Gilberto Freyre
Nasceu
no Recife, Pernambuco, Brasil, em 15 de Março de 1900; Nascido numa família tradicional de Pernambuco de senhores de engenhos de açucar, de um pai professor catedrático de Direito, livre-pensador, e de uma mãe católica e conservadora, aprendeu as pricipais línguas modernas e o latim durante a adolescência, tendo dado a sua primeira conferência pública, em Paraíba, sobre "Spencer e o problema da educação no Brasil" em 1916. Após
ter concluído os estudos no Brasil, foi para o Texas onde concluiu a
licenciatura, indo depois para Nova Iorque onde, em 1922, tirou o Mestrado
em ciências sociais na Universidade de Columbia
com uma dissertação intitulada Social life in Brazil in the middle of the
19th century. Correspondente do Diário de Pernambuco
durante a sua estadia nos Estados Unidos mostrou-se sempre muito crítico do «American
Way of Life».
Nesse ano viajou pela a Europa, visitando Paris, Berlim, Munique, Nuremberga,
Londres e Oxford. Nesta cidade universitária inglesa falou sobre o «donjuanismo»
peninsular, no Oxford Spanish Club, defendendo que o relacionamento sexual do
colonizador português com mulheres nativas tinha como objectivo conquistar
novos fiéis. Depois de Oxford visitou Lisboa e Coimbra, onde se encontrou
tanto com membros da Seara Nova como com os monárquicos do Correio da
Manhã, jornal do qual se tornou correspondente no Brasil. Depois da sua
curta estadia em Portugal regressou ao Brasil, após 5 anos de ausência. O
Brasil e o Pernambuco do pós Primeira Guerra Mundial prosperavam devido ao
aumento do preço das matérias-primas. Mas os hábitos não tinham mudado, e
Gilberto Freyre, com a experiência e os hábitos ganhos nos Estados Unidos e na
Europa, decidiu então escrever um conjunto de artigos pedagógicos, à maneira
das Farpas de Ramalho Ortigão. As suas opiniões não foram bem vistas pela sociedade tradicional, mas a intelectualidade pernambucana aceito-o imediatamente, o que lhe permitiu organizar em 1924 o Centro Regionalista do Nordeste, um grupo multi-disciplinar de advogados, médicos, engenheiros e jornalistas defensores do regionalismo, atacado pelo furor "modernista", e dois anos depois o Congresso Regionalista. Em 1926 descobriu sucessivamente o Rio de Janeiro e as suas Escolas de Samba e a sociedade multicultural da Baía de Todos-os-Santos, a «terra de quase todos os pecados». Nesse mesmo ano é convidado para secretário particular do governador de Pernambuco e para director do jornal A Província. Mas este 1.º período de participação directa na política acabou em 1930, quando decidiu acompanhar o governador da província na fuga provocada pela Revolução de Outubro de 1930, que colocou Getúlio Vargas no poder. Freyre começou o seu exílio em Portugal, estabelecendo-se em Lisboa, após uma breve escala na Baía. Foi aqui que começou a redacção da sua mais célebre obra - Casa-Grande e Senzala - pensada como 1.º tomo de uma História da Sociedade Patriarcal no Brasil. Regressou ao Brasil em 1933, tendo passado pela Universidade de Stanford, na Califórnia, como professor convidado, e de visitar as regiões do Sudeste dos Estados Unidos, onde existira até ao fim da Guerra Civil uma sociedade baseada em monoculturas e na escravatura. Foi nesse ano de regresso ao Recife que publicou a sua obra. Casa Grande e Senzala foi muito bem recebida tanto no Brasil, como na Europa, tendo recebido em França e Itália críticas elogiosas de Roland Barthes e Fernand Braudel. O seu reconhecimento nacional e internacional permitiu-lhe organizar o Congresso de Estudos Afro-Brasileiros em 1934, cujo objectivo era o estudo científico das minorias africanas do Brasil. Em 1941 casou com Madalena Guedes Pereira, de Paraíba. Em 1945, com o fim da 2.