CRONOLOGIA DA ITÁLIA NO SÉC. XV E PRINCÍPIOS DO SÉC. XVI
1. O SÉCULO XV
1378 - 1394. Clemente VII, dividindo a Cristandade ocidental em duas obediências:
O apoio dos diferentes estados europeus aos papas rivais foi determinada normalmente por razões práticas, mas muitas vezes era determinado depois de um estudo cuidado das propostas de cada um dos contendores e após consulta ao clero local. A decisão portuguesa baseou-se na rivalidade com Castela, a inglesa, de uma maneira geral, na hostilidade com a França; a da Escócia na hostilidade com a Inglaterra. 1379. Emergência do movimento conciliar. As ideias básicas estavam delineadas por autores como Marsílio de Pádua, mas foram apresentadas por Henrique de Langestein neste ano, com o argumento específico de que o consílio era superior ao Papa, podia ser convocado por um rei, era competente para julgar um pontífice ou convocar um novo conclave. 1382 - 1432. Meio século de dominação oligárquica em Florença, o zénite do poder de Florença. A reforma constitucional de 1382 aumentou a participação popular no governo, mas nada foi feito pelos ciompi (os trabalhadores mais pobres, que se tinham revoltado em 1378), e continuou a haver revoltas esporádicas enquanto os Guelfos reconquistavam o poder na cidade. 1385 - 1402. Gian Galeazzo Visconti, que tinha sucedido ao pai Galeazzo II (1378), afasta o tio Bernabó do governo do ducado de Milão e passa a governar sozinho. Casa com Isabel, filha do rei João de França, e casa a sua filha Valentina a Luís de Orleães. Começa a criar um reino no Norte de Itália adquirindo Verona, Vicenza e Pádua, entre 1386 e 1388. A sua ocupação de partes da Toscânia é bloqueada por Florença, assim como pela revolta de Pádua. 1386 - 1414. Ladislau de Nápoles, impôs ordem no seu reino dividido entre facções angevinas e aragonesas, começando uma campanha de expansão no centro de Itália, tendo comprado ao papa Gregório XII os Estados da Igreja, a que se opuseram as repúblicas de Florença e de Siena. 1393. Maso degli Albizzi começa o seu logo controlo do governo de Florença, pondo em causa a estrutura política baseada nas corporações, destruídas pelo capitalismo. Maso governou em favor da sua própria casa comercial e dos comerciantes de lã, a que estava associado. Os elementos democráticas na organização do estado desapareceram. 1395. Gian Galeazzo Visconti, duque de Milão, é feito duque hereditário pelo imperador Venceslau, adicionando às suas possessões as cidades de Pisa e Siena (1399), Assis e Perigia (1400). 1397 - 1398. Florença resiste aos ataques dos Visconti, duques de Milão, contra a cidade. 1402. A morte de Gian Galeazzo de Milão, salva Florença da conquista. Milão entra num período de anarquia sob o governo dos seus filhos Gian Maria (1402-1412) e Filippo Maria (1402-1447). 1405. Veneza ocupa Pádua, Bassano, Vicenza e Verona devido à separação dos domínios milaneses dos Visconti e à derrota da família Carrara que dominava Pádua. 1412 - 1447. Filippo Maria Visconti governa Milão sozinho a partir de 1412, data do assassinato do irmão, recuperando as terras governadas pelo pai, incluindo Génova. 1405. Pisa foi comprada por Florença aos Visconti e obrigada à obediência (1406), dando à república acesso directo ao mar. 1409. O Concílio de Pisa, teve a participação de 500 prelados e delegados dos estados europeus, que se dividiram em duas facções. Uma moderada, a maioria, que tinha o único objectivo de acabar com o Cisma, e outra formada por radicais, que propunham a realização de reformas. O conclave escolheu Alexandre V, que morreu em 1410, e a seguir o cardeal Baldassare Cossa. O Papa e o anti-Papa não resignaram, criando-se um triplo cisma. 1410 -1415. João XXIII, expulso de Roma por Ladislau de Nápoles, foi obrigado pelo imperador Segismundo a convocar o Concílio de Constança (1414) como preço pela protecção. A iniciativa para a resolução do cisma passou do rei de França para o imperador. 1414 - 1417.
