Carta de um velho a um novo, de Ramalho Ortigão2
«A obra liberal de 1834 foi inteiramente semelhante à obra republicana de 1910. Nos homens dessas duas invasões é idêntico o espírito de violência, de anarquismo e de extorsão.»
Esta Carta de Ramalho Ortigão a João do Amaral, escrita um ano antes da sua morte, representa uma espécie de testamento político do autor, um dos poucos representantes da Geração de 70 e do Grupo dos Vencidos da Vida ainda vivo na altura, mas é também, para além da expressão clara das dúvidas que a Geração de 70 tinha tido em relação ao movimento republicano, de que todos os seus principais membros se foram afastando progressivamente, a passagem de testemunho dos ideais da «Vida Nova» para o «Integralismo Lusitano» recém-nascido, e de que o receptor da carta era um dos fundadores, o que possivelmente foi um acto de legitimidade duvidosa. De facto, havia pontos de contacto entre os dois grupos, sobretudo na proposta de acabar com o parlamentarismo vigente, visto como fonte de todos os males políticos, na concentração do poder no executivo, com a tentativa de descoberta de um «César», que no futuro, como se sabe, vai aparecer, de uma forma não prevista, com a designação de «Duque» e «Chefe», e que em Portugal vai ter, pela pena de Fernando Pessoa, logo em 1919, a designação ainda pouco elaborada de «Presidente-Rei» que o poeta atribuiu a Sidónio Pais, e finalmente naquilo que era a difusa defesa do «portuguesismo». Mas os ideais da «Vida Nova» não são necessariamente pertença exclusiva da direita portuguesa, já que também influenciaram decididamente a esquerda portuguesa, por intermédio, sobretudo, de António Sérgio. Na verdade, a proposta de educação das classes «baixas», que possibilitasse a instauração da democracia num futuro mais ou menos longínquo, é comum à «Vida Nova» e a toda a esquerda portuguesa que estava muito longe, desde o aparecimento do republicanismo, de aprovar a instauração da democracia em Portugal, como, de facto, nunca o praticou de 1910 a 1926, e até pelo menos aos anos 60 do século XX nunca o defendeu. Meu jovem
camarada e amigo: Pede-me V.
um artigo para o seu jornal A Restauração3. Esse pedido eu o agradeço e me apresso a satisfazê-lo
porque o considero um testemunho de solidariedade e de simpatia prestado pela
sua valorosa e combativa geração, que é a geração dos meus netos, à
encanecida e aposentada geração a que eu pertenço. A orientação
mental da mocidade contemporânea comparada à orientação dos rapazes do meu
tempo estabelece entre as nossas respectivas celebrações uma diferença de nível
que desloca o eixo do respeito na sociedade em que vivemos obrigando a elite
dos velhos a inclinar-se rendidamente perante a elite dos novos. Em face da
batalha de sentimentos e de ideias no conflito português dos nossos dias
entendo que à ala dos veteranos cabe o dever marcial de apresentar as suas
antigas armas a essa nova ,ala de namorados, que se não batem já pelo perecível
prestígio da sua dama mas pela beleza imortal da sua convicção, e batem-se
não em combate fortuito, de torneio de gala, mas em pugnas regulares e
sucessivas em que quotidianamente arriscam os seus interesses, a sua liberdade
e a sua vida os redactores dos modernos jornais monárquicos e os de publicações
periódicas de tão considerável importância filosófica e educativa como a Lusitânia,
a Nação Portuguesa, Aqui
d'El-Rei, os Cadernos de Mariotte,
a Alma Portuguesa, a Crónica Política,
a Entrevista,4
etc. A incontestável
superioridade dessa plêiade estudiosa consiste em ter admiravelmente
pressentido a necessidade culminante da reeducação integral do povo português. Combater
apenas o analfabetismo do povo por meio de escolas primárias e de escolas
infantis sem religião e sem Deus, não é salvar uma civilização, é derruí-la
pela base por meio do pedantismo da incompetência, da materialização dos
sentimentos e do envenenamento das ideias. Quem ignora hoje que foi a perseguição
religiosa e o domínio mental da escola laica o que retalhou e fraccionou em
França a alma da nação? Quem é que nesse tão amado, tão generoso e tão
atribulado país não está vendo hoje objectivar-se praticamente o profético
aforismo de Le Bon:
«É sobretudo depois de destruídos os deuses que se reconhece a utilidade
deles»! Quanto é
comovente e elucidativo comparar as nossas modernas instituições com o
quadro da evolução da terceira República francesa ainda há pouco delineado
por Paul Bourget5,
o eminente pensador de quem disse Anatole6:
«Ele é o mais filósofo de todos nós». «Como não
cotejar – escrevia muito recentemente Bourget – o programa da terceira República,
idealizado por tantos patriotas sinceros, com o quadro da nossa presente decadência!
