A Guerra de 1801 - 8.º parte

 

 

 

A CAMPANHA NO ALENTEJO (cont.)

O combate de Arronches

O ataque do dia 20 de Maio apanhou o exército do Alentejo a concentrar-se na fronteira, num movimento em direcção à linha do rio Sever e de reocupação das zonas de possível entrada do exército espanhol na serra de São Mamede. Do ponto de vista do exército português o mais perigoso seria um ataque espanhol que conseguisse ocupar Portalegre e o Crato, dividindo as forças do Alentejo em duas, o que obrigaria as forças do flanco esquerdo a recuar para a Beira Baixa e as do flanco direito a recuar para Ponte de Sôr. Este plano seria o mais acertado, e o que tinha sido tentado pelo exército espanhol durante a Guerra de Sucessão de Espanha, sendo que o brigadeiro Chambord, oficial do estado-maior de Rosière, continuava achar em 1803, quando regressou ao Alto Alentejo ao serviço da Inspecção das Fronteiras, que esse devia ter sido o plano adoptado pelos espanhóis, o único que lhe poderia ter dado a vitória na guerra.

Arronches

O Combate de Arronches

 

Legenda da imagem
Forças portuguesas Forças espanholas
1 - 1.º Batalhão do 2.º Regimento de Infantaria de Olivença 4 - 1.º Regimento de Infantaria Ligeira da Catalunha
2 - 1.º Batalhão do 1.º Regimento de  Olivença 5 - 2.ºbatalhão do Regimento de Caçadores da Coroa
3 - Regimento de Cavalaria de Moura 6 - Regimento de Infantaria Ligeira de Gerona
  7 - Regimento de Hussardos

Mas a invasão espanhola realizou-se pela linha das fortalezas, devido à dificuldade dos transportes na zona da serra, mas possivelmente também já com a ideia de ocupar Olivença, o que obrigou o general Forbes, não querendo deixar a serra, a realizar um movimento sobre o seu flanco direito, para colocar o exército na linha Monforte - Assumar - Arronches - Alegrete. O barão de Carové, oficial francês emigrado, em Portugal desde 1797, que será nomeado inspector-geral da cavalaria em 1804, foi enviado com os oito esquadrões da divisão da direita que comandava, juntar-se aos quatro batalhões do 1.ª e 2.ª regimentos de Olivença que estavam em Alegrete e Arronches, para observar os movimentos ofensivos espanhóis. 

Nos dias que se seguiram a 20 de Maio, a divisão da esquerda continuou a sua concentração em redor de Castelo de Vide, ocupando mais tarde o antigo centro da posição portuguesa, na zona de Marvão, e a do centro tendo mantido a infantaria de linha em Portalegre, mandou os batalhões de granadeiros e caçadores aproximarem-se de Alegrete, com o apoio do recém chegado regimento de Peniche. 

Estranhamente, por possível erro de D. António Soares de Noronha, o comandante da divisão da direita, ou do estado-maior do exército, por meio do ajudante-general D. Miguel Pereira Forjaz, Monforte e Assumar tinham sido abandonadas quando a divisão se concentrou em Alegrete. Parece ser um erro claro, e é assim que Neves Costa interpreta o abandono destas posições, classificando-o de "imperdoável", e de facto houve intenção de ocupá-las outra vez, por ordem de Forbes ou do duque de Lafões, mas sem sucesso. Mas pode haver aqui alguma precipitação na conclusão. Monforte só seria importante no caso de uma acção ofensiva. Num primeiro momento, tendo-se pensado atacar os espanhóis em Campo Maior para tentar introduzir um ou dois batalhões na fortaleza, Monforte seria importante como ponto de apoio do flanco direito do ataque português. Mas, no momento em que se abandonou esse projecto, Monforte deixava de ter qualquer interesse, porque ficava em campo aberto, que era o terreno que o exército do Sul não queria ocupar, de acordo com as ordens. Seria importante no caso de haver um plano ofensivo em grande escala contra o exército espanhol, plano que Garção Stockler descreve como tendo sido pensado pelo duque de Lafões. O plano é tão inverosímil, e tão contrário aos planos de campanha delineados pelo duque e tão pouco de acordo com a capacidade ofensiva do exército português, sendo possivelmente por isso nunca referido pela historiografia desta campanha, que será mais aceitável não aceitar o testemunho sempre tão pouco credível do secretário do quartel-general. 