O Concílio de Constança. O Papa João XXIII aceitou resignar se os outros o fizessem também, mas fugiu de Constança, foi preso, julgado e deposto (1415). Gregório XII resignou, mas Bento XIII manteve-se irredutível, ficando completamente isolado sendo abandonado por todos os governantes europeus. O conclave elegeu o cardeal Colonna como Martinho V, e o Cisma terminou de facto. 1415 - 1435. Joana II de Nápoles, irmã de Ladislau. As extraordinárias intrigas desta viúva apaixonada entre os seus favoritos, sucessores designados e pretendentes rivais ao trono mantiveram a diplomacia italiana num turbilhão, que terminou na luta entre o candidato da casa de Anjou, René (apoiado pelo Papa) e Afonso V de Aragão (apoiado por Filippo Maria Visconti, duque de Milão). O conflito terminou com o triunfo de Afonso, que se assenhoreou de Nápoles em 1435, sendo reconhecido pelo Papa em 1442. 1416. Primeira guerra de Veneza contra os Turcos Otomanos, devido à actividade turca no Mar Egeu. O Doge Loredano vence os otomanos nos Dardanelos e obriga o sultão a aceitar a paz. 1417 - 1431. Martinho V, considerou ímpio apelar a um concílio contra um papa e dissolveu o Concílio de Constança. O papado recuperou os Estados da Igreja dos auto-proclamados vigários papais, que eram de facto independentes de qualquer poder. 1421 - 1429. Livorno, cidade portuária, foi comprada por Florença, que estabeleceu os Cônsules do Mar. Um novo ataque dos Visconti, duques de Milão a Florença, obriga a república a declarar-lhe guerra. Várias derrotas de Florença foram acompanhadas pelo declínio do crédito florentino e pela falência de importantes casas bancárias e comerciais da cidade. Florença alia-se a Veneza e consegue derrotar Milão, que assina uma paz onerosa que beneficia sobretudo Veneza. O partido da paz é liderado por Giovanni de Médici. 1423. Veneza ocupa a Tessalónica de acordo com um plano de cooperação com o imperador grego contra os turcos. 1425 - 1430. Segunda guerra de Veneza contra os Turcos. A frota otomana saqueia as costas do Mar Egeu e toma tessalónica (1430). Os Venezianos foram obrigados a fazer a paz devido 1426 - 1429. à guerra de Veneza contra Milão, que permite aos venezianos ocuparem definitivamente Verona e Vicenza, para além de Brescia (1426), Bérgamo (1428) e Crema (1429). 1427. Uma reforma dos impostos em Florença estabelece a catàsto, um imposto sobre o rendimento que tinha a intenção de ter uma incidência geral e democrática, sendo apoiada em princípio pelos Médicis. 1429 - 1433. Guerra entre Florença e Lucca. O fiasco da guerra leva Cosimo, filho de Giovanni de Médici, à prisão e ao exílio, por ser considerado o principal responsável do falhanço. 1431 - 1447.
Eugénio IV, cardeal veneziano, convocou o concílio de Basileia. 1431 - 1449. O Concílio de Basileia foi dominado por um forte sentimento anti-papado. Dissolvido pelo papa, o concílio ignorou a ordem e decretou que não podia ser dissolvido pelo papa sem o seu consentimento, convocando o papa e os cardeais uma segunda vez. O papa não compareceu mas aceitou a nova reunião (1433). Mais tarde o concílio foi novamente dissolvido, sendo um novo convocado para Ferrara. O concílio rebelde manteve-se em reunião, depôs Eugénio e elegeu Amadeu de Sabóia enquanto. 1439 - 1449.
