Capa da obra de Alfredo Pimenta
A CRÓNICA DOS GODOS
Apresentação de Alfredo Pimenta da «História dos Godos».
Quem,
pela Primeira vez, editou a Chronica Gottorum foi Frei António
Brandão, o primeiro delineador da história científica de Portugal, na
terceira Parte da Monarchia Lusitana (Apêndice, escritura
primeira, fIs. 271 a 276) . Chamou‑lhe,
o douto editor, «hü Epitome em Latim que se intitula, História dos
Godos», e informa de que ele pertencera a Mestre André de Resende, donde
passou para as mãos de Manuel Severim de Faria, Chantre de Évora. Acrescenta
ainda Brandão: «ha dous exemplares della, o que aqui vay impresso...
Outro mais breue, cujas palauras por essa mesma causa allego mais vezes,
se tirou de Alcobaça, & S. Cruz de Coimbra» Temos,
assim, que há, da História dos Godos, duas lições: uma extensa
‑ a que figura no Apêndice das Escrituras da Monarchia Lusitana;
e outra resumida, a que Brandão utilizou no decurso,
transcrevendo‑lhe os lugares, segundo as necessidades da exposição.
Qual das duas é a lição primitiva? Ou serão elas independentes? Alexandre
Herculano (Hist. de Port., I, pág. 506), interpretando os dizeres
transcritos de Brandão, entende que a Primitiva é a lição resumida, não
sendo a extensa mais do que enfeitamento daquela. O
Padre Luís Gonzaga de Azevedo (Hist. de Port., Pág. 174) Pensa ao
contrário que a lição primitiva é a extensa, e a Brevis historia,
o seu resumo. Para não me repetir, indico ao leitor o que no meu livro Idade
Média (pág. 273 e segs.) expus, em reforço do parecer de Luís
Gonzaga de Azevedo. A
segunda edição é a de Henrique Florez (España Sagrada, tomo XIV,
págs. 415 a 432) Mas esta segunda edição difere da primeira, porque o
seu autor acrescentou‑lhe, no fim, duas emendas: uma que pertence à
lição resumida de que Brandão se serviu no corpo da sua obra; e outra
que foi buscar ao Chronicon Conimbricense. A
Primeira é a que começa: «Era 1222 accidit victoria maxima Alfonso, de
Josepho Abenjacob Miramolino, filio Abdelmone qui dictus est Rex asini...»,
e termina «Huius filius Jacob postea victus est in Bettica apud Nauas
Tolosae» (Mon. Lusit., III.ª parte, liv. II, cap. 35, fl. 261). A
segunda é a que começa: «In era m. xx.ij, Mense iunij uigilia sancti
iohanis...», e termina: «...et fuit ibi Per quinqua septimanas» (fl.
5). Além
disso, Florez modifica‑lhe o título, chamando‑lhe Chronicon
Lusitanum. Esclarece ele que prefere chamar‑lhe assim, porque é
narração de acontecimentos portugueses, e não dos Reis dos Godos: «hunc
Praeferimus titulum, Potius quam Gothorum Chronica, sub quo editam:
quoniam de rebus in Lusitania gestis, non de Gothorum Regibus, tota illi
cura est». A
razão é um capricho do douto escritor. Porque a verdade é que a História
dos Godos não trata só de coisas portuguesas. A
terceira edição é a dos Portugaliae Mon. Historica: Scriptores,
I, pág. 5 e seguintes. Acompanha-a, em disposição feliz, que facilita a
comparação, a lição resumida, sendo apenas para lastimar que Herculano
não tivesse indicado, à margem, as folhas da Monarchia Lusitana
em que as suas ementas se encontram. Na
reedição que ultimamente se fez (Livraria Civilização, Porto, 1944) da
Monarchia Lusitana, teve-se a infortunada ideia de se substituir o
texto latino por uma tradução portuguesa. Que se juntasse ao texto
latino a versão portuguesa, compreende-se. Mas que fosse substituído é
manifestamente insólito. Quem
teria sido o autor da História dos Godos ? Não
se sabe. E creio que só se chegou a esboçar uma hipótese de identificação:
a de Joseph Rodriguez de Castro. Depois de ter aludido ao Anónimo que
escreveu essa História, o conhecido autor da Biblioteca española passa a
-falar no Anónimo que escreveu a Crónica de D. Afonso VII, e adverte: «contemporaneo
del Anónimo antecedente fue el otro Anónimo (á no ser que ambos sean un
mismo sugeto) que escribió en Latin una Crónica del Rey D. Af fonso VII
de Castilla nombrado Emperador de Espana» (tomo II, pág. 501, 1.ª col.). Mas
esta conjectura não tem outra base além da contemporaneidade das duas
obras. Nota: 1.
Não se percebe muito bem o que seja este exemplar tirado de duas
Livrarias ‑ a de Alcobaça e a de Santa Cruz. Luís Gonzaga de
Azevedo pensa, e com graves razões, que Brandão se enganou, confundindo
«fragmentos da Crónica dos Godos com outros cronicões».
«História dos Godos» in Alfredo Pimenta, Fontes Medievais da História de Portugal, vol. I: Anais e Crónicas, Lisboa, Livraria Sá da Costa («Clássicos Sá da Costa»), 1948; págs. 22 - 24.
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