É que, o mais importante era manter Alter do Chão que cobriria a retirada do exército, se este se quisesse dirigir de Portalegre, pelo Crato e o Gavião, para Abrantes. E para essa localidade Forbes sabia, desde dia 24, que seria ocupada pela brigada do general escocês Simon Fraser. Mantendo-se na letra e no espírito das suas ordens, Forbes manteve o grosso das suas forças atrás da linha Alter do Chão - Alter Pedroso - Alegrete, concentrando as suas forças no flanco esquerdo, nas alturas da serra de São Mamede, mantendo uma pequena guarda-avançada em Arronches, apoiada nos Mosteiros, a meio caminho entre esta localidade e o Alegrete, pela brigada de granadeiros de Bernardim Freire de Andrade. 

Por isso, de acordo com os planos, de dia 21 de Maio até dia 26 de Maio o exército do Alentejo esteve na expectativa de saber quais as intenções dos espanhóis, já que estes estranhamente se limitavam a bloquear Elvas e a atacar Campo Maior, não avançando para Norte em direcção ao exército português de campanha, confirmando-se, de certa maneira o que Godoy afirma nas suas memórias, que havia um certo receio em confrontar-se com as forças portuguesas, que tinham combatido tão bem no Rossilhão. 

Só no dia 26 é que a divisão da vanguarda espanhola levantou o acampamento que ocupava entre Campo Maior e Elvas, e se dirigiu para São Vicente continuando, no dia seguinte, a sua marcha para Barbacena, possivelmente para acompanhar a retirada das tropas portuguesas que, sob a direcção de Bernardim Freire de Andrade, tinham tentado fazer entrar reforços em Campo Maior, sem sucesso. Em Barbacena estava acampada a 2.ª divisão espanhola, de facto até aquele momento a vanguarda do exército de Godoy. 

De Barbacena, as duas divisões, que a partir de agora marchavam agrupadas, dirigiram-se para Monforte que ocuparam na noite de dia 27, ganhando assim o flanco direito daquilo que era de facto a guarda-avançada do exército do Alentejo, a força de dois batalhões de infantaria de Olivença e dois esquadrões do regimento de cavalaria de Moura, aquartelados em Arronches, sob a direcção do coronel do Carcome Lobo, comandante do 1.ª regimento de infantaria de Olivença, oficial que tinha feito a campanha do Alentejo, e que tendo ido para França em 1808, enquanto general do corpo que será compulsivamente integrado no exército francês enquanto Legião Portuguesa, combaterá na batalha de Wagram, em 1809. No dia 28 as forças espanholas acamparam a poucos quilómetros de Arronches. 

Começava assim a segunda parte da campanha do Alentejo, com o avanço da 2.ª divisão espanhola, apoiada pela divisão de Vanguarda, as únicas forças que Godoy tinha disponíveis para atacar Forbes. 

Para Godoy era urgente atacar o exército português porque, estando Forbes a concentrar-se a Sul de Portalegre e a receber constantemente reforços, era de esperar que o exército português pudesse vir a ter, num futuro não muito distante, uma força suficiente para impedir definitivamente a progressão espanhola em direcção ao Tejo. Sabemos pelas memórias de Godoy que uma ordem de Lafões para Forbes foi interceptada, possivelmente a ordem que Stockler afirma ter sido enviada pelo duque a Forbes ordenando-lhe a concentração em redor de Monforte, ordem que Forbes lhe assegurou nunca ter recebido. A ordem já não era muito importante naquele momento, e de facto Stockler mostra ao longo da sua obra ter uma grande facilidade em desvirtuar factos reais, porque o comandante do exército do Sul estava a realizar esta concentração ao redor de Alegrete, com intenções defensivas, e não de Monforte, o que implicaria ter intenções ofensivas, e tinha-se encontrado no dia 27 pessoalmente com o duque de Lafões em Alter do Chão. 