Um parlamento tão impotente como desonrado; costumes públicos dia a dia mais
degradados; a perseguição religiosa alternativamente a mais brutal e a mais
hipócrita; um corpo de mestres envenenando as gerações novas, essa reserva
viva do futuro, por meio de um ensino de demissão colectiva e de nefasta
utopia; o exército sistematicamente corrompido pela política, humilhado em
trabalhos de baixa política, enfraquecido pelo sobrelanço eleitoral, a ponto
de que os chefes mais respeitados desaparecem para não serem cúmplices de um
atentado contínuo contra a defesa nacional; a guerra social incessantemente
prestes a rebentar em episódios sangrentos; a anarquia moral precedendo e
anunciando a anarquia civil e administrativa, cujos pródromos são sensíveis
por toda a parte... Enfim, para que prolongar este paralelo entre a República
tal como ela funciona, como não poderia deixar de funcionar; e a República
tal como a sonharam os melhores dos nossos antepassados?» Em Portugal
somos hoje um povo medonhamente deseducado pela inepta pedagogia que nos
intoxica desde o princípio do século XIX até os nossos dias. O Marquês
de Pombal teve a previsão desta crise quando por ocasião da expulsão dos
jesuítas ele procurou explicar que o aniquilamento da Companhia de Jesus não
decapitaria a educação nacional porque os eruditos padres da Congregação
do Oratório7 vantajosamente substituiriam como educadores os
jesuítas expulsos. Com a influência
intelectual dos oratorianos, introdutores do espírito criticante de Port
Royal8 na renovação da mentalidade portuguesa, condisse
realmente o advento de um dos mais brilhantes períodos da nossa erudição. Vieram, porém,
mais tarde os revolucionários liberais de 34, os quais condenaram, espoliaram
e baniram os padres da Congregação do Oratório como Pombal espoliara e
banira os padres da Companhia de Jesus. A obra
liberal de 1834 – convém nunca o perder de vista – foi inteiramente
semelhante à obra republicana de 1910. Nos homens dessas duas invasões é idêntico
o espírito de violência, de anarquismo e de extorsão. Dá-se todavia entre
uns e outros uma considerável diferença de capacidade. Os de 34,
de que faziam parte Herculano,
Garrett
e Castilho9, eram espíritos oriundos
da Academia da História, da
livraria
das Necessidades10 e do
colégio de S.