Félix V. 1434. As eleições para a Signoria de Florença favoreceram os Médicis, fazendo com que Cosimo fosse chamado do exílio. Os seus opositores, Rinaldo degli Albizzi, Rodolfo Peruzzi e outros são, por seu turno, obrigados ao exílio. 1434 - 1494. Domínio da família Médici sobre Florença. 1434 - 1464. Cosimo de Médici, Pater Patriae de Florença. 1435 - 1458. Afonso V de Aragão (o Magnânimo) reuniu as coroas de Nápoles e da Sicília e tornou Nápoles o centro do império mediterrânico da coroa de Aragão. Apoiou o duque Visconti de Milão, que aparentemente lhe retribuiu doando-lhe o ducado quando morreu. Leal ao papado, Afonso apoiou o Papa Eugénio IV contra Francesco Sforza. Afonso dividiu os seus domínios entre o seu irmão João, que ficou com Aragão e a Sicília, e o seu filho natural, que ficou com Nápoles. 1438 - 1445. O Concílio de
Ferrara-Florença. Depois de vários meses de discussão os delegados da
Igreja ortodoxa Grega aceitaram a fórmula romana para a união, em 1439, e o
cisma entre o Ocidente e Oriente, que datava de 1054, terminou formalmente. 1438. Um Sínodo nacional
francês e o rei Carlos VII, de França, aceitaram a Pragmática Sanção
de Bourges, que incluía a maior parte dos decretos anti-papais do concílio
de Basileia, que formaram a base das liberdades galicanas. 1439. A Dieta de Mainz aceitou a Pragmática Sanção de Mainz, abolindo as anátas, as reservas papais, as provisões e estabelecendo os sínodos diocesanos e provinciais. 1440. Florença e Veneza são derrotadas pelo exército de Filippo Maria Visconti, duque de Milão, em Anghiari. O catàsto, o imposto sobre o rendimento de Florença é substituído por um imposto progressivo, diminuindo o peso dos impostos sobre as classes mais pobres, apoiantes dos Médicis. 1447 - 1455. Nicolau V, antigo bibliotecário de Cosimo de Médicis, humanista e fundador da Biblioteca Vaticana, tornou Roma temporariamente um centro humanista. 1447 - 1450. Com a morte de Filippo Maria Visconti, Milão torna-se uma República dominada por Francesco Sforza, genro do último duque Visconti de Milão. 1448.
Concordata de Viena. 1449.
Dissolução do Concílio de Basileia: o papa Félix V abdica,
tornando-se cardeal. 1450. Francesco Sforza (1450-1466) é nomeado Duque de Milão por aclamação popular. 1450 - 1500. Governo dos Sforza em Milão. O novo duque de Milão assina a paz com Cosimo de Médici, de Florença, e com Nápoles, criando a tríplice aliança em Itália. 1453.
Os Turcos conquistam Constantinopla, acabando com o Império grego do
Oriente. 1455 - 1458. Calisto III, um aragonês anti-humanista, apoiou a luta contra o turco e defendeu ardente a família (Borgia), que promoveu descaradamente sendo um destes o futuro papa Alexandre VI. 1458 - 1464. Pio II. Humanista, ensaísta eloquente, orador e latinista reconhecido, foi um defensor da supremacia do papado, opondo-se obstinadamente à reforma conciliar. Tentou pregar a Cruzada contra os Turcos, mas não foi bem sucedido. Governou com o apoio da família, continuando o nepotismo. 1458 - 1494. Ferrante (Fernando I), um dos príncipes da Renascença mais notoriamente falho de escrúpulos. Conseguiu suceder ao trono com o apoio de Francesco Sforza e Cosimo de Médici. Ferrante apoiou a tríplice aliança italiana, excepto no período compreendido entre 1478 e 1480. O papa Inocêncio VIII (1484-1492), apoiou o pretendente angevino, mas o rei conseguiu fazer a paz e destruir a revolta aristocrática. Depois atacou o papa que só sobreviveu com o apoio de Florença. Inocêncio VIII acabou por garantir a sucessão em Nápoles, o que foi aceite por Alexandre VI, que por isso se opôs aos pedidos do rei francês Carlos VIII para ser investido como rei de Nápoles. 1463 - 1479. Grande Guerra contra os Turcos. O Negroponte foi abandonado por Veneza, mantendo-se a República sempre na defensiva. Pelo tratado de Constantinopla (1479) Veneza abandona Scutari e outros pontos na costa albanesa, passando a pagar um tributo anual para poder comerciar no Mar Negro. 1464 - 1471. Paulo II, cardeal veneziano, rico e bondoso, coleccionador de jóias e criador das corridas de cavalo do Corso. Centralizador, defendeu a cruzada húngara. 1464 - 1469. Piero de Médici, meio-inválido, governa Florença, após a morte do pai, Cosimo. 1466 - 1476. Galeazzo Maria Sforza governa Milão cruel mas habilmente, acabando assassinado. 1469 - 1478. Lorenzo e Giuliano de Médici governam Florença após a morte de Piero. 1471 - 1484.
Xisto IV (Cardeal della Rovere). 1471. A conciliação de Lourenço de Médici com o papa Xisto IV, fez com que a casa dos Médici visse confirmada os seus privilégios bancários e fosse nomeada recebedora dos rendimentos papais. 1474. O papa Xisto IV e o rei de Nápoles Ferrante são convidados a juntar-se à aliança entre Florença, Veneza e Milão, concluída neste mesmo ano. Os dois governantes não aceitam 1475 - 1480.
