André de Resende
Humanista português.
Nasceu por volta de 1495/8-1506 em Évora.
Humanista
do século XVI, a quem se ficaram a dever os primeiros estudos sobre arqueologia
de Évora, e veio a morrer, já septuagenário, depois de uma existência que não
foi sem brilho social e cultural. Filho
da família eborense Resende, educou-o sua mãe, fazendo-o ingressar na
ordem dominicana, em que os seus talentos ganharam a confiança dos superiores,
que o mandaram completar os estudos superiores em universidades estrangeiras, de
Espanha e de França. Passou assim pelas Universidades de Alcalá de Henares e
de Salamanca, na qual foi discípulo de Nebrija, do português Ayres Barbosa e
do flamengo Clenardo. Depois
do doutoramento em Salamanca, seguiu para Paris, em cujos meios universitários
tanta evidência tiveram seus talentos, que o diplomata D. Pedro de Mascarenhas,
embaixador de Portugal junto de Carlos V, em Bruxelas, o chamou para o imperador
o conhecer. Pouco
demorou, porém, na capital brabantina e desconhece-se‑lhe a causa da
brusca partida inesperada, em 1534, de regresso ao Reino. Falecimento
da mãe estremecida? Chamada de D. João III, já então ocupado com a reforma e
restauração da Universidade em Coimbra, que havia de realizar‑se em
1537? Importa
muito menos penetrar este mistério do que saber-se ter‑lhe sido
confiada a Oratio pro rostris, sua
obra mais citada, que pronunciou, como Oração de Sapiência, na abertura do
ano electivo da Universidade, ainda em Lisboa. Já
veremos que o humanista se desempenhou admiravelmente do encargo, animado do espírito
do século, que nele haviam avivado as relações com seus velhos mestres e com
o próprio Erasmo. Nomeado,
por D. João III, mestre do infante D. Duarte, seu irmão, e regendo ao mesmo
tempo a cadeira de Humanidades na Universidade, com a qual seguiu para Coimbra,
quando da transferência e sua reforma em 1537, obteve do papa a secularização,
que lhe dava a maior liberdade. Em
1551, ainda teve a seu cargo a Oração de Sapiência, mas quatro anos depois
era demitido do professorado, depois do que regressou enfim, cerca dos cinquenta
anos de idade, à cidade natal, onde se fixou e abriu para ensino particular um
curso para Humanidades. Porque
teria sido demitido de Coimbra? Ignora-se
o motivo. Talvez iniciativa dos colégios universitários. Não seria difícil
de invocar, para determinar-lhe a demissão, certo destempero de temperamento,
demonstrado em sua primeira «Oratio pro Rostris». Aquela sua invectiva contra
a crassa minerva canonistarum que
comprometem as litteras humaniores que
ele próprio professava; aquela exaltação das letras acima das armas, porque,
pela indagação da verdade, conferiam a imortalidade e a fama, invejadas dos próprios
reis; aquela veemência com que, depois de exaltar o valor da Gramática, que
tem maior conteúdo do que o aparenta o aspecto (quae
plus habet in recessu quarn in fronte) porque é anais do desenvolvimento da
razão, increpa as sórdidas, ignorantes criaturas que dão pelo nome de gramáticos;
o mesmo despejo de linguagem contra os que, por seu turno, ignorando as línguas
clássicas grega e latina, chave da poesia, da eloquência e da dialéctica, a
estas comprometem, pois que à maneira de porcalhões, mais asnos do que homens,
com estentórea voz, silogismos mentirosos e palavras de monstruosa invenção,
espalhafatosamente debateram sobre o que não sabem - tudo isso patenteia um ímpeto
que dificulta a sociabilidade. O mestre em artes era, ao menos quando jovem, um
rude fundibulário... Regressado,
pois, à sua cidade natal, ali vai regendo sua aula de Humanidades, continuando
pela pregação o seu múnus sacerdotal, e teria já começado a interessar-se
por investigações arqueológicas da terra eborense, as quais, no fim da vida,
foram sua exclusiva forma de actividade de espírito, quando o cardeal-infante
D. Henrique fundou a sua Universidade católica de Évora. São
então proibidas as escolas particulares que pudessem desviar alunos dos cursos
nelas professados, mas excluía-se da lei a de André de Resende -que, aliás, não
aceita o regime de excepção. E
é então que, até à morte, se consagra intensivamente à Arqueologia. Como
historiógrafo legou-nos, além de crónicas manuscritas, a obra De
Antiquitatibus Lusitaniae, por que entre nós se inicia o estudo documentado
do domínio romano na Lusitânia, e a História
da Antiguidade da Cidade de Évora; como agiólogo, A
Santa Vida e Religiosa Conversão de frei Pedro, porteiro do Convento de S.
Domingos, e a Vida de S. Domingos de
Cuba; como poeta, foram várias as poesias em português e latim, dentre as
quais alguns poemas, um dedicado a São Vicente, impresso com mais composições,
orações e cartas em Colónia, em 1545. Finalmente,
ao gramático ficou-se devendo um Comentário
da conjugação dos Verbos, e até o compositor deixou em seu espólio o Ofício
de São Gonçalo e o Ofício de Santa
Isabel. São numerosas as suas cartas.
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Fontes:
Carlos Selvagem e Hernâni Cidade, Cultura Portuguesa, 5, Lisboa, Empresa Nacional de Publicidade, 1971, págs. 42-46 |
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