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Maria
Pia de Sabóia
(D.).
Rainha de Portugal
n.
16 de outubro de 1847.
f. [ 5 de Julho de 1911 ].
Rainha
de Portugal pelo seu casamento com o rei D. Luís I.
Nasceu
em Turim a 16 de outubro de 1847, sendo filha de Vítor Manuel, então
príncipe do Piemonte, mas que mais tarde, em 1849, foi aclamado rei
de Sardenha, e em 1867, rei da Itália.
Sua
mãe era a arquiduquesa D. Maria Adelaide Francisca Reinero
Elisabete Clotilde, que faleceu em 1854, deixando sua filha, a
princesa senhora D. Maria Pia, apenas com sete anos de idade,
entregue aos cuidados da condessa de Vila Marina, que esmeradamente
a educou. Em 1862 foi pedida em casamento, pelo rei D. Luís, indo a
Turim com esse encargo, em especial missão, o visconde da Carreira,
que nessa ocasião foi agraciado com o título de conde, Luís António
de Abreu e Lima, camareiro-mor e oficial-mor da Casa Real. O ilustre
diplomata ia também encarregado de ajustar o contrato matrimonial.
Chegou a Turim a 3 de agosto de 1862, sendo o contrato assinado no
dia 9 do citado mês. O rei de
Itália dava 500.000 francos de dote a sua filha, 100.000 para o
enxoval, e jóias no valor de 250.000. O dote devia ser entregue ao
tesouro português vencendo o juro de 5 % ao ano, pago em
trimestres, ou empregado em bens de raiz, dando o rei de Portugal em
hipoteca ao dote de sua esposa a parte dos rendimentos do Estado que
fosse suficiente para isso.
O
casamento realizou-se em Turim por procuração, em 27 de setembro
do mesmo ano de 1862, sendo o rei D. Luís representado pelo príncipe
Carignan de Sabóia, lançando a bênção nupcial o arcebispo de Génova.
No dia 29 embarcou a jovem rainha de Portugal, em Génova, a bordo
da corveta Bartolomeu Dias, partindo
para Lisboa acompanhada pelas corvetas Estefânia
e Sagres, e pelas
corvetas italianas Maria
Adelaide, Duque de Génova, Itália, Garibaldi,
e o vapor aviso Anthion.
A esquadra chegou a Lisboa a 5 de outubro, indo esperá-la fora
da barra os vapores de guerra Lince
e Argos, os vapores de comércio D.
Antónia, D. Luís, Açoriano e Torre
de Belém. A corveta Bartolomeu
Dias fundeou em frente de Belém, indo logo a bordo o rei
D. Luís, o rei D. Fernando, o conselho de Estado, ministério, etc.
Para o desembarque da rainha, que se efectuou no dia 6, construiu-se
um rico e vistoso pavilhão no Terreiro do Paço, representando o
templo do Hymineu, tendo na parte do friso as seguintes inscrições
feitas por António Feliciano de Castilho: do lado do norte:
DA
BELLA ITÁLIA ESTRELLA SOBERANA
SEJAES BEM VINDA À PRAIA LUSITANA
do
lado do sul:
FILHA
DE REIS HEROES, DE REIS HEROES ORIGEM
EM NOVA ITALIA OS CEUS THRONO D'AMOR TE ERIGEM
No
dia 6, pelo meio-dia, embarcou o rei D. Luís no bergantim real,
indo a Belém buscar a rainha. Concluída a cerimónia no Terreiro
do Paço, que foi brilhante e entusiástica, dirigiu-se o grandioso
cortejo para a igreja de S. Domingos, onde se procedeu à cerimónia
da ratificação do casamento e se cantou um solene Te
Deum, composição do maestro Manuel Inocêncio dos Santos. Em
comemoração do real consórcio realizaram-se festas durante três
dias, havendo brilhantes iluminações, tanto nos edifícios públicos,
como em muitas casas particulares, produzindo grande efeito as do
Terreiro do Paço e da praça de D. Pedro. Houve parada, fogos de
artifício, récitas de gala no teatro de D. Maria, com o drama histórico
em cinco actos, de Mendes Leal, Egas
Moniz, e no de S. Carlos, cantando se opera Ernani,
de Verdi. A rainha Senhora
D.
Maria Pia conservou-se sempre alheia aos acontecimentos políticos
durante o reinado de D. Luís. Só quando se deu a revolta de 19 de
maio de 1870, à noite, indo o marechal duque de Saldanha, à frente
dos revoltosos cercar o palácio da Ajuda intimando a demissão do
ministério presidido pelo duque de Loulé, é que a varonil
soberana afirmou notavelmente a sua energia e coragem. (V. neste
volume, pág. 569 e seguintes, artigo dedicado a D. Luís I).
