A Guerra de 1801 - 7.º parte

 

 

 

A CAMPANHA NO ALENTEJO (cont.)

A defesa da linha das fortalezas: Campo Maior

Não tendo o exército espanhol capacidade de investir Elvas, e tendo as fortalezas meridionais, as menos importantes, sido entregues rapidamente, ficava Campo Maior para atacar, na tentativa de abrir um caminho seguro para a passagem do exército espanhol mas sobretudo dos seus trens de víveres e de munições para Norte, em direcção ao Tejo.

Campo Mior

A Fortaleza de Campo Maior


A praça era comandada por um dos melhores oficiais de engenharia portugueses, o tenente-coronel Matias José Dias Azedo, professor de engenharia na Academia de Fortificação, redactor dos estatutos do Corpo de Engenheiros, e que será nomeado comandante do corpo em 1810. As fortificações estavam em bom estado, tendo sido restauradas sob a direcção do seu governador, tendo material de defesa suficiente para um cerco prolongado. 

Foi a 2.º divisão espanhola que se encarregou do primeiro ataque a Campo Maior, no dia 20 de Maio. Ao chegar em frente à fortaleza toda a divisão foi colocada em ordem de batalha, com as bandeiras desfraldadas e a música a tocar, para fazer "alarde do valor espanhol à frente dos inimigos". Fazendo avançar as companhias ligeiras, que tinham no exército espanhol o nome de "guerrilhas", o general espanhol tentou isolar desde logo a praça, tendo escolhido esse momento para enviar o general duque do Infantado como emissário à fortaleza. Confundido como oficial das forças sitiantes que se aproximavam da fortaleza, foi recebido a tiro. O grande de Espanha saiu ileso da empresa e conseguiu mostrar que era um emissário. Cumpria uma das obrigações das cortesias da guerra da altura, solicitando a rendição ao governador da praça, antes que as operações de cerco começassem. Dias Azedo recusou e o duque do Infantado regressou são e salvo às linhas espanholas. Sem capacidade para realizar um cerco a divisão regressou à zona de concentração no Caia, até porque a artilharia portuguesa fazia baixas desnecessárias nas forças espanholas. 

No dia seguinte, apareceu a 4.º divisão do general Negrete, que foi a força encarregue da realização do sítio de Campo Maior. Aberta a primeira bateria no dia 22 à noite começou no dia seguinte, às 9 horas da manhã, o bombardeamento da praça, com quatro peças e um morteiro. A bateria estava colocada deficientemente e longe da praça para fazer grandes estragos. No dia 24 chegou aos arredores de Campo Maior a 3.ª divisão que tinha conquistado Olivença e Jurumenha. Vinha ajudar ao assédio, aumentando a força de trabalho que abria as linhas de cerco e construía as baterias necessárias ao sítio da fortaleza portuguesa. No dia 26, os espanhóis atacaram a praça com uma nova bateria colocada no Carrascal. Esta segunda bateria era formada por 4 peças de calibre 24. No dia seguinte entrou em acção uma terceira bateria, composta de 2 morteiros. Não parecendo estar perto o fim do cerco, a 3.ª divisão foi enviada para Santa Eulália para reforçar a linha do bloqueio de Elvas. Nos dias subsequentes os espanhóis tentaram construir uma quarta bateria, em que pensavam colocar dez peças de calibre 24, mas não conseguiram. No dia 1 de Junho, as tropas portuguesas fizeram uma surtida para perturbarem as obras de construção das baterias espanholas. O ataque não teve o efeito desejado, mas mostrou que as forças portuguesas sitiadas estavam perfeitamente capazes de operar ofensivamente. 

No dia seguinte, 2 de Junho, a nova bateria de quatro peças abriu fogo contra a praça que começava a ser fortemente atacada, tendo os espanhóis disparado 732 tiros nesse mesmo dia. A partir de dia 4 a intensidade do fogo da artilharia da praça começou a diminuir fortemente. A artilharia disponível começava a ser pouca, devido sobretudo à falta de reparos para as peças, que sendo destruídos poucas vezes podiam ser recuperados ou substituídos. No dia 5 de Junho só havia 8 peças capazes de disparar. Percebendo que se estava muito perto do desenlace, D. Francisco Xavier Negrete decidiu intensificar o bombardeamento no dia seguinte, tendo as peças sitiantes disparado um total de 1600 tiros. Na noite desse dia a artilharia de Campo Maior não disparou um único tiro, e ao alvorecer começou a disparar mas com muito pouca actividade. Sentido o sucesso, Negrete enviou o chefe de estado-maior da sua divisão, o ajudante-general D. Francisco Mariano, com uma nova intimação que foi aceite por Matias Azedo, após o parecer favorável de um conselho de guerra que tinha mandado reunir ao fim da tarde. Os termos da capitulação foram aceites por Godoy às 9 da noite do dia 6 de Junho, tendo a cerimónia de entrega da praça sido realizada no dia seguinte às 12 horas. A capitulação era honrosa, permitindo que as forças militares saíssem com todas as honras, acompanhadas de "2 canhões de libra por honra". 

A guarnição de Campo Maior realizou o que se esperava dela, tendo mantido uma divisão inteira no seu assédio e obrigando a que uma segunda divisão tivesse que vir ajudar no seu sítio. Como dirá Neves Costa, Dias Azedo fez a sua obrigação, mas não mais do que isso. Merecidamente, de qualquer maneira, Dias Azedo foi promovido imediatamente a coronel, e no fim da guerra foi promovido a brigadeiro, sendo acompanhado nas promoções por muitos dos seus companheiros de armas. É difícil saber o número certo de baixas no decurso do cerco de 17 dias de Campo Maior, mas segundo Neves Costa, que participou na guerra no estado-maior do duque de Lafões, e visitou o local em 1803, do lado português morreram dez soldados e sete civis, tendo ficado feridos mais de cem pessoas. Do lado espanhol terão morrido 10 soldados e 20 terão ficado feridos.


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