Roque11. Tinham tido
por mestres ou por companheiros de estudo homens tais como António
Caetano de Sousa, o autor da História
Genealógica; Barbosa
Machado,
o autor da Biblioteca Lusitana; Bluteau
e os colaboradores do seu Vocabulário; Santa
Rosa de Viterbo, o autor do Elucidário; João Pedro
Ribeiro, o admirável erudito
iniciador dos altos estudos da nossa história e precursor de Herculano; António
Caetano do Amaral, o infatigável investigador da História
da Lusitânia; D. Frei Caetano Brandão,
seguramente o mais elevado espírito e a mais formosa alma que deitou o século
XVIII em Portugal; o padre Cenáculo, o mais
prodigioso semeador de bibliotecas; o padre António
Pereira de Figueiredo, o autor do famoso Método
de Estudar; Félix de Avelar
Brotero,
o insigne naturalista; o polígrafo abade Correia da
Serra, e outros que não menciono porque teria de reproduzir um copioso
catálogo se quisesse dar mais completa ideia do que foi a cultura portuguesa
nessa fase da nossa evolução literária. Os novos
revolucionários de 1910, com excepção honrosa dos que não sabem ler, não
tiveram por decuriões senão os seus predecessores revolucionários liberais
de 34. E daí para trás - o que quer dizer daí para cima - nunca abriram um
livro com medo da infecção clerical, porque todos eles acreditam com
fetichistico ardor que o clericalismo é o inimigo, segundo a fórmula
célebre com que o príncipe de Bismarck12
conseguiu sugestionar Gambetta13
para a irremediável desmembramento moral da França. Tal a razão
por que os raros homens de letras que a nossa República conseguiu mobilizar
dia a dia se desagregam da hoste refugiando-se no anacoretismo filosófico14,
enojados da crassa ignorância dos sarrafaçais a que o regime os emparelhou.
Como Nietzsche15, perante a grosseira petulância
da Alemanha depois da hegemonia que lhe conferiu a vitória de 1870, os
desiludidos da República Portuguesa apetecem, como requeria Nietzsche, que se
criem novos ermitérios onde os homens que pensam se enclausurem e se separem
para todo sempre dos homens que governam. Atolados há
mais de um século no mais funesto dos ilogismos políticos, esquecemo-nos de
que a unidade nacional, a harmonia, a paz, a felicidade e a força de um povo
não têm por base senão o rigoroso e exacto cumprimento colectivo dos
deveres do cidadão perante a inviolabilidade sagrada da família, que é a célula
da sociedade; perante o culto da religião, que é a alma ancestral da
comunidade, e perante o culto da bandeira, que é o símbolo da honra e da
integridade da Pátria. Em pleno século XX, muito depois de inteiramente
refutada pela moderna crítica histórica a supersticiosa lenda da Revolução
Francesa, revolucionámo-nos nós para o fim de abolir todos esses velhos
deveres e de adoptar como um evangelho novo a estafada, ensanguentada e
enlameada Declaração dos Direitos do Homem,
como se à frágil e efémera criatura humana fosse lícito invocar qualquer
espécie de direitos perante as leis inexoráveis e eternas que
implacavelmente regem toda a ordem universal! E para o fim de pormos em plena
evidência essa ilusão retórica aclamamos uma sexta República nova dezenas
de anos depois de sucessivamente abolidas as outras cinco a cuja existência
deu origem o extinto prestígio da Revolução, e das quais nem sequer já
sobrevivem os nomes. Quem se lembra hoje do que foram a Batávica,
a Cisalpina, a Ligúrica
ou a Partenopeia?16 Quebramos
estouvadamente o fio da nossa missão histórica. Desmoralizamo-nos,
enxovalhamo-nos, desaportuguesamo-nos. Pelos
processos improvisados e caóticos em que vivemos sucessivamente nos
desenraizamos do torrão paterno, desandando e retrocedendo da ordem
ascendente e lógica de toda a evolução social, principiando por substituir