Mas a verdade é que a carta, segundo Godoy, informou o comando espanhol das intenções portugueses de contra-atacar os espanhóis, intenções que tiveram como resposta o avanço das duas divisões disponíveis para atacar o dispositivo português e desorganizar a preparação desse esperado ataque português. 

As opções de Godoy eram muito poucas. Estacionada a 2.ª divisão entre Monforte e Arronches, tinha parte da 3.ª divisão em Santa Eulália, colocada entre Arronches e Elvas, e algumas forças da 4.ª divisão em La Codosera no flanco esquerdo da posição de Arronches. Mas à sua frente, entre Assumar e Portalegre, estava a brigada de infantaria do conde de Chambords, à sua esquerda, em Alter do Chão, a brigada britânica e à sua direita a força estacionada em Arronches. A melhor solução seria tentar avançar em direcção a Portalegre, mas as suas forças eram insuficientes para atacar o centro do dispositivo português, e a empresa arriscada, porque não podendo descurar o bloqueio a Elvas não tinha forças disponíveis para um ataque no seu flanco direito. Decidiu-se naturalmente por um ataque a Arronches, já que esta força estava isolada na sua posição de guarda-avançada do exército de Forbes. Era afastar-se mais do Tejo, mas era a única que permitia o sucesso e a continuação do avanço. 

Em Arronches, como vimos, encontravam-se aquartelados na fortaleza dois batalhões de infantaria, os 1.os batalhões do 1.ª e 2.ª regimento de infantaria de Olivença, cada um com um efectivo de cerca de 300 homens, apoiados por dois esquadrões do regimento de cavalaria de Moura, com 200 efectivos, e algumas tropas do regimento de cavalaria de Évora, comandados pelo tenente-coronel Louis Auguste, conde de Leautaud, oficial que tinha feito como voluntário a campanha do Rossilhão e que desde 1795 prestava serviço no regimento. 

As ordens que D. José Carcome Lobo tinha, era de observar os movimentos espanhóis e retirar ao primeiro sinal de perigo em direcção a Alegrete, tendo o apoio dos dois batalhões de granadeiros comandados pelo brigadeiro Bernardim Freire de Andrade nos Mosteiros, a meio do caminho. 

Tendo os dois oficiais combinado as operações, Carcome ficou em Arronches onde de acordo com as ordens, enviou patrulhas a observar os espanhóis em Alegrete e Assumar. Segundo o seu relato, foi avisado pelos prisioneiros que tinham sido capturados pelas suas forças de reconhecimento de que iria ser atacado em força, na noite de 28 para 29 de Maio, por tropas vindas de Monforte e Assumar, mas também por tropas retiradas às forças de Santa Eulália e Campo Maior, o que o fazia ficar na incerteza da direcção do ataque. Um pormenor que será importante para percebermos as suas decisões tácticas. Esperando o ataque manteve as suas tropas fora da fortaleza, fazendo com que bivacassem no exterior da fortaleza, preparadas assim para o esperado ataque. Quando o dia despontou e não tendo havido ataque, decidiu fazer entrar a sua tropa na fortaleza para que descansasse, e escreveu a Freire de Andrade a informar que o "rebate tinha procedido do susto de alguns postos avançados" e que "ainda que parecesse temeridade não deixaria de ver o inimigo". A decisão tinha sido tomada depois de ter recebido ordens de D. Miguel Pereira Forjaz para se retirar para Alegrete e ocupar uma posição conveniente à direita desta vila. Há aqui, parece, desobediência a ordens recebidas, ou um protelar no cumprimento das ordens. Porquê? A sua versão é que achava que se tinha que bater primeiro já que os seus postos avançados estavam em contacto com o inimigo. Mas o que parece de facto é que o coronel Carcome achou que as forças espanholas não apareceriam em força, e que possivelmente as suas forças eram mais do que suficientes para levar de vencida os destacamentos espanhóis que o atacassem. A ideia de fazer um brilharete em Arronches, terra que o duque de Lafões usava o título de marquês, pode ter também a ver com esta decisão "de ver o inimigo" previamente. 

