Juramento de D. Manuel II |
De
Da
génese da Monarquia Portuguesa ao início da República
6. Reunido
o Conselho de Estado, nomeou-se um governo de concentração partidária,
com excepção dos seguidores do anterior ditador João Franco. Na
política interna, teve de enfrentar dois problemas, que puseram em
descrédito a política governamental: a questão Hilton, provocada
pelo súbdito inglês, residente na Madeira, que reclamava uma
indemnização do Estado Português, em virtude de uma pretensa
revogação do monopólio do açúcar e do álcool da ilha da
Madeira, e também a do Crédito Predial, provocada pelo desfalque
naquela instituição. D.
Manuel II procurou ir ao encontro das reivindicações dos
trabalhadores, chamando o famoso sociólogo francês, Léon Poinsard,
para estudar as hipóteses de uma reforma que tivesse em conta a
relação condições económicas / condições sociais do Reino1. Duplicou
o número de deputados Republicanos por Lisboa, no ano de 1910. Com
efeito nas eleições municipais de Lisboa de 1908, os Republicanos
elegeram uma câmara municipal de 100% dos seus, e, nas eleições de
1910, os Republicanos ganharam em Lisboa e em vários círculos. D.
Manuel II constituiu, desta feita, um governo caracterizado pela
transigência e brandura para os Republicanos. No sector da política externa, procurou estabelecer boas relações com a Espanha e a Inglaterra. No dia 3 de Outubro de 1910, estalou uma revolta republicana em Lisboa que triunfou em 5 de Outubro, e D. Manuel decide-se por Plymouth. No exílio, manteve-se interessado pela política de Portugal, advogando a entrada do nosso País ao lado dos aliados na primeira guerra mundial. Por volta de 1914, os Monárquicos, aproveitando o governo mais tolerante de Bernardino Machado, formaram a “Causa Monárquica”, que aspirava a restabelecer o regime deposto. Gozava de toda a confiança e apoio do rei D. Manuel II, que nomeou um lugar-tenente. Durante seu reinado, visitou várias localidades do Norte do País e oficialmente a Espanha, a França e a Inglaterra, onde foi nomeado cavaleiro da prestigiada Ordem da Jarreteira, em Novembro de 1909. Recebeu as visitas de Afonso XIII, Rei de Espanha, em 1909 e de Hermes da Fonseca, Presidente eleito do Brasil, em 1910.
Entretanto, a situação
política degradou-se, tendo-se sucedido sete governos em cerca de 24
meses. Os partidos monárquicos voltaram às costumeiras questiúnculas
e divisões, fragmentando-se, enquanto o partido republicano
continuava a ganhar terreno. As eleições legislativas de 28 de
Agosto de 1910 fizeram aumentar o número de deputados republicanos no
Parlamento para 14 deputados, o que parece ter favorecido bastante a
causa revolucionária, embora já tivesse sido tomada a decisão de
tomar o poder pela via da Revolução, no Congresso de Setúbal,
Na verdade, a 4 de Outubro
de 1910, começou uma revolução e, no dia seguinte, a 5 de Outubro,
deu-se a Proclamação da República em Lisboa, o que parece ter
sucedido no dia anterior
Os oficiais a bordo terão demovido D. Manuel II dessa intenção, ou raptaram-no simplesmente, levando-o para Gibraltar3. A Família Real desembarcou em Gibraltar, recebendo-os logo a notícia de que o Porto aderira à República. O golpe de Estado estava terminado. Seguiram, então, dali, para o Reino Unido, onde foram recebidos pelo rei Jorge V.
D. Manuel fixou residência
Continuou a seguir de perto a política portuguesa, gozando de alguma influência junto de alguns círculos políticos, nomeadamente das organizações monárquicas. Embora a sua constante preocupação de que a anarquia da Primeira República provocasse uma eventual intervenção espanhola e o seu perigo para a independência nacional tenha sido considerado exagerado por certos autores, não pode duvidar-se que a preocupação não fosse genuína.
Pelo menos um caso é conhecido em que a intervenção directa do rei teve efeito. Depois do afastamento de Gomes da Costa pelo general Fragoso Carmona, foi nomeado novo embaixador de Portugal em Londres, substituindo o anteriormente designado. Dada a aparente instabilidade e rápida sucessão de embaixadores designados, o governo britânico recusou-se a reconhecer as credenciais do novo enviado. Ora acontece que, na altura, estava a ser negociada a liquidação da dívida de Portugal à Inglaterra, pelo que o assunto se revestia de grande importância. Nesta conjuntura, o ministro dos negócios estrangeiros da República pediu a D. Manuel que exercesse a sua influência para desbloquear a situação. O rei ficou encantado com esta oportunidade para ajudar o seu País e levou a cabo vários contactos (incluindo provavelmente o seu amigo, o rei Jorge V), tendo obtido de pronto os efeitos desejados.
Apesar
de deposto e exilado, D. Manuel teve sempre um elevado grau de
patriotismo, o que o levou, em
Notas
1.
Léon Poinsard, Portugal
ignorado. Estudo social, economico e politico, seguido de um
appendice relativo aos últimos acontecimentos, Porto, Magalhães
e Moniz, 1912; Pequeno
Dicionário de História de Portugal, dirig. por Joel Serrão,
Lisboa, Iniciativas Editoriais, 1976; Joaquim Veríssimo Serrão, História de Portugal, Vol. X, Lisboa, Verbo, 1986 e bibliografia
aduzida; Manuel Amaral, Portal
da História, 2000-2010. 2.
Maria Cândida Proença, D.
Manuel II – Colecção "Reis de Portugal", Lisboa,
Círculo de Leitores, 2006, p. 100 3.
Fernando Honrado, Da Ericeira a Gibraltar vai um Rei,
Lisboa, Acontecimento, 1993, pp. 91 – 93
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