o interesse da Pátria pelo interesse do partido, depois o interesse do
partido pelo interesse do grupo e por fim o interesse do grupo pelo interesse
individual de cada um. É a marcha da dissolução marcha rapidíssima para o
aniquilamento, porque é inteiramente aplicável à vida social a lei biológica
de que toda a decomposição orgânica dá origem a seres parasitários cuja
função é acelerar e completar a decomposição. Escrevo
estas linhas em face da mais pavorosa onda de sangue e de lágrimas que parece
encapelar-se das profundidades do desconhecido para subverter o mundo. Perante
um tão descomunal conflito de violência e de força parece-me indubitável
que o desfecho da actual conflagração europeia não poderá ser senão a
refutação absoluta do dogma democrático da liberdade, da igualdade e da
fraternidade humana. A lição final da guerra será na humanidade assim como
o é na natureza o simples triunfo implacável do que pode mais sobre o que
pode menos. Não nos
precipitemos a amaldiçoar a brutalidade de um tal destino enquanto não
reflectirmos no que é realmente a força e de que natureza são os tão
complexos elementos integrados nesse fenómeno global. De quantos
vícios e de quantas farroncas se compõe uma fraqueza? De quantas virtudes
ignoradas e recônditas se constitui uma força humana? Bem exíguo,
bem frágil, bem desacompanhado do mundo era o pequeno Portugal que no espaço
de cem anos, entre o século XV e o século XVI, se assenhoreou no globo de um
império territorial e marítimo consideravelmente superior àquele a que
aspira a hegemonia germânica dos nossos dias. À ponta da
espada Portugal submeteu nada menos de trinta e três reinos, a que ditou a
lei e que tornou tributários do seu soberano; dilatou o domínio português
às mais vastas regiões da Ásia e da América, deixando ainda aos seus
missionários e aos seus portadores de civilização através do mundo o tempo
e a serenidade precisa para concomitantemente escreverem doze gramáticas e
dezassete dicionários de línguas orientais até então desconhecidas, além
de muitas dezenas de obras. diversas, por meio das quais, antes de mais ninguém,
ele ensinou à Europa a geografia física e a geografia política do Oriente e
da África. Porquê?
Porque pelas virtudes guerreiras dos seus navegadores e dos seus soldados,
pelo saber dos seus letrados e dos seus monges, pela disciplina do seu povo,
pelo exemplo dos seus Reis no campo de batalha, a Portugal coube então o
privilégio desse direito que tanto nos confrange quando exercido pelos outros
– o direito da força. Defenda-nos
Deus por sua misericórdia da hora de perigo nacional em que tenhamos de
perguntar onde estão os descendentes e os representantes dos antigos homens
de Ourique, de Aljubarrota, de Ceuta e de Diu. Bem sei que
nesse transe o actual Chefe do Estado17
será
bastante competente para desembainhar a sua espada de guerra e de justiça,
abotoar a sua sobrecasaca de comparecer e proclamar às tropas que, através
da batalha, no caminho do dever e da honra elas sigam os oito reflexos do seu
mavórcio e reluzente chapéu alto. Presumo que
S. Ex.ª é tão idoso como eu. Creio porém que esta circunstância em nada
alterará o belo gesto patriótico que confiadamente espero do seu valor.
Quando a Pátria chame às armas os seus filhos, que importa a idade! Não são
os mais ou menos breves dias que cada um tem para existir o que a Pátria nos
requer, é simplesmente a vida, a vida do indivíduo, que é da raça e da nação
que o criou, assim como a seiva da árvore é da terra .em que vive. De cabelos
brancos – ruços, como diz Azurara – eram
todos os chefes militares da expedição de Ceuta. No Conselho que D. João I
reuniu em Torres Vedras para expor o seu plano de conquista, João