A verdade é que ficou, de facto, e preparou-se convenientemente. 

Na manhã do dia 29, tinha colocado as suas forças em frente à fortaleza, no Rossio de Arronches, o 1.ª batalhão do 2.ª regimento de Olivença à direita, comandado pelo major Vicente Inácio Cordeiro da Mata, oficial promovido em 1803 a tenente-coronel e que será reformado em 1806, com o 1.ª batalhão do 1.ª regimento à esquerda deste, comandado pelo tenente-coronel Aniceto Simão Borges, promovido a este posto no dia 2 de Maio, e que comandará o regimento a partir de Junho de 1806, sendo reformado em 1809, e ao lado deste batalhão os esquadrões de cavalaria. As duas peças de artilharia regimental, que estavam sob o comando do tenente de engenheiros Duarte José Fava, que em finais de 1807 será promovido a tenente-coronel e chegará a marechal de campo em Fevereiro de 1826, estavam colocadas por cima da ermida do Calvário e enfiavam a ponte romana que atravessava o rio Caia. 

Porquê nesta posição, tão mal escolhida segunda a quase totalidade dos estudiosos? Possivelmente porque não sabendo donde seria desferido o ataque, se tentou colocar numa posição central para fazer face às várias possibilidades de aproximação, já que as forças espanholas tanto podiam vir pela estrada de Campo Maior, como pela de Elvas, de Monforte ou de Assumar. De facto, parece que o coronel Carcome devia ter-se preocupado fundamentalmente com o seu flanco direito, donde tinham vindo os "rebates", mas a verdade é que tendo acabado por considerar estes acontecimentos como "sustos", prece ter desconfiado do perigo que pudesse existir vindo desse flanco. 

Enviou então o capitão graduado da companhia de granadeiros do 1.ª regimento de Olivença Vicente José Benninger, com 50 atiradores, para observar as estradas que se dirigiam para Arronches pela sua esquerda, e 24 cavaleiros comandados pelo tenente José de Sá, do regimento de cavalaria de Évora, para reconhecer os caminhos de Monforte e de Assumar, no flanco direito. 

Estes corpos de reconhecimento estiveram em contacto com as forças espanholas entre as 9 e trinta e as onze da manhã, o que mostrava que as forças espanholas estavam a aproximar-se de Arronches por vários lados, o que deve ter aumentado a dificuldade de decisão de Carcome Lobo, que se manteve por isso na mesma posição central, no Rossio de Arronches. 

Foi nessa altura que recebeu a ordem do comando do exército para recuar para a direita de Alegrete, que lhe foi entregue por um ajudante de ordens de Bernardim Freire de Andrade. Informou o oficial que seria difícil retirar naquele momento, mas começou a preparar a retirada pela estrada que o levaria aquela vila. 

E assim, apercebendo-se que era o flanco direito o que estava a ser ameaçado, mandou o batalhão do 2.ª regimento atravessar a ribeira de Arronches e colocar-se no alto de Santa Luzia em frente à ermida, tendo o rio à sua frente. Mais tarde foi a vez de marchar o batalhão do segundo regimento, que se colocou nas alturas de Santa Luzia, à direita e na retaguarda do batalhão do 2.ª regimento. Este último movimento foi acompanhado pela força de cavalaria, que rodeando as muralhas pelo lado esquerdo, atravessou a ribeira de Arronches por baixo da ponte, por onde passaria a infantaria, a montante da vila e da ponte por onde já tinha atravessado o outro batalhão, e que lhe dava acesso a um terreno aberto que lhe permitia manobrar convenientemente. 