Mais tarde, a 2 de outubro de 1873, achando-se a banhos em Cascais,
e tendo ido passear com seus filhos ao longo da costa, até ao sitio
chamado Mexilhoeiro,
correu grande perigo a sua existência. Vendo uma onda
arrebatar os príncipes, a heróica rainha lançou-se imediatamente
ao mar para os salvar, e seria irremediavelmente vitima da sua
dedicação maternal, se não viesse em seu auxilio e dos príncipes
o ajudante do faroleiro da Guia, António de Almeida Neves, que
conseguiu arrastar para terra a rainha e seus filhos. Por este acto
foi a soberana agraciada com medalha douro concedida ao mérito,
filantropia e generosidade, por carta régia de 3 de outubro de
1873, sendo também recompensado o heróico salvador com uma
condecoração e uma pensão vitalícia.
O
Inverno de 1876 foi rigorosíssimo, produzindo grandes inundações,
que deram origem a enormes desgraças, ficando muitas famílias na
miséria. Por iniciativa da bondosa rainha organizou-se logo uma
comissão para angariar donativos, a qual se compunha dos seguintes
senhores, alguns dos quais já hoje não existem: Cardeal Patriarca
D. Inácio, duque de Palmela, conde de Rio Maior, Francisco de
Oliveira Chamiço, Carlos Ferreira dos Santos e Silva, António José
de Seixas, Flamiano Lopes dos Anjos, Pereira de Miranda, duque de
Loulé, marquês de Ficalho, visconde Ribeiro da Silva, Martens Ferrão,
visconde de Valmor, e as senhoras: duquesa de Ávila, condessas de
Sousa Coutinho, Rio Maior e Ficalho, viscondessas da Gandarinha e
Porto Covo; D. Gabriela de Sousa Coutinho, D. Maria Teresa de Assis
Mascarenhas, D. Maria Palha Brandão, D. Capitolina Viana e D. Maria
do Patrocínio Barros Lima Eugénio de Almeida. Os donativos
recebidos ascenderam a mais de réis 200.000$000, formando a rainha
um fundo especial com que depois foi socorrendo muitas famílias vítimas
da dureza dos Invernos. Na sessão
da câmara dos deputados de 9 de janeiro de 1877, o deputado da
oposição Osório de Vasconcelos exaltou a iniciativa da rainha,
propondo o deputado Barros e Cunha que a câmara «prestando à
caridosa iniciativa de que sua majestade a rainha houve por bem
usar, em beneficio das vitimas das inundações, a homenagem que lhe
deve em nome do povo que representa, resolve que este voto seja lançado
na acta das sessões, e que uma grande deputação deponha aos pés
da augusta princesa o tributo do seu reconhecimento.» A câmara dos
pares votou também proposta idêntica, na sessão de 8 de janeiro.
A sociedade francesa de L'encouragement au bien conferiu à
rainha senhora D. Maria Pia a grande medalha de honra, na sessão de
27 de maio de 1877. Quando neste ano de 1877 a fome afligiu os povos
do Ceará em consequência das grandes secas que ali houve, a
bondosa soberana propôs, e foi aprovado, que do cofre dos inundados
se retirasse a quantia de 36.000$000 réis, destinada a socorrer as
infelizes vitimas daquela calamidade.
Foi
a rainha senhora D. Maria Pia quem fundou na Tapada da Ajuda a
Creche Vítor Manuel, que se inaugurou em 1 de novembro de 1878,
construindo-se um edifício próprio para aquele fim. Quando
circulou em Lisboa a noticia da lamentável desgraça do incêndio
do teatro Baquet do Porto em março de 1888, a rainha senhora D.
Maria Pia partiu imediatamente no comboio só com seu filho numa
noite de temporal, vestida de luto, porque de luto estava aquela
cidade, para juntar as suas lágrimas às de tantos infelizes, e não
se lembrando de que era rainha para só se lembrar de que era
mulher, correu pelas vielas mais sórdidas do Porto, e becos
escuros, a levar conforto a desgraçados que agonizavam,
distribuindo esmolas a todos os infelizes que encontrava. Ali no
Porto foi aclamada como mãe dos pobres e anjo de caridade, titulo
que já de há muito tempo havia conquistado pela sua beneficência.
Viu
depois falecer seu marido, o rei D. Luís I, em 19 de outubro de
1889, em Cascais, o que lhe causou profundíssimo desgosto, e em 1
de fevereiro de 1908 sentiu a dolorosa perda de seu filho, o rei D.
Carlos I, e de seu neto, o príncipe real D. Luís Filipe, vitimas
da horrorosa tragédia, ao desembarcar em Lisboa, regressando de
Vila Viçosa, onde a família real havia passado algum tempo. Sua
majestade a rainha Senhora, D. Maria Pia foi regente do reino por
duas vezes: a primeira, em 1902, quando o rei D. Carlos e a rainha
Senhora D. Amélia foram visitar o rei de Espanha; e a segunda, em dezembro
de 1904, indo os mesmos soberanos a Inglaterra a convite do rei
Eduardo VII. É grã-mestra da ordem de Santa Isabel, grã-cruz da
de N. Sr.ª da Conceição; condecorada com a ordem das Damas Nobres
de Maria Luísa, de Espanha; presidente e protectora de muitas
corporações de beneficência do reino, e especialmente da Associação
das Creches, etc.
Genealogia
da rainha D. Maria Pia de Sabóia
Geneall.pt
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