Gomes da Silva, notando que todas as cabeças eram brancas, exclamou: Quando
eu, Senhor, não sei al que diga senão – ruços além! O que
equivalia a dizer: Avante os velhos! E foi com
esse entusiástico grito de guerra que se levantou o Conselho. Mais tarde,
quando no Porto o Infante D. Henrique recebia os contingentes da expedição,
os batalhões dos besteiros com os seus anadéis, as levas dos concelhos e as
mesnadas dos fidalgos, apresentou-se-lhe, à frente dos seus homens, o meu
conterrâneo Aires Gonçalves de Figueiredo,
que então contava noventa anos de idade, e vestia as armas de ponto em
branco, lança em punho, cota resplandecente ao sol, pluma do elmo ondulando
ao vento. Notando o
Infante a desproporção entre o cansaço dos seus dias e o esforço do seu ânimo,
Aires Gonçalves respondeu: – Sei bem
que estou mais para morrer que para batalhar, mas fui companheiro de armas de
El-Rei vosso pai e as exéquias que para mim mais desejo são as de ter
acabado combatendo ao seu lado. Assim se
passavam as coisas no tempo em que havia reis e vassalos, ricos-homens,
cavaleiros, peões e besteiros, prelados e monges, mosteiros e solares,
estradas com cruzeiros e igrejas com santos. Não
calculo bem como em análoga contingência as coisas passariam hoje ou como
passarão amanhã sob a égide de um governo aperfeiçoado, em companhia dos
seus senadores, dos seus deputados, dos seus ministros, dos seus
livres-pensadores, dos seus pedreiros-livres e da sua formiga branca. E com esta
incerteza me recolho ao meu buraco – in angello cum libello. Adeus,
meu amigo. Lembre-me afectuosamente a todos os seus esforçados companheiros
de luta e a todos comunique o estreito e comovido abraço que lhe envia o seu
dedicado confrade.
Cascais, 7
de Setembro de 1914. Notas: 1.
De pé: Conde de Sabugosa, Carlos Mayer,
Carlos Lobo de Ávila, Oliveira
Martins, marquês de Soveral,
Guerra Junqueiro e conde de
Arnoso; sentados:
Ramalho Ortigão, Eça de
Queirós, conde de Ficalho e António
Cândido. 2.
Carta dirigida a João do Amaral e publicada no diário A Restauração,
de Homem Cristo, Filho. (Nota dos Editores). 3. A Restauração, jornal monárquico, existiu em 1914 por pouco tempo, e foi dirigido por Francisco Manuel Homem Cristo, conhecido por Homem Cristo Filho (1892-1928), por ser filho do famoso polemista homónimo, que por uns tempos foi apelidado de Homem Cristo Pai (1860-1943) 4.
A Lusitânia - Revista Católica Mensal, dirigida por Manuel
Gonçalves Cerejeira (1888-1977), o futuro Cardeal Patriarca, tinha tido o seu
primeiro número em Janeiro de 1914; a Nação Portuguesa, dirigida
por Alberto Monsaraz (1889-1959), tinha saído em Abril de 1914; o Aqui d’El-Rei,
começou a sua divulgação como panfleto publicado por João do Amaral
(1893-1981) em Fevereiro de 1914, mas saíram pelo menos mais dois números; os
Cadernos
de Mariotte, cujo título correcto era Os Meus Cadernos, eram
publicados em Paris desde 1913 por Amadeu de Vasconcelos (1879-1952), que
utilizava o pseudónimo Mariotte; a Alma Portuguesa - Órgão do
Integralismo Lusitano, dirigida por Domingos de Gusmão Araújo
(1889-1959), era publicada em Braga desde Maio de 1913; a Crónica Política
de Aníbal Soares(1882-1925), tinha começado a sair em Abril de 1914,
continuando a sua Crónica do Exílio, publicada em Paris e de que
tinham saído 36 números, de Outubro de 1912 a Outubro de 1913; a Entrevista
sem santo nem senha, era redigida por Joaquim Leitão (1875-1956) 5.
Paul Bourget (1852-1935). Escritor francês que teve uma grande influência
nas letras francesas no período anterior ao naturalismo, contra o qual
reagiu, era o representante da tradição e da ordem moral, o que o levaria a
adoptar, mais tarde, as doutrinas da Action Française. 6.