Xisto IV aproxima-se de Ferrante de Nápoles, alienando os Médicis, que
deixam de ser os banqueiros do papado, sendo substituídos pelos Pazzi. 1476 - 1479. Gian Galeazzo Sforza, marido de Isabel de Nápoles, apoia Florença contra Nápoles, após a Conspiração dos Pazzi. O governo do ducado é usurpado por Ludovico, tio de Gian Galeazzo. 1479 - 1480. O interdito sobre Florença e a excomunhão de Lourenço de Médici, decretada por Xisto IV, terminou com a tríplice aliança entre Florença, Veneza e Milão que mantinha a balança do poder em Itália, e levou à guerra que envolveu quase todas as potências italianas. Afonso de Calábria invadiu a Toscânia, Veneza e Milão apoiaram Florença, Ferrante de Nápoles engendrou uma revolta em Milão, os Turcos atacaram Veneza e a peste reapareceu. Desesperado Lourenço visitou Ferrante, e por meio do seu charme e da afirmação de que apoiaria as pretensões francesas ao trono de Nápoles, conseguiu a assinatura da paz. A guerra terminou com a captura de Otranto (1480). 1479 - 1500. Ludovico (il Moro) de Milão, isolado diplomaticamente, após a morte de Lourenço de Médici apoia o apelos dos exilados napolitanos para Carlos VIII de França intervir em Nápoles, tendo a expedição (1494) dado início à perda da independência italiana. A seguir a Carlos veio Luís XII, de Orleães (1498-1515) que adicionou Milão às suas outras pretensões. 1482 - 1484. A aliança do papado com Veneza levou à Guerra com Ferrara. Veneza adquiriu Rovigo, terminando a sua expansão em Itália. 1478 - 1492. Lourenço de Médici ( o Magnífico), governa sozinho Florença. Continua genericamente a política de Cosimo. Teve o poder e o prestígio de um príncipe, sem nunca ter tido o título nem o cargo. O seu casamento com Clarice Orsini, uma das principais casas aristocráticas de Roma, foi o primeiro casamento com uma família principesca dos Médici. 1484 - 1492. Inocêncio VIII, cardeal genovês, foi o primeiro a reconhecer os filhos e a tomar refeições públicas em companhia de mulheres. Uma revolta aristocrática em Nápoles, com o apoio do papado e de Veneza, levou ao reavivamento das pretensões da casa de Anjou ao trono de Nápoles. Florença e Milão conseguiram a paz e uma amnistia para os revoltosos, mas a violação do acordo por Ferrante levou os exilados a apelarem à intervenção do rei de França Carlos VIII. O novo duque de Milão, Ludovico Sforza, aliou-se ao rei de França e permitiu a entrada do exército francês em Itália (1494). 1489. Veneza recebe Chipre, tanto por meio de dádivas como de extorsão, de Catarina de Cornaro, viúva de Jaime de Lusgnan. 1491. Girolamo Savonarola (1452-1498), prior da igreja de São Marcos em Florença desde 1491, eloquente pregador precursor da Reforma, começou a denunciar o novo paganismo do Renascimento, a corrupção do estado e do papado, prognosticando a ruína de Itália. 1492. Piero de Médici, sucedeu a seu pai, Lourenço o Magnífico no governo de Florença. Filho de uma Orsini e casado com uma Orsini, aliou-se secretamente com Nápoles para espoliar Milão,o que provocou a aliança de Ludovico Sforza com os exilados napolitanos que tinham chamado Carlos VIII de França a intervir em Nápoles (1494). 1492 - 1503. Alexandre VI, cardeal Borgia, membro de uma família aristocrática da Catalunha, foi um estadista activo mas completamente imoral, cuja vida foi um escândalo, mesmo de acordo com os estranhos padrões da Itália renascentista. O seu principal objectivo foi estabelecer a família na Itália central. Destruiu o poder das grandes famílias aristocráticas de Roma, como os Colonna e os Orsini, e por meio do seu filho segundo, César Bórgia (1457-1507), antigo cardeal e um dos principais personagens do livro de Maquiavel, O Príncipe, conseguiu conquistar a Romagna de que César se tornou duque até 1506, ano em que foi preso pelo Papa Júlio II e expulso para Espanha.
Continuação: As Guerras de Itália, 1494 - 1559. | |
|
Teoria
Política |
| Página
Principal | © Manuel Amaral 2000-2008 |