As tropas espanholas da divisão de vanguarda puseram-se em movimento a partir das 5 da madrugada do dia 29, dirigindo-se para a Ermida de Nossa Senhora do Carmo ao encontro das tropas da 2.ª divisão. Tendo chegado à ermida, saíram às 10 horas em direcção a Arronches. À frente iam tropas da divisão da vanguarda, o 2.ª batalhão do regimento de Caçadores da Coroa, o batalhão de infantaria ligeira de Gerona, acompanhados por 2 esquadrões de hussardos e alguns atiradores do regimento de carabineiros de Maria Luísa. Desde os primeiros momentos desta marcha as tropas espanholas foram atacados pelas forças portuguesas. 

Quando os espanhóis avistaram Arronches, por volta do meio-dia e meio, tendo desembocado do planalto que liga Monforte e Arronches, e começavam a descer em direcção ao Caia e à vila, foram confrontados com a força portuguesa formada em frente à fortaleza. 

Foi quando as tropas espanholas começaram a descer em direcção ao Caia com o objectivo de atravessarem o rio pela ponte romana que, pelos relatos espanhóis, as forças portuguesas se retiraram em direcção à segunda posição, do outro lado da ribeira de Arronches. Segundo o relatório do coronel Carcome, a travessia do batalhão do 2.ª regimento parece ter-se feito anteriormente ao aparecimento do inimigo, e só o segundo movimento terá sido feito já sob os tiros da força espanhola. 

A tentativa espanhola de atravessar a ponte de pedra foi impedida pela artilharia portuguesa, mas o terreno que as peças de artilharia tinham que percorrer da primeira posição, no Rossio de Arronches, até à ermida de Santa Luzia era muito difícil, a vereda que levava do caminho circundante da fortaleza para a ponte que atravessava a ribeira de Arronches bastante estreita, e a subida para a altura onde se encontra a ermida bastante íngreme. Não é por acaso que a peça que impediu a travessia da ponte tivesse sido perdida quando tentou mudar de posição. 

Não foi notado por nenhum autor, dos contemporâneos da guerra até agora, que a segunda posição que o coronel Carcome Lobo ocupou tinha como objectivo a retirada para o Alegrete protegido pelo rio Caia, e não em direcção aos Mosteiros seguindo a ribeira de Arronches. Parece que a ordem recebida pelo coronel do 2.ª regimento de Olivença às onze horas perturbou a execução do combinado entre D. José Carcome e o brigadeiro Freire de Andrade. 

O local onde se deu o reencontro está muito pouco modificado, e o que se nota é que o terreno à direita da segunda posição ocupada pelas tropas portuguesas é relativamente livre, não havendo grande impedimento à manobra de qualquer arma, não sendo o rio Caia suficiente caudaloso, para impedir a travessia da cavalaria. 

Quando os batalhões portugueses se colocaram em posição, no alto de Santa Luzia, mantiveram uma linha de atiradores à frente do batalhão do 2.ª de Olivença, comandada pelo alferes da 10.ª companhia do regimento, Francisco da Costa Feio, mantendo-se na linha do rio Caia, tentando impedir a progressão espanhola. A posição dos atiradores portugueses não tem nada de criticável, como afirmou o capitão Neves Costa, já que o terreno era perfeitamente indicado para ser ocupado por tropas ligeiras de cobertura. De facto o problema não veio pela frente das forças portuguesas, mas sim pelo seu flanco que não estava coberto. 

