As Campanhas no Brasil - 12.ª parte

 

 

Conclusão 

 

As operações militares terminaram na capitania do Rio Grande do Sul em 27 de Dezembro, com uma vitória que para a população local soube a pouco, porque não se tinha conseguido a ocupação nem dos limites acordados em 1750, nem tão pouco a conquista das chamadas "fronteiras naturais do continente": os Rios Uruguai e Prata, o que só será realizado entre 1816 e 1820 na luta contra o caudillo uruguaio Artigas, com a participação de muitos dos actores de 1801. Mas, a verdade é que para os homens que a dirigiram, quase todos membros das comissões de demarcação, a guerra teve o condão de, como esperavam, permitir assentar a fronteira em limites muito mais claros, mas também defensáveis, do que os estabelecidos em 1777, porque baseados quase exclusivamente em linhas fluviais conhecidas.

 

Milicias a Cavalo

© AHM

Milícias a Cavalo do Rio Grande do Sul

Em 1801 foram incorporados no Brasil, na capitania do Rio Grande, a região dos Sete Povos das Missões, o território entre os rios Jaguarão e Piratni, a margem direita do rio de Santa Maria até a São Gabriel, os territórios neutrais na costa, e em Mato Grosso toda a zona entre os afluentes do Paraguai rio Branco e rio Apa, o território que o Paraguai independente pretendeu reaver no decurso da Guerra da Tríplice Aliança de 1865 a 1870. 

Mas, se de facto a vitória não foi tão completa como se desejava, a sucessão de vitórias durante a Guerra de 1801 no Brasil é um facto assinalável que faz jus à acção do ministro dos Domínios Ultramarinos e Marinha, D. Rodrigo de Sousa Coutinho, mas sobretudo ao governador da capitania, o tenente-general Sebastião da Veiga Cabral da Câmara e aos seus subordinados. Não se pode deixar de falar da acção dos oficiais e soldados das Milícias a cavalo do Rio Grande, presentes activamente, e normalmente de uma maneira determinante, em quase todas as acções da campanha. Esta elite social e económica da capitania foi a que mais longe quis ir na conquista das "fronteiras naturais", mostrando ter uma visão imperial clara, que estava em total sintonia com a parte da elite governativa portuguesa que defendia essa solução - os continuadores da política brasileira do marquês de Pombal. 

Nestes milicianos gaúchos não se pode descurar a acção dos dois "bandoleiros", como algumas fontes os chamam, Borges do Canto e Manuel Pedroso, açoriano um e cabloco o outro que com um pouco mais de 100 homens conseguiram, possivelmente de uma maneira mais fácil do que seria de esperar, conquistar uma imensa região de uma forma que está longe de ser por pura sorte, já que é patente que a ideia de enviar estes dois grupos pertence por inteiro não só ao coronel Correia da Câmara, como também ao governador Veiga Cabral. Esta capacidade dos dirigentes coloniais portugueses da época, fidalgos beirões e transmontanos na sua maior parte, de adaptarem os seus planos e as suas acções aos recursos efectivamente existentes é uma característica pouco salientada neste e noutros casos, até porque os primeiros historiadores brasileiros enfatizaram a maravilhosa aventura gaúcha em detrimento da fria planificação militar. O que é interessante neste episódio é a ligação das duas na prossecução do mesmo objectivo, e do mesmo sonho imperial claramente entendido e ansiado pelas duas partes. Não é por acaso que a quase totalidade dos dirigentes coloniais portugueses nesta guerra de 1801, fará parte integrante da elite dirigente do novo país que ajudaram criar, ao determinar-lhe as fronteiras e dando-lhe o desejo de expansão e de domínio do continente que o Brasil mostrou ter ao longo dos séculos dezoito e dezanove, enquanto colónia e depois já país independente. 

A estrutura de governo e comando do império português tinha-se mostrado bem preparada para a guerra, com uma estratégia bem definida, sem ser rígida, dando ampla liberdade de acção na execução dos planos às autoridades locais; mas a estrutura militar criada por ordem do marquês de Pombal após a Guerra dos Sete Anos, com o envio do brigadeiro Funck para criar uma estrutura militar em tudo igual à de Portugal, com base em forças de primeira linha e milícias, apoiadas num sistema de recrutamento tendo como base os capitães-mores de Ordenanças nomeados em cada município, também provou servir os seus propósitos. 

O exército do Brasil, criado com o apoio de cinco regimentos de infantaria portugueses, enviados para a colónia em 1763 e 1776, deu boa conta de si na primeira vez que de facto actuou sem qualquer apoio da metrópole.


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