atitude, duma tão notável altivez e independência,
valeu-lhe uma transferência para infantaria n.º 5, aquartelada em
Angra do Heroísmo. Como, porém, esta transferência parecesse não
obstar a que continuasse os estudos, matriculou-se no último ano da
Escola do Exército. Não era bem assim porque, passados dias,
sendo-lhe terminada a licença que obtivera para estudar, recebeu
ordem de partir imediatamente. O moço militar, que se atrevera a dizer
o que sentia, era perseguido exactamente por se haver afirmado um
espírito resoluto e independente. Cumprir a ordem era aceitar um
castigo, que em sua consciência considerava injusto. Neste lance
melindroso o altivo e brioso oficial tomou a resolução de se
demitir do Exército, e assim fez. Pediu a demissão, que o
governo lhe deu em 12 de novembro de 1851. Este acto violento causou
geral indignação, e como se aproximasse o período eleitoral,
Lamego elegeu o seu representante às Cortes Constituintes. Requereu
então para concluir o curso de engenheiro, como paisano, o que não
lhe podia ser recusado, concluindo esse curso em 1852. Como
deputado tomou parte nas mais importantes discussões que se
ventilaram na Câmara, foi nomeado para diferentes comissões
parlamentares, nas quais afirmou sempre a sua alta competência. A
vingança de que tinha sido vítima em 1851, por causa do discurso
proferido no palácio da Torre da Marca, continuava a preocupar a
opinião, que sinceramente lamentava que um acto de propositado
acinte cortasse uma carreira tão brilhantemente encetada. O ilustre
militar, recusando-se a partir para Angra, não praticara um acto de
indisciplina; reconhecendo a injustiça do castigo não quis
sujeitar-se a ele, preferindo despir a farda que tanto havia
nobilitado. No intuito de reparar esta afronta, sessenta e seis
deputados de todos os lados da Câmara votaram por que o seu ilustre
colega fosse reintegrado no exército. Mas de nada valeu esta
manifestação. O marechal presidente do conselho não consentiu que
a proposta fosse por diante e a Câmara entendeu que não devia
reagir centra aquela imposição, que bem claramente patenteava a má
vontade de Saldanha. Acabada a sessão legislativa, o sr. conde de
Samodães recolheu a sua casa do Porto.
Em
1855 foi eleito senador da Câmara Municipal daquela cidade, cuja
presidência ocupou. Pelo falecimento de seu pai, em 1857, foi
elevado a par do Reino, por sucessão, prestando juramento e tomando
posse na respectiva Câmara na sessão de 18 de novembro de 1858.
Militando no partido progressista, exerceu o cargo de governador
civil do Porto, em 1868, e quando o bispo de Viseu organizou ministério,
foi nomeado ministro da Fazenda, de que se exonerou em agosto de
1869. No ano seguinte tornou a ser governador civil do Porto.
Afastando-se pouco a pouco das agitações da vida política, apenas
em 1879 e 1881 foi relator das mais importantes questões de
fazenda. Dotado duma actividade extraordinária, o sr. conde de
Samodães tem o seu nome ligado a todas as instituições de importância
que existem no Porto. Durante quarenta anos foi inspector da
Academia de Belas Artes; assumiu a presidência da Associação Católica
durante vinte anos; é presidente da Sociedade Humanitária há mais
de trinta anos; provedor da Santa Casa da Misericórdia durante sete
anos. Foi também ministro da Ordem de S. Francisco, presidente da
Sociedade de Estudos e Conferências, vogal da junta literária da
Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, presidente
da Sociedade Camoniana, director do Palácio de Cristal, membro das
comissões filoxérica, da cultura do tabaco, das exposições
industriais e agrícolas que se têm realizado no Palácio de
Cristal, etc. Em 1907 era director da Companhia Vinícola do Norte
de Portugal, de que fora fundador. No desempenho destes cargos
escreveu sempre, e pontualmente, desenvolvidos relatórios, muitos
dos quais constituem valiosos documentos para a história moderna do
Porto. É espírito de larga cultura; falando quase todas as línguas,
andando sempre a par do movimento científico e literário de todo o
mundo culto, o conde de Samodães é um verdadeiro sábio. Quando,
em 1893, estiveram no Porto os jornalistas estrangeiros que vieram
ao congresso da imprensa realizado em Lisboa, foram visitar os
vastos depósitos da Companhia Vinícola da Serra do Pilar, onde a
direcção lhes ofereceu um primoroso lunch.
O ilustre titular, na qualidade de director da companhia, fez-lhes
as honras devidas, e na ocasião dos brindes, saudou em francês, em
inglês, em alemão e em italiano, jornalistas pertencentes àquelas
nacionalidades, acabando por dirigir em latim uma saudação a um
jornalista húngaro, que, maravilhado de tanta erudição, se
dirigiu ao sr. conde naquela língua.
Como
jornalista, iniciou-se em 1841 escrevendo no Boletim Cartista, que
então se publicava em Coimbra, colaborou depois no Periódico
dos pobres, Lei, Imprensa e Lei, Brás Tisana,
Nacional, Jornal do Porto, Primeiro de Janeiro, Palavra, Correio
Nacional, Boletim da Liga dos Lavradores de Douro, Douro agrícola, e
numa infinidade de revistas literárias, científicas e agrícolas.
É
grande e número de livros que tem publicado. Além dos relatórios
e de diferentes estudos sobre finanças, traduziu do alemão a Apologia
do Cristianismo, cinco volumes, e imprimiu A Serafina do
Carmelo, obra religiosa a respeito de Santa Teresa de Jesus; O
marquês de Pombal, cem anos depois da sua morte; Memória histórica
do Palácio de Cristal; Apontamentos biográficos de Francisco de
Paula de Azeredo, conde de Samodões, etc. Como escritor católico,
a causa da igreja deve-lhe muitos serviços, e mereceu de Pio IX e
de Leão XlII as mais amáveis e penhorantes referências e distinções.
O sr. conde de Samodães foi vogal do Conselho Superior de Instrução
Pública, pela Academia de Belas Artes do Porto, em 30 de novembro
de 1907. Fez parte da comissão promotora das festas do centenário
do infante D. Henrique, no Porto em 1894.
É
grã-cruz da Ordem de Carlos III, de Espanha, e foi agraciado com o
título de visconde, renovado no de seu pai, por decreto do 28 de
fevereiro de 1840; e no de conde, por decreto de 1 de março de
1849. Em 1901, como vogal da comissão que foi à exposição de
Paris de 1900, recebeu o grau de oficial da Legião de Honra. O sr.
conde de Samodães casou em 7 de janeiro de 1859 com D. Henriqueta
Adelaide Vieira de Magalhães, filha dos viscondes de Alpendurada:
António Vieira de Magalhães e D. Maria das Neves Correia Leal. Seu
filho Francisco de Paula Azeredo foi ministro da Fazenda no ministério
de 1907.
O
seu brasão consta do seguinte: Escudo esquartelado; no 1.º quartel
as armas dos Azeredos: Em campo azul oito contrabandas de ouro; no
segundo as dos Teixeiras: Em campo azul uma cruz de ouro potentea e
vazia; no terceiro as dos Carvalhos: Em campo azul uma estrela de
ouro, entre uma quaderna de crescentes de prata; no quarto as dos
Aguilares: Em campo de ouro uma águia negra; timbre, o dos Azeredos:
um leão rompante de azul, contracotisado de ouro.
Genealogia
do 2.º conde de Samodães
Geneall.pt
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