A cavalaria espanhola, impedida de atravessar o Caia pela ponte romana, deslocou-se para a esquerda e a coberto da linha de atiradores espanhola que combatia as forças do capitão Benninger, que se tinha deslocado ao longo do Caia para a frente do batalhão do 2.ª regimento, ao encontro dos atiradores, atravessou o Caia, e atacou o flanco direito do batalhão do 2.ª regimento de Olivença. 

Quando a cavalaria do comando do conde de Leautaud, foi chamada a atacar os hussardos espanhóis pelos intervalos dos dois batalhões de infantaria, parece que, segundo o relato de Carcome, deu um quarto de volta e retirou. A manobra terá sido mal planeada, e este "quarto de conversão sobre a direita" fez com que a cavalaria tivesse chocado com o batalhão do 1.ª regimento de Olivença, que estava na retaguarda do 2.ª, provocando a sua completa desorganização e fuga desordenada em direcção ao campo dos Mosteiros. A história está outra vez relatada de uma maneira insuficiente. É estranho que uma força de cavalaria que tentava retirar, fugisse em direcção à força atacante. De facto a cavalaria espanhola atacava em direcção à direita portuguesa, de Norte para Sul, e segundo o relatório, a cavalaria portuguesa decidiu virar para a direita para se retirar do campo do combate, mas em direcção aos espanhóis, isto é de Sul para Norte. O que é estranho, porque não há forças que fujam em direcção ao inimigo! 

O que parece mais natural é que, após alguma hesitação, a cavalaria portuguesa tenha atacado como lhe era ordenado no intervalo que devia ser deixado pelos batalhões de infantaria à aproximação da cavalaria. Esta manobra, complexa, já que obrigava os batalhões a mudarem a sua formação de linha de batalha para uma coluna de divisões, de forma a abrirem um intervalo razoável entre os dois corpos que permitisse a passagem da cavalaria em coluna de esquadrões, ou o que era mais razoável, em coluna de companhia, "em coluna de pelotão", não deve ter sido realizada correctamente, tendo provocado o desastre. 

Pode dar-se o caso de D. José Carcome Lobo não se ter apercebido do que se passou à sua retaguarda, já que o que tinha à sua frente era suficiente para absorver toda a sua atenção, e tenha afirmado o que achou que tinha acontecido. 

A verdade é que os dois corpos chocaram, desorganizaram-se, e fugiram desordenadamente em direcção a Alegrete, tendo alguns só parado em Portalegre, deixando o 1.ª batalhão do 2.ª regimento de infantaria de Olivença isolado em frente a toda uma divisão espanhola reforçada. Carcome Lobo tentou recuar rapidamente em direcção às forças do brigadeiro Freire de Andrade, como tinha sido a sua primeira intenção, mas não conseguiu chegar organizadamente, pois debaixo do ataque constante da cavalaria espanhola, o batalhão desorganizou-se, só sendo possível reorganizá-lo no Cabeço da Capela, local onde se conseguiu colocar uma peça regimental de calibre de três, e juntar uma força de atiradores para, sob a protecção de algum arvoredo, atrasarem as forças de perseguição espanholas. O batalhão conseguiu reunir alguns soldados e sob a protecção do batalhão de granadeiros do Alentejo, que tinha sido enviado em apoio dos fugitivos e com o apoio da artilharia dos Mosteiros, retirou em boa ordem para Alegrete. 

Nesta povoação reuniram-se os 2 batalhões de granadeiros, aos 4 batalhões dos regimentos de Olivença e aos dois do regimento de Peniche, que juntos se retiraram para Portalegre, no dia seguinte. O combate de Arronches provocou entre 80 baixas, segundo o relatório de D. José Carcome, a mais de 200, de acordo com Neves Costa. As forças espanholas não terão sofrido tão pouco como se pode pensar, já que ficaram naquele local dois dias inteiros - 30 e 31 de Maio - só tendo saído no dia 1 de Junho em direcção a Portalegre.


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