ª Guerra Mundial, e com a queda do regime autoritário do «Estado Novo», foi escolhido para a Assembleia que se transformou em Constituinte, sendo depois eleito para a primeira legislatura do regime democrático saído da Constituição de 1946. A sua contribuição na constituinte foi importante, já que era «o sociólogo da correnteza política» como disse o historiador Bento Munhoz da Rocha, deputado pelo Paraná. No Congresso Nacional brasileiro propôs a criação de institutos de pesquisa social em todo o País, propondo a criação, desde logo, de um instituto no Recife, que foi criado em Julho de 1949 com a designação de Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais. Em 1950 tornou-se director do Centro Regional de Pesquisas Educacionais do Recife, defendendo uma política educacional atenta à diversidade do Brasil. No ano seguinte, a convite do governo português visita Cabo Verde e a Guiné, Goa, Moçambique, Angola e S. Tomé. É no seguimento desta viagem de estudo que em 1953 surge o conceito de tropicalismo e luso-tropicalismo, termo que Freyre tinha utilizado pela 1.ª vez em Novembro de 1951numa conferência realizada em Goa, conceitos descritos primeiro implicitamente e depois explicitamente nos livros publicados nesse ano Aventura e Rotina e Um Brasileiro em Terras Portuguesas. O conceito foi desenvolvido e divulgado em 1959 no livro New world in the tropics, uma ampliação da obra de 1945 Brasil, an Interpretation, e que com base em várias obras posteriores deu origem à luso-tropicologia - uma proposta de ciência ligando a antropologia à ecologia de modo a estudar o relacionamento entre a cultura europeia e a cultura tropical. As obras que se seguiram foram: O luso e o trópico, em 1961, publicado tanto em português, como em francês e inglês; Arte, ciência e trópico, de 1962, Homem, cultura e trópico, em 1962, O Brasil em face das Áfricas negras e mestiças, em 1962 e A Amazónia brasileira e uma possível lusotropicologia, 1964. Em 1965 apareceu a proposta de um Seminário de Tropicologia, um forum de debates dedicados ao tema, que teve o seu início em Março de 1966. O Seminário foi dirigido por Gilberto Freyre até à sua morte. Em
Portugal, Gilberto Freyre realizou a conferência inaugural do Congresso
Internacional de História dos Descobrimentos, realizado no ãmbito das
Comemorações Henriquinas de 1960; foi agraciado com o doutoramento honoris
causa pela Universidade de Coimbra em 1962, foi homenageado em 1967 pela
Academia Internacional de Cultura Portuguesa; proferiu a conferência “O Homem
Brasileiro e a sua Modernidade”, na Fundação Calouste Gulbenkian, em
1970;
A sua obra, naturalmente muito aplaudida pelo regime do «Estado Novo», teve
em Eduardo Lourenço um crítico feroz, primeiro no artigo «Brasil – Caução
do Colonialismo Português» inserido no Portugal Livre de Janeiro de
1960, jornal mensal publicado em São Paulo, e «A propósito de Freyre
(Gilberto)» publicado no Suplemento de Cultura e Artes de O Comércio
do Porto em 11 de Julho de 1961.No primeiro artigo afirmava que
“... nenhum intelectual safado género Gilberto Freyre e suas burlescas
invenções de erotismo serôdio (...) podem tirar dos ombros do português,
tranquilamente paternalista e fanfarrão o dever de despertar para os seus
deveres e seus atrasos [relativamente à questão colonial]."
No segundo artigo notava a:
"pouca ou nenhuma seriedade objectiva e o falso brilho de fórmulas
feitas, tematizadas de livro em livro com fatigante ênfase. (...) Um nefasto
aventureirismo intelectual, incoerente e falacioso, desmascarando ao mesmo
tempo o falso liberalismo deste amador de estéticas imperialistas"
Se, como é natural, no período imediatamente a seguir ao 25 de Abril de
1974, as relações entre Freyre e Portugal arrefeceram, a verdade é que em
1983 foi
homenageado pela Academia das Ciências de Lisboa, a propósito do
cinquentenário da publicação de Casa-Grande e Senzala, tendo sido
elogiado por David Mourão-Ferreira num artigo escrito em 1981, mas publicado em
1983.
Bibliografia: Enciclopédia Luso-brasileira de Cultura,
Lisboa, Verbo, 1998- A ler:
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