Anatole France (1844-1924). Escritor francês, socialista militante e um dos
fundadores do jornal L'Humanité, era o tipo perfeito do intelectual
diletante de finais do século XIX. Foi Prémio Nobel de Literatura em
1921. 7. Congregação de padres seculares fundada em Roma, em 1575, por São Filipe Nery - «o profeta da alegria cristã». Introduzida em Portugal no reinado de D. João V, dedicava-se ao serviço paroquial e à predicação, tendo em atenção as necessidades espirituais e materiais da juventude, dedicando-se por isso ao ensino e ao apostolado entre os jovens. Teve um papel importante na reforma católica nos séculos XVII e XVIII. 8. Abadia feminina criada em 1204, tornou-se a partir de 1636, sob a direcção de Jacqueline Arnauld (1591-1661) - a célebre Madre Angélica - o centro da defesa do jansenismo, doutrina que defendia o poder da predestinação divina e da necessidade de uma moral austera, ao contrário da teoria do livre-arbítrio, defendida pelos jesuítas, que aceitava a possibilidade da rejeição humana da graça divina. Ramalho Ortigão refere-se ao chamado segundo jansenismo, animado pelo oratoriano francês Pasquier Quesnel que publicou em 1667 umas Reflexões morais, condenadas por um breve do papa Clemente XI de 1708, que provocou a expulsão das religiosas e a destruição da abadia de Port Royal, por ordem de Luís XIV. 9. Alexandre Herculano (1810-1877), Almeida Garrett (1799-1854) e António Feliciano de Castilho(1800-1875) são os principais autores da primeira geração romântica.10. A «livraria», ou biblioteca, das Necessidades era uma biblioteca pública que servia o hospício da Congregação do Oratório, doado por D. João V em 1747, e onde se leccionava Doutrina Cristã, Gramática, Retórica, Teologia Moral e Filosofia, assim como aulas práticas de Física. Tornou-se no reinado de D. José I a escola preparatória preferida para os filhos dos altos dignitários da Corte. 11. O Colégio de S. Roque, era o colégio dos noviços da Companhia de Jesus. 12. Otto von Bismarck (1815-1898) foi primeiro-ministro da Prússia de 1862 a 1890, acumulando a partir de 1871 com a função de Chanceler da Alemanha. A política de reforço do poder executivo, com controlo do parlamento de Berlim, aliada a uma política social avançada para a época, era um bom exemplo para Oliveira Martins e seus amigos. 13. Léon Gambetta (1838-1882), proclamou a república após a derrota de Sedan, durante a Guerra Franco-Prussiana de 1870-71, acabando assim com o regime imperial de Napoleão III, foi Presidente do Conselho de Ministros francês de 1881 a 1882. 14. Os Anacoretas eram religiosos, ou penitentes, que viviam em solidão, entregues à vida contemplativa. 15. Friedrich Nietzsche (1844-1900), filósofo alemão que defendeu que com a morte de Deus, era necessário um super-homem que fizesse a metamorfose dos valores, foi autor de o Crepúsculo dos Ídolos, publicado em 1891. 16. A República Batava, tinha sido instituída nas Províncias Unidas (Holanda) pelo exército francês invasor e existiu de 1795 a 1806, quando se converteu no Reino da Holanda e foi entregue a Luís Bonaparte, irmão de Napoleão Bonaparte, imperador dos franceses; a República Cisalpina foi criada por Napoleão Bonaparte em 29 de Junho de 1797, tendo dado origem em 1802 ao Reino de Itália, governado por Eugene de Beauharnais enquanto vice-rei do próprio Napoleão; a República Ligúrica também foi criada por Napoleão Bonaparte, em 22 de Maio de 1797 e anexada ao Império francês em 1802; a República Partenopeia existiu em Nápoles de Janeiro a Junho de 1799. 17. Manuel de Arriaga (1840-1917) presidente da república eleito em 24 de Agosto de 1911 será obrigado a resignar em 26 de Maio de 1915, devido ao golpe revolucionário do dia 13 de Maio anterior. Fonte: Ramalho Ortigão, Últimas Farpas, Lisboa, Clássica Editora, 1964, págs. 209 - 220. |
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